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JUCA KFOURI
Os limites das Copas do Mundo
À medida que a Copa fica distante, talvez valha a
pena pensar sobre qual é mesmo a importância dela
TRÊS RODADAS do Brasileirão
depois do fim da Copa do
Mundo, a definição dos semifinalistas da Taça Libertadores e a
primeira partida da decisão da Copa
do Brasil, além de alguma reflexão e
muitas leituras sobre o tema (ou seria ao contrário?) permitem um afirmação ousada, quase uma heresia: a
Copa do Mundo é muito legal, mas é
uma droga.
Ousada, mas não original.
Antonio Carlos Jobim vivia dizendo, quando morava nos Estados
Unidos, que "Nova York é muito
bom, mas é uma merda. Já o Brasil é
uma merda, mas é muito bom".
Igual a Copa do Mundo.
A cada quatro anos curtimos esperá-la e vivê-la, como se fosse o dia do
Natal da nossa infância.
Só que não é ou cada vez é menos.
De grande festival de futebol que
sempre foi, cada vez mais a Copa do
Mundo é um megaevento no qual o
futebol é mero detalhe.
Incomparavelmente mais gostoso
é o campeonato local, é o jogo do time da gente.
A Copa do Mundo está tão edulcorada que, pela primeira vez na vida,
ouvi o hino brasileiro longe do país e
não me emocionei.
Nosso time parecia de plástico, a
bola parecia de plástico, o gramado
parecia de plástico e alguns estádios,
de fato, eram de plástico, ou quase.
Deslumbrantes, como o de Munique, mas frios, gelados, nada acolhedores, nada calorosos.
E olhe que os alemães fizeram tudo para serem hospitaleiros.
E foram exemplares.
Mas tem alguma coisa fora da ordem nas Copas do Mundo.
Ostentação, novo-riquismo, palco
de emergentes, limusines, ternos e
gravatas de grife, maus bofes, bochechas vermelhas de calor, não de pudor. E uma torcida esquisita.
Talvez por isso Zinedine Zidane
tenha dado uma cabeçada mais que
simbólica, menos no peito italiano
que o ofendera, mais na hipocrisia
disso tudo.
Um basta na artificialidade de um
evento que foi celebrado em nome
da tolerância racial, mas que não tinha negros como treinadores, exceção feita ao de Angola.
Porque o técnico da Costa do Marfim era um branco francês, o de Gana um branco sérvio e o de Togo um
branco alemão.
Árbitros negros, em mais de duas
dezenas, apenas dois, um da Jamaica e outro de Benin.
Negro no alto comando da Fifa?
Com visibilidade, nenhum!
A Copa do Mundo não é mais o
Santo Graal, que o digam nossos jogadores na Alemanha.
Não se luta mais por ela como se
por um prato de comida, porque estão todos bem alimentados, felizmente. Alguns até gordinhos.
Diferentemente de Tostão e igual
a Xico Sá, a Copa do Mundo me seduz cada vez menos, pois é cada vez
menos um palco da boa competição
e cada vez mais um balcão de negócios, nos quais o que vale é vender a
próxima atração, porque a em curso
já está vendida. E bem.
Daí, por vendida, dane-se o espetáculo, danem-se os atletas em fim
de temporada, dane-se o calor terrível, dane-se se os jogos precisarem
ser ao meio-dia, como no México e
nos Estados Unidos.
Porque sempre haverá uma multidão, não necessariamente de amantes do futebol, mas da festa que se faz
em torno dele, para canalizar seus
sentimentos nacionalistas em torno
de uma Copa.
Eu ainda gosto mais do meu time.
Líder
Com cabeça e bola, só dá tricolor!
Kirrata
Ao contrário do aqui escrito ontem, Clóvis Rossi tem diploma de
jornalista. Mas, é claro, não é garoto-propaganda. Aliás, nada contra
o diploma, ao contrário. Tudo contra a reserva de mercado.
E os que mercadejam.
@ - blogdojuca@uol.com.br
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