São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 2006

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JUCA KFOURI

Os limites das Copas do Mundo

À medida que a Copa fica distante, talvez valha a pena pensar sobre qual é mesmo a importância dela

TRÊS RODADAS do Brasileirão depois do fim da Copa do Mundo, a definição dos semifinalistas da Taça Libertadores e a primeira partida da decisão da Copa do Brasil, além de alguma reflexão e muitas leituras sobre o tema (ou seria ao contrário?) permitem um afirmação ousada, quase uma heresia: a Copa do Mundo é muito legal, mas é uma droga.
Ousada, mas não original.
Antonio Carlos Jobim vivia dizendo, quando morava nos Estados Unidos, que "Nova York é muito bom, mas é uma merda. Já o Brasil é uma merda, mas é muito bom".
Igual a Copa do Mundo.
A cada quatro anos curtimos esperá-la e vivê-la, como se fosse o dia do Natal da nossa infância.
Só que não é ou cada vez é menos.
De grande festival de futebol que sempre foi, cada vez mais a Copa do Mundo é um megaevento no qual o futebol é mero detalhe.
Incomparavelmente mais gostoso é o campeonato local, é o jogo do time da gente.
A Copa do Mundo está tão edulcorada que, pela primeira vez na vida, ouvi o hino brasileiro longe do país e não me emocionei.
Nosso time parecia de plástico, a bola parecia de plástico, o gramado parecia de plástico e alguns estádios, de fato, eram de plástico, ou quase. Deslumbrantes, como o de Munique, mas frios, gelados, nada acolhedores, nada calorosos.
E olhe que os alemães fizeram tudo para serem hospitaleiros.
E foram exemplares.
Mas tem alguma coisa fora da ordem nas Copas do Mundo.
Ostentação, novo-riquismo, palco de emergentes, limusines, ternos e gravatas de grife, maus bofes, bochechas vermelhas de calor, não de pudor. E uma torcida esquisita.
Talvez por isso Zinedine Zidane tenha dado uma cabeçada mais que simbólica, menos no peito italiano que o ofendera, mais na hipocrisia disso tudo.
Um basta na artificialidade de um evento que foi celebrado em nome da tolerância racial, mas que não tinha negros como treinadores, exceção feita ao de Angola.
Porque o técnico da Costa do Marfim era um branco francês, o de Gana um branco sérvio e o de Togo um branco alemão.
Árbitros negros, em mais de duas dezenas, apenas dois, um da Jamaica e outro de Benin.
Negro no alto comando da Fifa?
Com visibilidade, nenhum!
A Copa do Mundo não é mais o Santo Graal, que o digam nossos jogadores na Alemanha.
Não se luta mais por ela como se por um prato de comida, porque estão todos bem alimentados, felizmente. Alguns até gordinhos.
Diferentemente de Tostão e igual a Xico Sá, a Copa do Mundo me seduz cada vez menos, pois é cada vez menos um palco da boa competição e cada vez mais um balcão de negócios, nos quais o que vale é vender a próxima atração, porque a em curso já está vendida. E bem.
Daí, por vendida, dane-se o espetáculo, danem-se os atletas em fim de temporada, dane-se o calor terrível, dane-se se os jogos precisarem ser ao meio-dia, como no México e nos Estados Unidos.
Porque sempre haverá uma multidão, não necessariamente de amantes do futebol, mas da festa que se faz em torno dele, para canalizar seus sentimentos nacionalistas em torno de uma Copa.
Eu ainda gosto mais do meu time.

Líder
Com cabeça e bola, só dá tricolor!

Kirrata
Ao contrário do aqui escrito ontem, Clóvis Rossi tem diploma de jornalista. Mas, é claro, não é garoto-propaganda. Aliás, nada contra o diploma, ao contrário. Tudo contra a reserva de mercado.
E os que mercadejam.

@ - blogdojuca@uol.com.br


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