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Domínio estrangeiro cria rixa no atletismo
Atletas querem restrição ainda maior, enquanto confederação teme represália
Na temporada do ano passado, corredores do Quênia trinfaram em 42 das
47 provas de fundo que foram organizadas no Brasil
JOSÉ EDUARDO MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL
O fracasso brasileiro nas provas de fundo em 2009 reascendeu a discussão sobre a Norma
9 do regulamento da CBAt
(Confederação Brasileira de
Atletismo), que limita o número de atletas estrangeiros no
país. Mais: colocou em lados
opostos atletas e dirigentes.
Cansados do domínio africano em corridas de rua, técnicos
e atletas nacionais querem restringir ainda mais a participação de estrangeiros nas competições disputadas no país.
Segundo o previsto pela entidade, apenas três competidores
de cada país estrangeiro podem
participar de uma prova de rua.
"Acho a limitação para três
participantes de cada país um
absurdo. Deveria ser três competidores para todo o continente africano", diz Alexandre Minardi, técnico do Cruzeiro.
Outra mudança na regra sugerida pelos atletas brasileiros
é a restrição do número de provas que um forasteiro pode participar durante o ano.
"Hoje a situação é complicada para nós. O queniano chega
ao Brasil mais bem preparado,
disputa e vence todas as provas
que pode durante três meses e
depois vai embora. O ideal seria
que cada competidor, tanto estrangeiro quanto brasileiro,
participasse de cerca de oito
provas durante o ano", diz Giomar Pereira, líder do ranking
nacional de corridas de rua.
A CBAt, por sua vez, não cogita alterar o regulamento neste
ano e limitar ainda mais o número de africanos nas provas.
"Os quenianos dominam as
provas de fundo não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Você
pega a lista do ranking de atletas da Iaaf [entidade que gerencia o atletismo mundial] e os
africanos, não só os quenianos,
dominam. Não é um fenômeno
que acontece só aqui", afirma
Roberto Gesta de Melo, presidente da CBAt.
A Norma 9 foi criada como
forma de proteção aos atletas
nacionais, que perderam espaço para os estrangeiros, principalmente os africanos, nos últimos anos em corridas de fundo.
A reserva de mercado, no entanto, não surgiu o efeito esperado e o domínio aumentou
ainda mais. Os quenianos atingiram em 2009 a incrível marca
de 42 vitórias em 47 provas no
Brasil, segundo levantamento
da Folha. Só a queniana Eunice Kirwa ganhou 12 corridas.
"Isso [o limite de estrangeiros] tem de ser muito bem analisado. Fazemos parte de um
contexto internacional. Daqui
a pouco pode haver retaliação
aos brasileiros no exterior. Não
podemos passar a impressão de
existir um protecionismo exagerado no país", diz Gesta.
Para os dirigentes, a raiz do
fraco desempenho dos brasileiros pode estar no treinamento
ou na falta de planejamento.
"O brasileiro precisa focar e
escolher melhor as corridas.
Não adianta competir todas as
semanas. É necessário escolher
a prova e fazer um treino específico", analisa Esmeralda de
Jesus, vice-presidente da Federação Paulista de Atletismo.
"Pode ser também que boa
parte dos brasileiros não se dedique ao trabalho de base na
pista antes de disputar as provas de rua", conclui Gesta.
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