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MATINAS SUZUKI JR.
Batismo
A primeira coisa que me
ocorreu, ao ver os movimentos
iniciais da seleção brasileira de
Luxemburgo, foi como é bom
ver um time nacional com liberdade em campo: liberdade
de movimentação tática, liberdade para criar jogadas e até
uma ausência de medo de tentar o drible, um dos principais
diferenciais do futebol local.
Está certo que a formatação
tática iugoslava que iniciou o
jogo de ontem (o que pude vislumbrar através das imagens
da TV que, como se sabe, narram um outro jogo que não o
jogo real), com cinco zagueiros
posicionados muito atrás, favorecia a desenvoltura de Rivaldo, Marcelinho, Denílson e
cia. nos jardins da cidadela
inimiga.
Mas, para quem estava acostumado a acompanhar a rigidez de posicionamentos táticos
do longo período Parreira-Zagallo, a maior flexibilidade de
movimentos dos jogadores
apareceu com a anunciação de
uma primavera, exatamente
no começo da primavera.
Luxemburgo iniciou o seu
período com uma formatação
que prefere neste momento:
dois volantes que se mexem
muito e que podem criar jogadas de ataque, com o setor sendo complementado, pelo lado
esquerdo, por Rivaldo (que
atuou mais avançado do que
Ricardinho, mais ou menos na
mesma função, que joga no Corinthians).
Marcelinho, pela direita, e
Denílson, pela esquerda, ambos em moto-perpétuo, compunham uma ativa figura geométrica de cinco lados que, em alguns momentos do primeiro
tempo, chegou a empolgar.
Apesar da menor rigidez no
formato tático da seleção
atual, algumas peças não se
encaixaram direito.
Uma delas, Muller, quem,
mesmo no período de maior liberdade de ação brasileiro no
primeiro tempo, não achou o
local ideal de jogo. Um desafio
para Wanderley resolver (é
preciso corrigir o posicionamento de Muller ou ter um jogador com o perfil de definidor
no ataque?).
A outra peça dissonante foi o
excelente jogador Felipe, que
não soube construir um diálogo com Denílson e consolidar,
com isso, uma presença mais
constante pelo flanco de ataque esquerdo.
Serginho, no segundo tempo
da partida, foi mais efetivo sob
esse aspecto.
Uma sequência de vacilos entre Vampeta-Marcos Assunção
e Antonio Carlos-Cléber permitiu uma enfiada de bola no
meio-campo para o gol iugoslavo, descontado depois por
Marcelinho e por uma frequência de lufadas ofensivas
que indicavam que a seleção
brasileira iria definir, naquela
altura, o jogo a seu favor.
Mas o técnico iugoslavo percebeu o seu erro, redesenhou o
modo de marcar (cinco marcadores atrás era demasiado, na
medida em que a equipe dirigida por Wanderley Luxemburgo não jogava com nenhum jogador plantado na zona da
chamada meia-lua) e os brasileiros passaram a enfrentar as
dificuldades que eram de se esperar, em um ritual de iniciação contra um time de jogadores habilidosos.
No balanço final, ficou a sensação de que, se existe um jogador que vai ter ralar, daqui para a frente, para conseguir se
manter nesta seleção, é o zagueiro Cléber.
E de que é preciso dar tempo
ao tempo, essa sabedoria de viver que a inquietude do torcedor jamais aprenderá. Ele não
aceita um batismo em fogo
brando.
²
Matinas Suzuki Jr. é diretor editorial-adjunto da editora Abril e escreve às quintas
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