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FUTEBOL
Tese de doutorado de sociólogo mostra que o futebol no Rio paga melhor e dá mais garantias a jogadores brancos
Bola discrimina negros, afirma estudo
FERNANDA DA ESCÓSSIA
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
No Brasil de Pelé e Ronaldo, no
país pentacampeão com uma
equipe de maioria negra e mulata,
os jogadores negros enfrentam o
racismo, ganham menos que os
brancos e não têm no esporte
uma garantia de ascensão social.
É o que conclui a tese de doutorado do sociólogo José Jairo Vieira, defendida no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. Uma síntese será apresentada hoje na Anpocs (Associação
Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Ciências Sociais), em
Caxambu (MG).
Questionários feitos com 327 jogadores de 17 clubes do Rio mostram que, enquanto 26,6% dos
atletas brancos ganham até um
salário mínimo, entre negros a
proporção é de 48,1%. No total de
jogadores, é de 34,9%.
No alto da pirâmide salarial,
24,8% dos brancos ganham mais
de 20 salários mínimos; entre negros, o percentual é de 14,8%,
abaixo do verificado no conjunto
de jogadores (17,1% ganhando
mais de 20 salários mínimos).
Dos atletas que responderam
aos questionários, 25% eram negros, 41% pardos e 34% brancos,
indicando uma parcela maior de
negros em relação à população
nacional -6,2% de negros, 39,1%
de pardos e 53,8% de brancos, segundo o IBGE. Em 1999, diz o instituto, o rendimento médio dos
brasileiros negros era menos da
metade do obtido pelos brancos.
O estudo de Vieira mostra que o
jogador de futebol negro não registra ascensão social imediata
(53,9% disseram ter "melhorado"
sua condição socioeconômica). A
mobilidade foi mais comum entre
brancos: 57,8% disseram ter subido na vida. Entre negros, embora
43,2% tenham ascendido socialmente, a condição mais comum
foi a imobilidade: 53,1% se mantiveram no mesmo nível social.
Para 10,2% dos atletas, ser negro
pode prejudicar a carreira. O percentual foi de 9% entre brancos e
17,1% entre negros.
Os atletas negros ainda enumeraram diferenças: o salário deles
costuma atrasar mais, recebem
menos convites para sair com os
cartolas ou são tratados com desprezo. Outra discriminação está
no tratamento: macaco, crioulo,
gorila. "Muitos não consideram
os apelidos discriminatórios. Ou
seja, o racismo às vezes é tão velado que não é identificado nem pelas vítimas", diz Vieira, professor
de sociologia do esporte na Universidade Federal de Viçosa.
Ele aponta posições que parecem "reservadas" aos negros.
"Quando não pressupõe muita
habilidade intelectual, como um
"zagueiro raçudo", é comum ouvir
que o ideal é um negão", afirma.
Por outro lado, aponta, são raros goleiros e técnicos negros na
seleção brasileira. Segundo Vieira, o preconceito contra o goleiro
negro aumentou depois de Barbosa, da seleção derrotada no Maracanã na final da Copa de 1950.
"Quanto a técnicos negros, tivemos dois: Gentil Cardoso, em
1957, e Wanderley Luxemburgo,
se é que ele se considera negro ou
pardo", afirma Vieira, que coordenará na Anpocs um grupo sobre esporte, política e cultura, algo
inédito nos 25 anos do encontro.
Negro, Vieira diz que Pelé e Ronaldo são exceções, mas reconhece que o futebol contribuiu para
elevar a auto-estima do negro.
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