São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2007

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Pan-07 descumpre promessa de 2002

A 50 dias da abertura do evento, arenas ainda estão em obras, o que contraria acordo definido no ato da escolha do Rio

Apesar do estouro tanto nos gastos quanto nos prazos, hoje nenhum dos 15 locais que irão abrigar as provas poderia receber atletas e fãs


SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Tudo pronto para o Pan. Assim a Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana), entidade que controla os esportes nas Américas, esperava que o Rio estivesse hoje. Em 2002, ao ganhar o direito de sediar a competição, os organizadores se comprometeram com os dirigentes da entidade de entregar todas as arenas prontas 50 dias antes do início do evento. O Pan começará em 13 de julho.
Apesar da promessa dos brasileiros, o cenário é bem diferente. Hoje nenhum dos 15 lugares que abrigarão provas teriam condições de receber atletas e torcida. Todas as obras estão atrasadas, e algumas protagonizam situações inusitadas.
A arena multiuso erguida dentro do autódromo de Jacarepaguá é a que mais chama a atenção. Após consumir quase R$ 115 milhões da Prefeitura do Rio, o ginásio está praticamente pronto, mas não há hoje como o torcedor chegar ao local.
Por um acordo do município com a CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo), a pista do autódromo tem que ser preservada. A arena, com capacidade para 15 mil, pessoas fica localizada no meio do circuito.
Para levar os torcedores ao moderno ginásio, a prefeitura está improvisando uma rota. Há semanas operários constroem uma passarela provisória, que será usada durante o Pan. A estrutura custará R$ 1,2 milhão aos cofres municipais.
Segundo a Secretaria Municipal de Obras, a passarela deve ficar pronta até o final de junho, e a Prefeitura do Rio estuda a construção de uma estrutura permanente, após o término do contrato (de dez meses).
Além do Complexo Esportivo do Autódromo, que terá também um parque aquático e um velódromo, os locais de disputa do Pan são atualmente imensos canteiros de obras. O Maracanã, o Estádio Olímpico João Havelange e o Complexo Esportivo de Deodoro reúnem centenas de operários.
Na semana passada, o Mundial militar de pentatlo moderno foi realizado em Deodoro com muito por fazer. Até os atletas declararam que temiam que o Pan começasse sem o complexo estar pronto.
No Maracanã, que será palco da abertura dos Jogos, operários ainda erguem a última rampa de acesso. Já o Maracanãzinho funciona em três turnos para ficar pronto em julho.
Os prazos de todas as obras estouraram, e os custos também. O orçamento público dos Jogos aumentou 684% em relação ao de 2002. Há cinco anos, a União, o Estado e o município do Rio de Janeiro afirmaram por escrito que, juntos, gastariam R$ 409 milhões (em valores atualizados pela inflação). A conta hoje é de R$ 3,2 bilhões.
O desembolso da União se multiplicou quase por 11 (de R$ 138 milhões para R$ 1,5 bilhão, crescimento de 987%). A fatia da prefeitura pulou de R$ 239 milhões para R$ 1,2059 bilhão (404%). Já o Estado, o nanico do Pan, saltou de R$ 31 milhões para R$ 500 milhões (1.513%).
A explosão orçamentária levou vereadores do Rio a aprovarem uma CPI para investigar os Jogos. No pedido, que teve assinatura de 17 vereadores, os parlamentares alegavam que pretendiam apurar supostas irregularidades nas obras, equipamentos e contratos firmados pela Prefeitura do Rio.
""Só posso dizer que foi proposital. Dinheiro nunca faltou. Nada justifica o atraso. Todos são responsáveis, até a Odepa, que vistoriava o Rio e dizia que estava satisfeita", disse o vereador Stepan Nercessian (PPS).
O Co-Rio (comitê organizador do evento), o governo federal e a Prefeitura do Rio não comentaram sobre o descumprimento do prazo estabelecido pela Odepa. Em nota oficial, a entidade informou que o ""Comitê Executivo da Odepa esteve reunido no Rio de Janeiro em março e aprovou o cronograma de obras das instalações para a realização dos Jogos".
No dia 11, o presidente do Co-Rio, Carlos Arthur Nuzman, informou que não temia pela conclusão das obras.
A reportagem enviou perguntas, por e-mail, para o prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), e para a Sepan, secretaria responsável pelos gastos federais no Pan-07, sem obter resposta. ""Assumimos o governo há pouco e estamos tentando acertar a escola de samba na avenida", disse o secretário de Esporte, Turismo e Lazer do Rio, Eduardo Paes.
Procurada, a Odepa não respondeu às chamadas da Folha.


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