São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2005

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FUTEBOL

Rivaldo e Sócrates

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

Na dúvida entre pegar carona na coluna do Tostão ou na entrevista de Rivaldo para Paulo Galdieri (publicada na edição nacional desta Folha de ontem), resolvi fazê-lo em ambas.
Porque nada justifica que Rivaldo, o melhor jogador da seleção brasileira na Copa de 2002 na opinião do Felipão, tenha que pedir uma chance para disputar a Copa da Alemanha.
Nem sei, na verdade, como ele anda jogando na Grécia. Mas sei do que ele é capaz. E por uma questão de respeito a quem fez o que já fez, no mínimo, Rivaldo merece uma ligação de Parreira para resolver sua angústia.
Antimarqueteiro por definição, introspectivo por natureza, Rivaldo é dos craques mais completos dos últimos tempos, tamanha sua capacidade em lidar bem com quase todos os fundamentos do futebol. E, se continua ídolo pelos campos gregos -gregos que, embora eliminados da Copa-06, são os atuais campeões europeus-, alguma coisa ele ainda tem.
Não é possível que Parreira esteja preocupado em evitar a presença de mais um monstro sagrado em seu grupo, tantas são as opções e os bons problemas que tem.
Nem que seja para o banco, Rivaldo, assim como Alex, merece o que pede.
E já que falei em gregos, a coluna do Tostão, sobre os humores do futebol, me lembrou de Sócrates, o craque, não o filósofo, e de Flávio Gikovate, o terapeuta da "Democracia Corinthiana", que é meio filósofo.
Aprendi com ambos que futebol é, essencialmente, cabeça.
Era delicioso ver os jogos do Corinthians nos idos de 1982/83 ao lado de Gikovate.
Neófito nas coisas da bola, ele sabia, e sabe, tudo sobre comportamento humano.
A ponto de prever, com rara margem de acerto, como o time se comportaria baseado na observação e nas conversas que tinha com os jogadores.
"Hoje o Magrão vai jogar mal, e o Corinthians deve perder", garantia. "Mas por quê?", eu perguntava. "Porque ele está muito feliz", respondia.
Ao contrário, quando via Sócrates ensimesmado, Gikovate apostava, e ganhava, na vitória. "Hoje ele vai arrebentar. Brigou com a mulher e está triste."
Mistérios do comportamento humano que não podem ser generalizados nem levar à conclusão de que o Doutor Sócrates passou infeliz dois anos no Parque São Jorge, pois no período o time foi bicampeão paulista em duas decisões contra o São Paulo, que era superior.
Gikovate tem lá suas teorias, é claro. E uma delas ensina que um time precisa de um chefe inconteste, como Sócrates era no Corinthians, e não era na seleção brasileira de 1982 -que tinha, além dele, Zico e Falcão, razão da derrota, segundo o analista, na Copa da Espanha.
O que motiva sua preocupação para o ano que vem, porque ele acha que a história se repete.
E, aí, de fato, a inclusão de Rivaldo, com seu perfil tímido, também não resolve. Mas cadê o Dunga do grupo de Parreira?

Gafe da Rainha
Enfim, aos 34 anos do Brasileirão, a CBF resolveu fazer uma festa dos melhores do ano. O momento do anúncio não poderia ser pior, em meio ao escândalo da arbitragem. Mas, quem sabe se para 2006 a CBF não faz também uma abertura de campeonato digna do país pentacampeão, com um festivo jogo inaugural? Agora, que doeu ver a Rainha Hortência à mesma mesa que Ricardo Teixeira, lá isso doeu. Ou será que ela não sabe que o Grego (a coluna está, de fato, helênica hoje) da CBB, contra quem ela luta, é como se fosse uma freira se comparado aos cartolas do futebol? Não há razão profissional nem dinheiro que pague o tamanho da gafe, porque Hortência não é do tipo desfrutável como tantos artistas por aí. Paula nunca fez nada parecido.

@ - blogdojuca@uol.com.br

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