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Rebeca ofusca primeiro dia da Copa de natação
Em evento internacional, nadadora pega em doping segue centro das atenções
Médico do COB, Eduardo de Rose afirma que já sabia de teste positivo antes do Pan e que não entende demora de Fina em divulgar resultado
MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE
Quando Rebeca Gusmão caiu
na piscina para conquistar o
ouro nos 50 m livre do Pan do
Rio, seu caso positivo de doping
já era conhecido. Eduardo de
Rose, médico do COB e chefe
do antidoping dos Jogos, afirmou ontem que sabia do resultado do teste de 13 de julho, cinco dias antes da prova. Mas não
podia tomar providências.
"Fiz o exame dela no Canadá,
pela Fina [Federação Internacional de Natação]. Foi positivo. Antes de ela nadar no dia 18,
eu já sabia, mas, mais uma vez,
cabia à Fina o tratamento do
caso, e não a mim", disse.
As declarações foram dadas
ontem, antes do início da etapa
de Belo Horizonte da Copa do
Mundo. Se não estivesse suspensa preventivamente, Rebeca deveria nadar em Minas.
Em um dos raros eventos internacionais no país, com a presença do recordista mundial
dos 200 m medley em piscina
curta, Thiago Pereira, o doping
roubou a cena na natação. De
novo. Tanto que foi convocada
uma entrevista coletiva só para
De Rose e Sandra Soldan, nova
diretora-adjunta de doping da
Confederação Brasileira de
Desportos Aquáticos -a dupla
estreou ontem no controle dos
testes. E o caso de Rebeca monopolizou as perguntas.
"Pedi essa coletiva para poder trabalhar também. Tenho
três telefones, e são os três tocando ao mesmo tempo. Não
dou conta", afirmou De Rose.
Apesar de saber do resultado
positivo de Rebeca no dia 13, o
médico disse que não poderia
interferir no processo, que estava a cargo da Fina.
Ele lembrou também de outro caso de Rebeca, de 2006,
que até hoje não foi julgado.
CBDA e Fina discutem o caso.
De Rose diz que o resultado
no ano passado também foi positivo para testosterona.
Já a médica Renata Castro,
ex-chefe de doping da CBDA
que deixou o cargo, afirma que
detectou falhas no exame, feito
no Canadá. E que isso teria incomodado algumas pessoas.
As amostras de urina da nadadora teriam sido degradadas,
o que pode alterar o resultado.
Coaracy Nunes, presidente
da CBDA, não comenta o caso,
que corre em sigilo. "Depois, eu
falo alguma coisa, e a confederação é punida, o pai da Rebeca
me processa...", disse ele.
Segundo De Rose, o caso da
suposta fraude nas amostras de
urina colhidas no Pan, que tinham dois DNAs diferentes,
por pouco não veio à tona antes
do positivo do dia 13, responsável pela suspensão de Rebeca.
"Não sei por que a Fina demorou também a divulgar o segundo caso. Ela só falou quando eu informei que iria divulgar
o terceiro [dos DNAs]."
A Folha não conseguiu falar
com a Fina ontem.
O médico, porém, disse que
não levou o teste em conta ao
pedir as análises dos DNAs.
"Decidi fazer porque percebemos alterações que, por si só,
já poderiam configurar caso
positivo. Mas seria um caso pesado, difícil, discutível. Fomos
ver se o DNA ajudava."
De Rose afirmou que o estafe
da nadadora será investigado.
O caso está na Delegacia de Repressão aos Crimes contra a
Saúde Pública do Rio. O médico irá depor nesta segunda.
"Muitos pensam que o entorno
do atleta não pode ser processado. Se, durante as investigações tiver elemento que incrimine qualquer pessoa, ela será
punida pela lei antidoping."
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