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Pan-07 descumpre promessa de 2002
A 50 dias da abertura do evento, arenas ainda estão em obras, o que contraria acordo definido no ato da escolha do Rio
Apesar do estouro tanto nos gastos quanto nos prazos, hoje nenhum dos 15 locais que irão abrigar as provas poderia receber atletas e fãs
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Tudo pronto para o Pan. Assim a Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana), entidade que controla os esportes
nas Américas, esperava que o
Rio estivesse hoje. Em 2002, ao
ganhar o direito de sediar a
competição, os organizadores
se comprometeram com os dirigentes da entidade de entregar todas as arenas prontas 50
dias antes do início do evento.
O Pan começará em 13 de julho.
Apesar da promessa dos brasileiros, o cenário é bem diferente. Hoje nenhum dos 15 lugares que abrigarão provas teriam condições de receber atletas e torcida. Todas as obras estão atrasadas, e algumas protagonizam situações inusitadas.
A arena multiuso erguida
dentro do autódromo de Jacarepaguá é a que mais chama a
atenção. Após consumir quase
R$ 115 milhões da Prefeitura do
Rio, o ginásio está praticamente pronto, mas não há hoje como o torcedor chegar ao local.
Por um acordo do município
com a CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo), a
pista do autódromo tem que ser
preservada. A arena, com capacidade para 15 mil, pessoas fica
localizada no meio do circuito.
Para levar os torcedores ao
moderno ginásio, a prefeitura
está improvisando uma rota.
Há semanas operários constroem uma passarela provisória, que será usada durante o
Pan. A estrutura custará R$ 1,2
milhão aos cofres municipais.
Segundo a Secretaria Municipal de Obras, a passarela deve
ficar pronta até o final de junho, e a Prefeitura do Rio estuda a construção de uma estrutura permanente, após o término do contrato (de dez meses).
Além do Complexo Esportivo do Autódromo, que terá
também um parque aquático e
um velódromo, os locais de disputa do Pan são atualmente
imensos canteiros de obras. O
Maracanã, o Estádio Olímpico
João Havelange e o Complexo
Esportivo de Deodoro reúnem
centenas de operários.
Na semana passada, o Mundial militar de pentatlo moderno foi realizado em Deodoro
com muito por fazer. Até os
atletas declararam que temiam
que o Pan começasse sem o
complexo estar pronto.
No Maracanã, que será palco
da abertura dos Jogos, operários ainda erguem a última
rampa de acesso. Já o Maracanãzinho funciona em três turnos para ficar pronto em julho.
Os prazos de todas as obras
estouraram, e os custos também. O orçamento público dos
Jogos aumentou 684% em relação ao de 2002. Há cinco anos, a
União, o Estado e o município
do Rio de Janeiro afirmaram
por escrito que, juntos, gastariam R$ 409 milhões (em valores atualizados pela inflação). A
conta hoje é de R$ 3,2 bilhões.
O desembolso da União se
multiplicou quase por 11 (de R$
138 milhões para R$ 1,5 bilhão,
crescimento de 987%). A fatia
da prefeitura pulou de R$ 239
milhões para R$ 1,2059 bilhão
(404%). Já o Estado, o nanico
do Pan, saltou de R$ 31 milhões
para R$ 500 milhões (1.513%).
A explosão orçamentária levou vereadores do Rio a aprovarem uma CPI para investigar
os Jogos. No pedido, que teve
assinatura de 17 vereadores, os
parlamentares alegavam que
pretendiam apurar supostas irregularidades nas obras, equipamentos e contratos firmados
pela Prefeitura do Rio.
""Só posso dizer que foi proposital. Dinheiro nunca faltou.
Nada justifica o atraso. Todos
são responsáveis, até a Odepa,
que vistoriava o Rio e dizia que
estava satisfeita", disse o vereador Stepan Nercessian (PPS).
O Co-Rio (comitê organizador do evento), o governo federal e a Prefeitura do Rio não comentaram sobre o descumprimento do prazo estabelecido
pela Odepa. Em nota oficial, a
entidade informou que o ""Comitê Executivo da Odepa esteve reunido no Rio de Janeiro
em março e aprovou o cronograma de obras das instalações
para a realização dos Jogos".
No dia 11, o presidente do Co-Rio, Carlos Arthur Nuzman, informou que não temia pela
conclusão das obras.
A reportagem enviou perguntas, por e-mail, para o prefeito do Rio, Cesar Maia
(DEM), e para a Sepan, secretaria responsável pelos gastos federais no Pan-07, sem obter
resposta. ""Assumimos o governo há pouco e estamos tentando acertar a escola de samba na
avenida", disse o secretário de
Esporte, Turismo e Lazer do
Rio, Eduardo Paes.
Procurada, a Odepa não respondeu às chamadas da Folha.
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