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FUTEBOL
Futebol de rua
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Lendo os jornais neste domingo, vi que, tirando os jogos sem graça da Copa América,
nenhuma partida de futebol seria
transmitida pela TV.
Nem da seleção brasileira nem
do Campeonato Brasileiro nem
da Mercosul..., nada.
Já um tanto desesperado, passei
a apertar todos os botões que havia no controle remoto, mas só o
que via eram entrevistas, videoclipes, pegadinhas, documentários sobre pinguins, filmes repetidos e pastores pedindo dinheiro
aos fiéis. Simplesmente não havia
para quem torcer.
Sem uma boa dose para satisfazer meu vício, comecei a ter uma
crise de abstinência.
Irritabilidade, mãos suadas e
falta de ar.
Por conta disso acabei por abrir
a janela e ali, por acaso ou milagre, enxerguei minha salvação.
Na rua havia uns garotos jogando futebol. Era uma partida
alegre e bem disputada.
E, aos poucos, consegui notar
que aquele jogo era governado
por sólidas leis.
Depois de alguma observação,
pude definir as principais regras
desse nobre esporte.
1) Da bola: Ela pode ser qualquer coisa remotamente esférica.
Até uma bola de futebol serve. Pode-se usar qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia, um coco ou a lancheira do irmão menor. Em caso de desespero, até o próprio irmão menor.
2) Das traves: Podem ser feitas
com o material que estiver à mão:
tijolos, gravetos, palitos de picolé,
paralelepípedos, camisas emboladas, chinelos, os livros da escola e,
é claro, o irmão menor.
3) Do campo: Ele não é mais
que um pedaço de rua, incluindo
ou não a calçada. Já o material do
piso pode ser areia, pedregulho ou
asfalto. No último, é inevitável esfolar dedões e joelhos. Quem chorar será expulso.
4) Da duração do jogo: Como
ninguém usa relógio, a duração
tem que ser medida por métodos
pouco usuais. Em geral, a partida
pode virar com cinco gols e terminar com dez, ou três e seis, no caso
de amistosos. Nos jogos noturnos,
até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.
5) Da formação dos times: As
equipes devem ter o mesmo número de jogadores, a não ser que
uma delas tenha muitos baixinhos. Nesse caso, aceita-se que tal
time tenha uns atletas a mais. O
número varia de 3 a 30 jogadores
de cada lado. O pior de todos vai
para o gol, e o vice-grosso fica na
ponta-esquerda. Gordinhos são
zagueiros.
6) Do juiz: Não há. Apita-se por
consenso ou pelo grito mais alto.
7) Das interrupções: O jogo só
pode ser paralisado em três casos:
a) quando passarem veículos pesados; b) quando uma bela senhorita atravessar o campo; c)
quando a bola entrar por uma janela. Neste caso os jogadores devem esperar dez minutos pelo seu
retorno espontâneo. Se isso não
ocorrer, os jogadores devem designar voluntários para bater na
porta da casa e solicitar a devolução, primeiro com bons modos e
depois com ameaças de depredação.
8) Das substituições: São permitidas no caso de um jogador ser
atropelado ou, mais grave que isso, caso alguém seja carregado
pela orelha de volta à sua casa para fazer lição.
9) Das penalidades: A única falta prevista é atirar o adversário
dentro do bueiro.
10) Da Justiça desportiva: Os casos de litígio serão resolvidos na
porrada. E como tacape usa-se o
irmão menor.
Confissão
O texto de hoje foi descaradamente plagiado, digo, levemente inspirado, num e-mail
enviado pelo leitor Herbert
Oliveira.
Corrida de moto
Alexandre Barros não ganhou, mas foi quinto e a melhor Honda da prova, mostrando que, se tivesse uma
moto oficial, poderia estar lutando pelo campeonato.
Corrida de carros
As 500 Milhas de Michigan
foram desastrosas para quase
todos os brasileiros. Mas, como são tantos, um sempre se
dá bem. Anteontem foi Cristiano da Matta, que obteve
um honroso quarto lugar.
Corrida a pé
Uma comparação tola, mas
nem tanto: Pelé foi 11 vezes
artilheiro do Campeonato
Paulista. Eronildes Araújo
ganhou pela 12ª vez o Troféu
Brasil.
E-mail torero@uol.com.br
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