São Paulo, Quarta-feira, 24 de Novembro de 1999


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FUTEBOL
Cerca de 50 pessoas acompanharam o enterro do ex-treinador da seleção, do Vasco e do Flamengo
Técnico de 50, Flávio Costa é enterrado

da Sucursal do Rio

e da Reportagem Local

O ex-técnico de futebol Flávio Costa foi enterrado ontem à tarde no cemitério São João Batista, na zona sul do Rio de Janeiro.
Cerca de 50 pessoas acompanharam o cortejo fúnebre e assistiram ao sepultamento.
Costa morreu anteontem à noite, aos 93 anos, vítima de aneurisma abdominal (dilatação das artérias do abdômen).
Ele estava internado na Policlínica de Botafogo, zona sul do Rio, desde o dia 15, aniversário do Clube de Regatas do Flamengo, seu primeiro grande clube como jogador profissional e como treinador, além de seu time de coração. Uma bandeira do time cobriu ontem o caixão do ex-treinador.
Apesar de ter conquistado o primeiro tricampeonato carioca da história do Flamengo (1942, 43 e 44), o Campeonato Sul-Americano de 1948 pelo Vasco e a Copa América de 1949 pela seleção, Costa ficou marcado na história do futebol brasileiro como o treinador da seleção na Copa de 1950 (leia texto nesta página).
Antes de começar a carreira de treinador, Flávio Costa iniciou-se na carreira militar, a pedido do pai, e logo tornou-se jogador. Começou como lateral-direito do Heleno, clube pequeno do Rio, e depois transferiu-se para o Flamengo, de onde saiu para o futebol paulista e voltou, para encerrar a carreira, em 1934.
Como treinador, venceu pelo Flamengo o tricampeonato de 42-44 e, por isso, foi convidado para assumir a seleção brasileira. Como naquela época esse cargo não exigia dedicação exclusiva, ele continuou no comando do clube.
Em 1945, ele foi para o Vasco, atraído pelo maior salário já pago a um treinador no Brasil. Depois de reforçar a equipe com alguns dos maiores jogadores da época, como o meia Zizinho, montou o chamado ""Expresso da Vitória" e ganhou os títulos de 1947, 49 e 50, além do Sul-Americano de clubes de 1948, um torneio disputado apenas naquele ano entre os campeões dos demais países sul-americanos e o Vasco, representando o Brasil -que ainda não possuía um campeonato nacional.
Considerado o primeiro técnico brasileiro estrategista, Flávio Costa foi um dos inventores da diagonal, sistema tático brasileiro que fazia com que a equipe fosse mais ofensiva por um lado e mais defensiva pelo outro.
É por isso que algumas equipes até os anos 70 tiveram o camisa 10 (meia-esquerda) como ponta-de-lança e o 8 (meia-direita) como armador, caso do Santos e Flamengo, enquanto outras tinham o desenho inverso.
Depois de aposentado, Costa tornou-se mais crítico sobre a estrutura do esporte nacional. É dele a frase: ""O futebol brasileiro só é profissional da boca do túnel pra dentro do campo".
O ex-lateral-esquerdo Bigode, 78, que participou da seleção de 1950, disse que Costa era ""valente e disciplinador". ""Ele não era de brincadeira e sempre tratava a todos com seriedade", disse. O ex-lateral foi acusado de se acovardar na decisão do Mundial após levar um tapa do meio-campo Obdúlio Varela, capitão do Uruguai.
Além do episódio envolvendo o suposto tapa, Bigode foi responsabilizado, junto com o goleiro Barbosa, pelo gol da vitória uruguaia, marcado por Gigghia.
""A derrota para o Uruguai foi uma fatalidade. Ele (Costa) não teve culpa, mas ficou tão marcado quanto eu. Aquela derrota apagou tudo de bom que fizemos na vida. A vida é assim. Não se pode viver só de glórias", disse Bigode.
""Desde 1955 não vi mais o Flávio Costa, mas tínhamos uma relação boa dentro do campo", disse o ex-lateral, que hoje mora em Belo Horizonte (MG).


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