São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Domínio estrangeiro cria rixa no atletismo

Atletas querem restrição ainda maior, enquanto confederação teme represália

Na temporada do ano passado, corredores do Quênia trinfaram em 42 das 47 provas de fundo que foram organizadas no Brasil

JOSÉ EDUARDO MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

O fracasso brasileiro nas provas de fundo em 2009 reascendeu a discussão sobre a Norma 9 do regulamento da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo), que limita o número de atletas estrangeiros no país. Mais: colocou em lados opostos atletas e dirigentes.
Cansados do domínio africano em corridas de rua, técnicos e atletas nacionais querem restringir ainda mais a participação de estrangeiros nas competições disputadas no país.
Segundo o previsto pela entidade, apenas três competidores de cada país estrangeiro podem participar de uma prova de rua.
"Acho a limitação para três participantes de cada país um absurdo. Deveria ser três competidores para todo o continente africano", diz Alexandre Minardi, técnico do Cruzeiro.
Outra mudança na regra sugerida pelos atletas brasileiros é a restrição do número de provas que um forasteiro pode participar durante o ano.
"Hoje a situação é complicada para nós. O queniano chega ao Brasil mais bem preparado, disputa e vence todas as provas que pode durante três meses e depois vai embora. O ideal seria que cada competidor, tanto estrangeiro quanto brasileiro, participasse de cerca de oito provas durante o ano", diz Giomar Pereira, líder do ranking nacional de corridas de rua.
A CBAt, por sua vez, não cogita alterar o regulamento neste ano e limitar ainda mais o número de africanos nas provas.
"Os quenianos dominam as provas de fundo não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Você pega a lista do ranking de atletas da Iaaf [entidade que gerencia o atletismo mundial] e os africanos, não só os quenianos, dominam. Não é um fenômeno que acontece só aqui", afirma Roberto Gesta de Melo, presidente da CBAt.
A Norma 9 foi criada como forma de proteção aos atletas nacionais, que perderam espaço para os estrangeiros, principalmente os africanos, nos últimos anos em corridas de fundo.
A reserva de mercado, no entanto, não surgiu o efeito esperado e o domínio aumentou ainda mais. Os quenianos atingiram em 2009 a incrível marca de 42 vitórias em 47 provas no Brasil, segundo levantamento da Folha. Só a queniana Eunice Kirwa ganhou 12 corridas.
"Isso [o limite de estrangeiros] tem de ser muito bem analisado. Fazemos parte de um contexto internacional. Daqui a pouco pode haver retaliação aos brasileiros no exterior. Não podemos passar a impressão de existir um protecionismo exagerado no país", diz Gesta.
Para os dirigentes, a raiz do fraco desempenho dos brasileiros pode estar no treinamento ou na falta de planejamento.
"O brasileiro precisa focar e escolher melhor as corridas. Não adianta competir todas as semanas. É necessário escolher a prova e fazer um treino específico", analisa Esmeralda de Jesus, vice-presidente da Federação Paulista de Atletismo.
"Pode ser também que boa parte dos brasileiros não se dedique ao trabalho de base na pista antes de disputar as provas de rua", conclui Gesta.


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