São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 2006

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JUCA KFOURI

Bom cabrito não berra


Aquela coluna sobre a artificialidade do Grêmio Barueri rendeu muitas denúncias e irados protestos


PELO MENOS é o que diz o ditado: bom cabrito não berra. Mas neste Brasil varonil as coisas não são bem assim. Os cabritos berram quando vêem que deu bode e querem se passar por vestais.
Que é o que mais irrita, por sinal. Mil vezes um Castor de Andrade, que jamais quis passar pelo que não era, do que certas figuras que fazem o diabo e exigem ser tratados como se fossem santos.
Quando não são, esperneiam, processam, desqualificam, mentem desbragadamente, mentirosos natos que são. Veja o caso do Grêmio Barueri. Tratado como fenômeno pelos que se contentam com o visível, assim que teve, aqui, um outro lado relatado, esperneou.
Sagrado direito, diga-se, o de espernear. Jus esperneandis! Mas quem esperneia chama mais a atenção e exige mais investigação. Este colunista ficou impressionado, para começar, com o número de mensagens de apoio que recebeu de moradores da cidade de Barueri.
Impressionado porque é incontestável que o atual prefeito, Rubens Furlan, que quer ser governador de São Paulo, é um campeão de votos -como também aqui foi devidamente mencionado. O nível de denúncias sobre a situação da educação na cidade, cujo secretário é irmão do prefeito, sobre o tratamento ao funcionalismo público, do saneamento básico à saúde e sobre a especulação imobiliária na região é coisa para ser tratada em outra editoria, não neste espaço.
Mas ainda no que diz respeito ao futebol do Barueri, a coluna tem condição de afirmar que nada menos do que R$ 30 milhões, só nos últimos dois anos, foram repassados pela prefeitura à ONG que mantém o time. Mais de R$ 1 milhão por mês, coisa que muito clube grande do Brasil não tem como receita.
Há quem queira discutir se é ou não papel de uma prefeitura apoiar dessa forma o esporte. Parece claro que não há uma regra, que cada caso pode ser um caso. Por exemplo: num lugar em que todos os problemas básicos estejam resolvidos, é perfeitamente aceitável esse tipo de auxílio. Certamente, no entanto, não é o caso de Barueri e, provavelmente, de nenhuma cidade brasileira.
Diga-se que Ipatinga, como já aconteceu com São Caetano, parece adotar a mesma fórmula, prova apenas de que um erro não justifica outro se for mesmo igual. Ao que tudo indica, Barueri é um cenário, maquiado, como as novelas da TV. Os bastidores é que são elas.

Cidadãos de segunda
Rendeu, também, e até mais, a coluna sobre o título acima. Para a surpresa da coluna, que esperava muita pancada pela provocação, foi desproporcional o número de apoios em relação ao de protestos de quem, justificadamente, sentiu-se agredido até por considerar que faz sua parte. A estes, minhas desculpas. E volto ao tema para tentar ser justo: a reação da sociedade diante do pornográfico aumento pretendido pelo Congresso foi típica de cidadãos de primeiríssima classe.
Não só via internet, que é bacana, mas é mais fácil, mas nas ruas, nas diplomações dos eleitos pelo país afora e em Brasília, na frente do Congresso, o que houve foi bonito, por lembrar o país das "Diretas-Já" ou do impeachment de Collor. Como escreveu Clóvis Rossi, facada não, mas escracho sim, muito escracho, como fazem os argentinos, também aqui citados, até pela proximidade dos hermanos.

Kirrata
Quem tem anéis é Saturno, não Vênus, ora, troca bolas...

blogdojuca@uol.com.br


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