São Paulo, terça-feira, 24 de julho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Futebol de rua

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Lendo os jornais neste domingo, vi que, tirando os jogos sem graça da Copa América, nenhuma partida de futebol seria transmitida pela TV.
Nem da seleção brasileira nem do Campeonato Brasileiro nem da Mercosul..., nada.
Já um tanto desesperado, passei a apertar todos os botões que havia no controle remoto, mas só o que via eram entrevistas, videoclipes, pegadinhas, documentários sobre pinguins, filmes repetidos e pastores pedindo dinheiro aos fiéis. Simplesmente não havia para quem torcer.
Sem uma boa dose para satisfazer meu vício, comecei a ter uma crise de abstinência.
Irritabilidade, mãos suadas e falta de ar.
Por conta disso acabei por abrir a janela e ali, por acaso ou milagre, enxerguei minha salvação.
Na rua havia uns garotos jogando futebol. Era uma partida alegre e bem disputada.
E, aos poucos, consegui notar que aquele jogo era governado por sólidas leis.
Depois de alguma observação, pude definir as principais regras desse nobre esporte.
1) Da bola: Ela pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol serve. Pode-se usar qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia, um coco ou a lancheira do irmão menor. Em caso de desespero, até o próprio irmão menor.
2) Das traves: Podem ser feitas com o material que estiver à mão: tijolos, gravetos, palitos de picolé, paralelepípedos, camisas emboladas, chinelos, os livros da escola e, é claro, o irmão menor.
3) Do campo: Ele não é mais que um pedaço de rua, incluindo ou não a calçada. Já o material do piso pode ser areia, pedregulho ou asfalto. No último, é inevitável esfolar dedões e joelhos. Quem chorar será expulso.
4) Da duração do jogo: Como ninguém usa relógio, a duração tem que ser medida por métodos pouco usuais. Em geral, a partida pode virar com cinco gols e terminar com dez, ou três e seis, no caso de amistosos. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.
5) Da formação dos times: As equipes devem ter o mesmo número de jogadores, a não ser que uma delas tenha muitos baixinhos. Nesse caso, aceita-se que tal time tenha uns atletas a mais. O número varia de 3 a 30 jogadores de cada lado. O pior de todos vai para o gol, e o vice-grosso fica na ponta-esquerda. Gordinhos são zagueiros.
6) Do juiz: Não há. Apita-se por consenso ou pelo grito mais alto.
7) Das interrupções: O jogo só pode ser paralisado em três casos: a) quando passarem veículos pesados; b) quando uma bela senhorita atravessar o campo; c) quando a bola entrar por uma janela. Neste caso os jogadores devem esperar dez minutos pelo seu retorno espontâneo. Se isso não ocorrer, os jogadores devem designar voluntários para bater na porta da casa e solicitar a devolução, primeiro com bons modos e depois com ameaças de depredação.
8) Das substituições: São permitidas no caso de um jogador ser atropelado ou, mais grave que isso, caso alguém seja carregado pela orelha de volta à sua casa para fazer lição.
9) Das penalidades: A única falta prevista é atirar o adversário dentro do bueiro.
10) Da Justiça desportiva: Os casos de litígio serão resolvidos na porrada. E como tacape usa-se o irmão menor.

Confissão
O texto de hoje foi descaradamente plagiado, digo, levemente inspirado, num e-mail enviado pelo leitor Herbert Oliveira.

Corrida de moto
Alexandre Barros não ganhou, mas foi quinto e a melhor Honda da prova, mostrando que, se tivesse uma moto oficial, poderia estar lutando pelo campeonato.

Corrida de carros
As 500 Milhas de Michigan foram desastrosas para quase todos os brasileiros. Mas, como são tantos, um sempre se dá bem. Anteontem foi Cristiano da Matta, que obteve um honroso quarto lugar.

Corrida a pé
Uma comparação tola, mas nem tanto: Pelé foi 11 vezes artilheiro do Campeonato Paulista. Eronildes Araújo ganhou pela 12ª vez o Troféu Brasil.

E-mail torero@uol.com.br



Texto Anterior: Tenista lamenta comemoração curta
Próximo Texto: Panorâmica - Boxe: Popó acusa ex-empresários de calote
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.