São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 2006

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Desertores sonham com retorno pós-Fidel

DA REPORTAGEM LOCAL

Eles deixaram Cuba em busca do profissionalismo. Queriam mais chances para crescer e ganhar dinheiro com o esporte. Na ilha, isso não era possível.
Mas a vontade de voltar dos desertores às vezes é grande. A escolha impôs sacrifícios: deixar para trás a família, que tem restrições para visitá-los.
Pelas leis cubanas, os parentes de quem deixou o país para tentar uma vida no exterior precisam enfrentar uma "quarentena", que chega a cinco anos, para saírem do país. Quem abandonou a terra natal não pode voltar.
A doença de Fidel Castro e seu afastamento do poder, porém, trouxeram nova esperança. Atletas radicados no Brasil e na Europa apostam em um afrouxamento das regras. "Espero que a coisa fique mais flexível. Seria bom", afirma a pivô de basquete Lisdeivi Victores Pompas, primeira desertora a atuar no basquete profissional do Brasil -pelo Ourinhos (SP).
Angel Dennis fez caminho semelhante, mas para a Itália. Ele abandonou o país no início de 2002 ao lado de cinco companheiros do vôlei. O atleta teve de esperar dois anos para atuar em um time local. E quase cinco anos para reencontrar os pais. Só em julho viu Caridad e Williams juntos. "É sofrido ficar longe. Falávamos só por telefone", afirmou à Folha.
Dennis se casou com uma italiana. Não pensa em voltar a viver no país natal, mas sonha em rever familiares e amigos.
Quando deixou Cuba, tentou acordo para seguir na seleção.
"A gente queria vestir a camisa do nosso país, mas também queria ter a chance de jogar em times profissionais."
Dennis conta que os desertores enviaram uma carta ao governo cubano. Dariam parte de seus salários em troca de liberdade de atuar na Itália e defender sua seleção. Pedido negado.
Atletas de Cuba não podem atuar como profissionais. Exceções, porém, já foram abertas, como na ida de jogadores para o vôlei italiano por determinados períodos ou na atuação de destaques do beisebol no Japão. Mas a proibição ainda é a regra no país.
Para a Human Rights Watch, organização que se dedica à proteção dos direitos humanos, as restrições de visita a parentes são uma agressão à liberdade. "Claramente isso infringe o direito de ir e vir. Não sei se algo mudará sem Fidel, mas tememos que a situação piore", diz Daniel Wilkinson, membro da entidade.0 (GR E ML)


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