|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JUCA KFOURI
Eles são tão bons como nós
Só se surpreendeu com o hexa do Boca quem quis. Ou quem cria todo um folclore em torno dos argentinos
A ESCOLA de futebol argentina é
tão boa como a nossa.
Perde em quantidade, por
razões óbvias dadas as respectivas
populações. E leva vantagem, por
exemplo, na compreensão dos esquemas táticos.
A razão é simples: os jogadores argentinos têm um nível cultural bem
acima do dos nossos.
Eles sabem, por exemplo, a diferença que há entre o estilo gaúcho, o
carioca, o paulista e o nortista de jogar. Distinguem Belém de Porto
Alegre e sabem que o Maracanã é no
Rio de Janeiro, não em São Paulo ou
em Belo Horizonte.
Já os nossos nem sequer sabem a
diferença entre Córdoba e Mar del
Plata e imaginam que a Argentina se
resuma a Buenos Aires.
Isso faz diferença.
Sim, porque é fundamental saber
onde você mete seu nariz e sua chuteira, em que lugar você está e por
que é ali e não acolá.
Daí não ser surpreendente mais
uma vitória do Boca Juniors na Libertadores, não apenas a vitória no
embate com o Grêmio.
Mais uma, porque se soma aos
triunfos contra o Santos (5 a 1 no
placar agregado, diferença pouca para os 5 a 0 com o Grêmio), Palmeiras
(decisão só nos pênaltis -deu-se
melhor o alviverde), Corinthians,
Paysandu, Vasco, Flamengo, Galo e
Cruzeiro, duas vezes.
Que o Boca sobrou nos dois jogos,
na Bombonera e no Olímpico, contra o Grêmio é redundante dizer.
E não foi porque é catimbeiro, milongueiro, bagunceiro ou outros eiros, como dopeiros, palavra que,
aqui, acaba de ser inventada.
Na verdade todos os adjetivos são
meras desculpas para não encarar a
realidade, o envolvente talento que
os hermanos possuem, repita-se, do
mesmo nível do nosso.
Ou terá sido por acaso que na Argentina nasceram Di Stéfano, Maradona, Messi, para citar só alguns
poucos e mais badalados e sem nem
sequer mencionar Riquelme, que
não é do mesmo patamar, embora
não haja hoje, no Brasil, ninguém
que se aproxime do futebol que ele é
capaz de jogar?
E não pense o raro leitor que estamos a manifestar nosso velho, e até
aparentemente vencido, complexo
de vira-latas.
Nada disso.
Por mais que as contas em relação
ao Boca não autorizem afirmação
tão peremptória, o futebol brasileiro
encara o argentino rigorosamente
de igual para igual e tem levado vantagem ultimamente -é bom lembrar de São Paulo e Inter.
O que se diz nestas mal traçadas é
apenas que está mais do que na hora
de parar de tentar enfiar (quanto
"ar"!) goela abaixo do torcedor a
idéia de que os argentinos vencem
porque irritam o jogador brasileiro
com artimanhas extrajogo.
Isso é bobagem, "una tontería",
como outra qualquer. Leia, agora,
como o extraordinário zagueiro argentino Roberto Perfumo, que abrilhantou o Cruzeiro entre 71 e 75, vê a
diferença entre o jogador argentino
e o brasileiro: "O jogador argentino é
melhor, mas o brasileiro é tecnicamente mais dotado. Tem uma relação totalmente distinta com a pelota.
Nós a usamos mais para conseguir o objetivo, eles como prazer
pessoal. E isso tem que ver com a vida, com a forma de ser. Para nós, o
futebol é trágico, para eles, não".
blogdojuca@uol.com.br
Texto Anterior: MG: Atlético repete time, e Cruzeiro cava faltas Próximo Texto: Inclusão faz Rio engolir índices de segunda Índice
|