São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2008

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JUCA KFOURI

Chega de futebol olímpico


Rejeitado pela Fifa e maltratado pelo COI, o melhor será acabar com o torneio de futebol nos Jogos

CONFESSO que sempre me deixei levar pela vontade de ver a seleção brasileira de futebol com a medalha olímpica de ouro no peito.
Aquela coisa de ganhar o "único título que falta".
Admito que cheguei a negociar com meus desejos uma Copa do Mundo por uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos.
Tinha inveja dos uruguaios, duas medalhas de ouro, duas Copas do Mundo, razão pela qual eles dizem que são tetracampeões mundiais, já que, quando ganharam as medalhas, ainda não se disputavam as Copas do Mundo.
E tive inveja dos argentinos, na última Olimpíada, quando eles também levaram o ouro, inédito até então também para eles.
Mas foi exatamente quatro anos atrás que comecei a achar que, afinal, quer saber, a tal medalha já não teria tanto valor assim, porque fiquei com mais inveja dos argentinos pelo ouro que eles ganharam no basquete.
É que a cada edição o futebol vai perdendo seu encanto, tantas são as dificuldades para montar as seleções, repletas de restrições, com apenas três jogadores sem limite de idade e, assim mesmo, sem que haja obrigatoriedade de liberação por parte dos clubes.
Vejamos a polêmica mais recente.
Por que cargas d'água o Real Madri haveria de ceder Robinho para a CBF? Porque a CBF foi generosa ao permitir que ele enfrentasse o Mallorca antes de jogar a Copa América, como alega a entidade?
Ah, falemos sério! A CBF foi generosa coisa alguma. Perdeu aquele braço de ferro e teve que enfiar o galho cabeça adentro.
Alguém argumentará que o clube espanhol poderia ter avisado à época da convocação que não cederia o jogador. Mas volto a perguntar: por quê? Quem da CBF pediu, negociou, foi humilde para consultar os madridistas se eles cederiam um atleta que pagam regiamente e que não têm obrigação de ceder?
É claro que ninguém, porque não cabe pedir na arrogância do emérito presidente da CBF - por sinal, em 35º lugar numa pesquisa feita pela revista "Time" na internet (www. time.com/time/specials/ packages/article/0,28804, 1820667-1821301,00.html) que listou 35 cartolas para que os leitores escolham os melhores e os piores. Ricardo Teixeira é o único brasileiro e estava com a média de 13 pontos em 100 possíveis, com quase 6.000 indicações até o começo da noite de ontem.
O fato é que o futebol parece ter virado o patinho feio dos Jogos Olímpicos, disputado sempre longe da sede, com partidas jogadas ainda antes que haja a festa de abertura, enfim, como se fosse mesmo algo à parte e, se assim é, melhor acabar com o torneio dele, ainda mais que já se fala em disputá-lo apenas com jogadores sub-19.
Silvio Berlusconi, por quem não tenho a menor simpatia, ao contrário, já em 1990 propunha que o torneio olímpico de futebol se transformasse na Copa do Mundo de seleções e que a Copa do Mundo, tal como a conhecemos hoje em dia, passasse a ser uma competição interclubes.
Já que não aconteceu, melhor será mesmo desaparecer.

blogdojuca@uol.com.br


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