São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

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FUTEBOL

Poderosos técnicos

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Uma das deficiências dos clubes brasileiros é não ter pessoas competentes para planejar e comandar departamento de futebol. Os diretores não remunerados e não profissionais geralmente não entendem de futebol, e muitos ex-atletas gerentes costumam não ser bons organizadores e bons executivos.
Os dirigentes não remunerados são, com freqüência, amigos da diretoria e, por serem torcedores desses clubes, se acham os mais indicados para o cargo.
Eles atrapalham mais do que ajudam. Custam caro aos clubes.
Por outro lado, muitos ex-atletas não têm preparo técnico, amplos conhecimentos e experiências de comando e planejamento.
É também comum nos clubes, e não só no Flamengo, haver desentendimentos, mesquinharias e ciúmes dos dirigentes não remunerados para com os remunerados, sejam ex-atletas ou não.
Por causa da falta de bons gerentes ou coordenadores, surgiram alguns técnicos, como Emerson Leão e Vanderlei Luxemburgo, que não são apenas excelentes treinadores de campo. Eles participam ativamente do planejamento técnico e logístico, das decisões das diretorias e da formação da comissão técnica e do time. Os dois já disseram que, futuramente, vão ser apenas gerentes de futebol dos clubes.
No Cruzeiro, Luxemburgo insistiu na contratação do Alex contra a vontade da diretoria, pois o jogador já tinha tido uma passagem ruim no clube. Após a saída do técnico, ficou mais evidente que o Cruzeiro tem uma ótima estrutura física, mas tem poucos profissionais competentes para comandá-la.
Imagino que Luxemburgo tenha dito também ao presidente do Santos que ele poderia liberar o Diego, mas não o Robinho.
Talvez Luxemburgo e Leão se destaquem dos outros técnicos mais pelos seus conhecimentos e participações extracampo do que pelas suas atuações durante os treinos e jogos.
Porém as boas relações dos clubes com esses poderosos técnicos têm um prazo de validade. São inevitáveis os atritos. As pessoas que acompanhavam de perto o Cruzeiro disseram que, após um certo tempo, a diretoria não agüentava mais as reclamações, as exigências e o egocentrismo de Luxemburgo.
Dar muitos poderes a qualquer pessoa e aos treinadores não é democrático e é muito perigoso. Eles querem sempre mais. A solução seria ter vários profissionais competentes em funções diferentes e trabalhando unidos. Isso também não é fácil. Já imaginou Luxemburgo e Leão juntos, um de coordenador e o outro de técnico?

Volante ou zagueiro
Enquanto na Europa quase todos os principais times e seleções jogam com dois zagueiros e dois laterais, um grande número de equipes brasileiras atua com três zagueiros.
Uma das explicações para essa preferência é que os times brasileiros já jogavam com um volante muito recuado, quase como um zagueiro. Os técnicos estão concluindo que é melhor ter mais um autêntico zagueiro do que um volante-zagueiro.
Na Europa nunca existiu o volante-zagueiro. Os volantes são jogadores de meio-campo e marcam mais à frente. Nas equipes que atuam com dois laterais e dois zagueiros, os laterais avançam pouco e formam uma linha de quatro defensores. Se um ataca, o outro se posiciona como um terceiro zagueiro.
A vantagem de ter três zagueiros é que eles estão de frente para a bola e para a jogada. Já o volante-zagueiro tem sempre um atacante nas suas costas.
Se um atacante recua, o volante o marca para sobrar um zagueiro, mas se há dois típicos atacantes não dá para o volante correr para trás.
A vantagem do volante mais recuado é que ele pode se transformar num armador quando o time recupera a bola. Para isso, ele precisa ter a mínima habilidade. Não se justifica também ter três zagueiros e mais um volante-zagueiro.
A melhor e mais simples solução foi a utilizada pelo Felipão na Copa de 2002.
Dependendo do outro time ter um ou dois típicos atacantes, Edmilson era zagueiro ou volante. Nunca as duas coisas ao mesmo tempo, mesmo que trocasse de posição durante a partida.
Os volantes não podem decidir o seu posicionamento no momento da jogada. Fica confuso. Eles não são tão criativos para raciocinar tão rápido.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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