São Paulo, sábado, 24 de novembro de 2007

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Rebeca ofusca primeiro dia da Copa de natação

Em evento internacional, nadadora pega em doping segue centro das atenções

Médico do COB, Eduardo de Rose afirma que já sabia de teste positivo antes do Pan e que não entende demora de Fina em divulgar resultado

MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE

Quando Rebeca Gusmão caiu na piscina para conquistar o ouro nos 50 m livre do Pan do Rio, seu caso positivo de doping já era conhecido. Eduardo de Rose, médico do COB e chefe do antidoping dos Jogos, afirmou ontem que sabia do resultado do teste de 13 de julho, cinco dias antes da prova. Mas não podia tomar providências.
"Fiz o exame dela no Canadá, pela Fina [Federação Internacional de Natação]. Foi positivo. Antes de ela nadar no dia 18, eu já sabia, mas, mais uma vez, cabia à Fina o tratamento do caso, e não a mim", disse.
As declarações foram dadas ontem, antes do início da etapa de Belo Horizonte da Copa do Mundo. Se não estivesse suspensa preventivamente, Rebeca deveria nadar em Minas.
Em um dos raros eventos internacionais no país, com a presença do recordista mundial dos 200 m medley em piscina curta, Thiago Pereira, o doping roubou a cena na natação. De novo. Tanto que foi convocada uma entrevista coletiva só para De Rose e Sandra Soldan, nova diretora-adjunta de doping da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos -a dupla estreou ontem no controle dos testes. E o caso de Rebeca monopolizou as perguntas.
"Pedi essa coletiva para poder trabalhar também. Tenho três telefones, e são os três tocando ao mesmo tempo. Não dou conta", afirmou De Rose.
Apesar de saber do resultado positivo de Rebeca no dia 13, o médico disse que não poderia interferir no processo, que estava a cargo da Fina.
Ele lembrou também de outro caso de Rebeca, de 2006, que até hoje não foi julgado. CBDA e Fina discutem o caso.
De Rose diz que o resultado no ano passado também foi positivo para testosterona.
Já a médica Renata Castro, ex-chefe de doping da CBDA que deixou o cargo, afirma que detectou falhas no exame, feito no Canadá. E que isso teria incomodado algumas pessoas.
As amostras de urina da nadadora teriam sido degradadas, o que pode alterar o resultado.
Coaracy Nunes, presidente da CBDA, não comenta o caso, que corre em sigilo. "Depois, eu falo alguma coisa, e a confederação é punida, o pai da Rebeca me processa...", disse ele.
Segundo De Rose, o caso da suposta fraude nas amostras de urina colhidas no Pan, que tinham dois DNAs diferentes, por pouco não veio à tona antes do positivo do dia 13, responsável pela suspensão de Rebeca.
"Não sei por que a Fina demorou também a divulgar o segundo caso. Ela só falou quando eu informei que iria divulgar o terceiro [dos DNAs]."
A Folha não conseguiu falar com a Fina ontem.
O médico, porém, disse que não levou o teste em conta ao pedir as análises dos DNAs.
"Decidi fazer porque percebemos alterações que, por si só, já poderiam configurar caso positivo. Mas seria um caso pesado, difícil, discutível. Fomos ver se o DNA ajudava."
De Rose afirmou que o estafe da nadadora será investigado. O caso está na Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Saúde Pública do Rio. O médico irá depor nesta segunda. "Muitos pensam que o entorno do atleta não pode ser processado. Se, durante as investigações tiver elemento que incrimine qualquer pessoa, ela será punida pela lei antidoping."


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