São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

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JUCA KFOURI

Eles são tão bons como nós

Só se surpreendeu com o hexa do Boca quem quis. Ou quem cria todo um folclore em torno dos argentinos

A ESCOLA de futebol argentina é tão boa como a nossa.
Perde em quantidade, por razões óbvias dadas as respectivas populações. E leva vantagem, por exemplo, na compreensão dos esquemas táticos.
A razão é simples: os jogadores argentinos têm um nível cultural bem acima do dos nossos.
Eles sabem, por exemplo, a diferença que há entre o estilo gaúcho, o carioca, o paulista e o nortista de jogar. Distinguem Belém de Porto Alegre e sabem que o Maracanã é no Rio de Janeiro, não em São Paulo ou em Belo Horizonte.
Já os nossos nem sequer sabem a diferença entre Córdoba e Mar del Plata e imaginam que a Argentina se resuma a Buenos Aires. Isso faz diferença.
Sim, porque é fundamental saber onde você mete seu nariz e sua chuteira, em que lugar você está e por que é ali e não acolá.
Daí não ser surpreendente mais uma vitória do Boca Juniors na Libertadores, não apenas a vitória no embate com o Grêmio.
Mais uma, porque se soma aos triunfos contra o Santos (5 a 1 no placar agregado, diferença pouca para os 5 a 0 com o Grêmio), Palmeiras (decisão só nos pênaltis -deu-se melhor o alviverde), Corinthians, Paysandu, Vasco, Flamengo, Galo e Cruzeiro, duas vezes.
Que o Boca sobrou nos dois jogos, na Bombonera e no Olímpico, contra o Grêmio é redundante dizer. E não foi porque é catimbeiro, milongueiro, bagunceiro ou outros eiros, como dopeiros, palavra que, aqui, acaba de ser inventada.
Na verdade todos os adjetivos são meras desculpas para não encarar a realidade, o envolvente talento que os hermanos possuem, repita-se, do mesmo nível do nosso.
Ou terá sido por acaso que na Argentina nasceram Di Stéfano, Maradona, Messi, para citar só alguns poucos e mais badalados e sem nem sequer mencionar Riquelme, que não é do mesmo patamar, embora não haja hoje, no Brasil, ninguém que se aproxime do futebol que ele é capaz de jogar?
E não pense o raro leitor que estamos a manifestar nosso velho, e até aparentemente vencido, complexo de vira-latas.
Nada disso.
Por mais que as contas em relação ao Boca não autorizem afirmação tão peremptória, o futebol brasileiro encara o argentino rigorosamente de igual para igual e tem levado vantagem ultimamente -é bom lembrar de São Paulo e Inter.
O que se diz nestas mal traçadas é apenas que está mais do que na hora de parar de tentar enfiar (quanto "ar"!) goela abaixo do torcedor a idéia de que os argentinos vencem porque irritam o jogador brasileiro com artimanhas extrajogo.
Isso é bobagem, "una tontería", como outra qualquer. Leia, agora, como o extraordinário zagueiro argentino Roberto Perfumo, que abrilhantou o Cruzeiro entre 71 e 75, vê a diferença entre o jogador argentino e o brasileiro: "O jogador argentino é melhor, mas o brasileiro é tecnicamente mais dotado. Tem uma relação totalmente distinta com a pelota.
Nós a usamos mais para conseguir o objetivo, eles como prazer pessoal. E isso tem que ver com a vida, com a forma de ser. Para nós, o futebol é trágico, para eles, não".


blogdojuca@uol.com.br

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