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FUTEBOL
Velhas perguntas, novas respostas
JOSÉ ROBERTO TORERO
Sabemos todos que muitos jogadores, salvo honrosas exceções, como Ricardinho, Caio e Rogério
Ceni, têm alguma dificuldade para se expressar.
Os erros de sintaxe que cometem, sua pronúncia equivocada e
sua insistência em recorrer a lugares-comuns já foram alvo de milhares de piadas, sempre com sucesso para o público.
Pois bem, quero dizer aqui que
não serei mais um desses. Ao invés
da sátira, que é cruel e destrutiva,
optarei por um gesto de humanidade e estenderei minha mão.
Como?
Acendendo uma vela, ao invés
de amaldiçoar a escuridão; propondo novos estilos e novos fraseados para substituir suas respostas mais ordinárias.
Assim, penso, contribuirei para
seu desenvolvimento pessoal e
oferecerei aos sofridos ouvidos dos
ouvintes um leque maior de possibilidades expressivas.
Vamos começar, então, do gênesis, da frase mais batida, mais frequente. Segundo minhas pesquisas ela é essa:
""O adversário é uma grande
equipe, mas são 11 contra 11, e nós
vamos dar tudo de si e, se Deus
quiser, nós vamos sair daqui com
a vitória."
Pois bem, para ""O adversário é
uma grande equipe", proponho
uma resposta poética:
""Ah, repórter, nossos oponentes
são verdadeiros titãs. A simples
menção de seu nome faz a terra
tremer e os vagalhões do mar se
agitarem. Eles são mais valentes
do que leões, são mais rápidos do
que águias e mais astutos do que
serpentes. Bem-aventurado aquele que pode escapar de um duelo
em que as chances de vitória são
tão pequenas."
Para ""são 11 contra 11", sugiro
uma resposta sociológica:
""... e o fato de sermos 11 contra 11
leva-me a pensar na idealidade
dessa situação, pois que, havendo
igualdade, há também justas condições de um enfrentamento
equânime, o que, penso, deveria
se estender ao conjunto da sociedade, em que, por força do domínio dos meios de produção por
uns e da tibieza de outros enquanto classe, vigora a mais repulsiva
injustiça."
Para o trecho ""vamos dar tudo
de si", penso eu numa versão mais
psicológica:
""Vamos dar tudo de si, meu caro repórter, e, quando digo ""tudo
de si", creio que estou deixando
falar meu subconsciente, pois dar
tudo de si significa que o outro é
que vai ter que se desdobrar. Chamo isso de ato falho cortês, o que
se encaixa no arquétipo quixotesco, ou seja, a capacidade de fazer
com que as urgências do id suplantem as restrições comportamentais do superego."
Para ""se Deus quiser, nós vamos
sair daqui com a vitória", a proposição não poderia deixar de ser
religiosa:
""Sim, amado entrevistador, se
for da vontade do Pai Supremo,
não há dúvida de que colheremos
o galardão da vitória, porque se
Deus é por nós, quem será contra
nós. E seremos mais do que vencedores naquele que nos criou a sua
imagem e nos preparou para dar
testemunho de sua glória."
Eis aí minha contribuição para
essa que, espero, será uma triunfante revolução no campo das entrevistas esportivas.
Eeeee é isso aí, estamos de parabéns, e foi uma crônica difícil, bastante equilibrada, mas graças a
Deus saiu mais uma, e espero que
continue assim, com muita garra
e determinação, suando a camisa,
dando nosso sangue e sempre
agradando os leitores que pagam
o jornal e têm direito a um texto
de qualidade.
E-mail torero@uol.com.br
José Roberto Torero escreve às sextas e às
terças-feiras
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