São Paulo, quinta-feira, 24 de setembro de 2009

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JUCA KFOURI

Nós, os jornalistas "esportivos"


Quem disse que existe jornalista esportivo, jornalista econômico, jornalista político? Vamos pensar a respeito?

COMEÇA QUE , na verdade, não existem jornalistas esportivos. Em regra, somos sedentários, gordos e não praticamos esporte algum. Advirto que sou exceção. Ando, nado e faço musculação. Como não existem jornalistas econômicos. Em regra, são perdulários e incapazes de viver dentro de seus orçamentos.
Jornalista político é outra ilusão, porque, se jornalista for político, deixa de ser jornalista, preocupado em agradar a todos.
E jornalista não existe para agradar a ninguém, muito ao contrário. Se desagradar a gregos e troianos é que estará exercendo seu papel com fidelidade e independência.
Aliás, não existe também, ao menos por aqui, um jornalismo esportivo. Porque há mais. Há o sério e o picareta, aquele a serviço de empresários de atletas, dos subservientes ao poder, garotos-propagandas, promotores de eventos etc. Tudo isso para, mais uma vez, referir às palavras de Dunga, em recente entrevista, quando recebeu o programa "Arena Sportv" em Porto Alegre, sua cidade.
Dunga teria dado uma belíssima entrevista não fosse por um grave senão, uma mentira que ele insiste em manter, sobre o que falaremos, outra vez, adiante.
Mas ele estava exultante, não apenas por colher os louros do ótimo resultado de seu trabalho como também porque tinha lido nesta Folha que o ombudsman Carlos Eduardo Lins e Silva acha que jornalista é um bicho arrogante que adora criticar e odeia ser criticado.
Mais de acordo com o que Dunga tem dito é impossível, e o pior, ou o melhor, que é expressão da pura e irretocável verdade.
Nós, jornalistas, detestamos ser criticados e corrigidos, no que, perdão, também sou exceção, tanto que criei vinheta para mim, a "Kirrata", a errata do Kfouri, presença constante neste espaço. E vivo me mandando para o chuveiro no programa que faço na rádio CBN, porque, embora também deteste errar, tenho plena consciência do quanto erro e de que conseguimos revelar, se tanto, 1/3 da realidade.
Mas Dunga, entre a leal defesa que fez de Robinho, da crítica correta que fez do excesso de discussões táticas, do constrangimento que causou a Paulo Roberto Falcão, presente à entrevista, ao se referir aos técnicos que não deram certo na seleção, exigiu o óbvio, que os jornalistas falem a verdade.
Só que ele faltou com a verdade, de novo não honrou as bombachas, ao se referir ao episódio com o companheiro PVC, que não o criticou em público e pediu desculpas em particular, como acusou levianamente. E tanto é assim que seu braço direito, Juarez Rosa da Silva, em dispensável catilinária que me enviou, garante que Dunga não fez a afirmação que lhe foi atribuída.
Só que, no "Arena Sportv", em vez de ele dizer isso, preferiu até não dar o nome de PVC, "para não encher a bola dessa gente".
Como se ser citado por ele, não sendo jogador de futebol, encha bola de alguém, arrogância típica de nós, jornalistas, que um dia ele tentou ser, na Band, sem deixar, diga-se, a menor saudade.
Dunga será bajulado ainda mais até a Copa do Mundo pela imprensa "esportiva". Não pela séria.

blogdojuca@uol.com.br


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