São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2000


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Leandro Bredariol, 2,18 m, joga no Real Madrid B, da Espanha
O gigante esquecido


Ex-office boy em Itatiba (SP), teen que rejeitava esportes e foi descoberto por acaso é o mais alto jogador do Brasil


LUÍS CURRO
da Reportagem Local

O mais alto jogador de basquete do Brasil na atualidade tem 19 anos, atua na Europa e é desconhecido em seu país natal.
Natural de Itatiba (90 km ao norte de São Paulo), Leandro Bredariol, 112 kg, mede 2,18 m.
Joga desde 1998 na Espanha, na segunda equipe do Real Madrid, que disputa a EBA, uma liga regional da Espanha, equivalente aos Estaduais brasileiros.
O curioso é que, até três anos atrás, Leandro, avesso à prática de esportes, não tinha tido nenhum contato com uma bola de basquete. Era office-boy, em serviço prestado à guarda mirim de sua cidade. "Pagava contas, ia ao banco, essas coisas", revelou ele à Folha, por telefone, na terça-feira passada, após treino de seu time.
E foi em um desses percursos pelas ruas de Itatiba que Leandro foi "descoberto" pelo empresário espanhol Luis Martin, que também mora em Itatiba.
Martin comentou que sua mulher, Sonia, contou um dia que uma amiga tinha um primo muito alto, com "uns 2,15 m".
Martin afirmou que, inicialmente, não acreditou. "As pessoas têm o costume de exagerar."
Mas, ao vê-lo, com uniforme da guarda mirim, constatou que tinha, pelo menos, a altura relatada.
Martin começou, então, um trabalho para convencer Leandro, que relutava em começar a jogar. Para sua sorte, o pai de Leandro, Vanderlei Bredariol, 1,88 m (a mãe, Teresa, tem 1,82 m), um entusiasta do esporte, conseguiu fazer a cabeça do filho.
"Só queria saber de video game e também gostava de desenhar. Era bom de mão. Mas falei "vai, que essa é a chance de sua vida". Disse que seria sacrificoso (sic), mas que tinha que ir", disse Vanderlei, que é operador em uma indústria de gás em Jundiaí.
Convencido, o grandalhão iniciou alguns treinos, em um clube em Jundiaí, a contragosto. "Falaram que eu teria futuro no basquete, mas nunca havia praticado esporte. Só na escola, e bem pouquinho. Nunca tinha pegado em uma bola de basquete antes."
Pelas características físicas, Leandro se assemelha ao pivô Dikembe Mutombo, do Atlanta Hawks (NBA), nascido no Congo e que tem 2,18 m e 118 kg.
Martin, que é empresário de vários atletas brasileiros, iniciou contatos na Espanha no final de 1997, e pouco tempo depois um técnico do Real Madrid veio ao Brasil observar Leandro.
Não gostou da técnica do brasileiro -que até então inexistia-, mas sim de sua altura. O jogador foi a Madri, fez alguns testes, foi aprovado e se transferiu no início do ano seguinte. "Fizeram um contrato de cinco anos, resolveram apostar nele", disse Martin.
Para obter vaga na equipe B do Real Madrid, o novato jogador precisou apenas conseguir um passaporte que lhe permitisse atuar como jogador comunitário. Num caso raro, segundo Martin, o trâmite não foi complicado, já que a avó materna de Leandro é italiana e viva -mora em Itatiba.
Aluno aplicado em escola de sua cidade -antes de viajar à Europa, terminou o ensino médio- , apelidado de "poste" pelos colegas de classe, Leandro, surpreendentemente, afirmou ter tido uma adaptação rápida na Espanha.
"Adaptei-me fácil. O ambiente é muito bom, tratam-me muito bem. Falar espanhol também não foi difícil. Aprendi em um mês."
Atualmente, fala o espanhol até melhor do que o português. Na entrevista à Folha, várias vezes misturou os dois idiomas. "Isso acontece muito, porque aqui não falo português com ninguém."
A maior dificuldade do brasileiro foi mesmo com o basquete.
"A maioria dos jogadores do Real Madrid começou a jogar com 9 ou 10 anos. Tinham muito mais experiência do que eu. Tive que treinar muito sozinho para aprender a técnica individual", afirmou ele. "Até agora, não aprendi a jogar, ainda estou tentando", acrescentou, rindo.
Porém não é o que pensa a comissão técnica de seu time. A partir da temporada 99/00, o treinador Tirso Lorente, que já esteve com a equipe principal do Real Madrid e dirigiu jogadores de ponta, como o armador croata Drazen Petrovic -já morto- e o pivô lituano Arvydas Sabonis, já efetivou o brasileiro como titular.
"No torneio passado, fiquei direto na reserva. Só entrava quando estávamos ganhando por 30 pontos. Mas meu jogo melhorou, e o treinador passou a confiar em mim", declarou o brasileiro.
Neste campeonato da EBA, entretanto, Leandro afirmou que a equipe não está muito bem e que, dificilmente, chegará à fase final.
Leandro é assumidamente tímido, respondendo à maioria das questões com frases curtas, quase monossilábicas. Não tem namorada e divide um apartamento com dois colegas de equipe.
O Real Madrid lhe paga as despesas de hospedagem, alimentação e um salário, que, segundo ele, é de cerca de R$ 3.000/mês.
Saudade do Brasil, disse ter, mas não muita, pois, além dos treinos, mantém-se entretido com outras atividades. "O time também me paga aulas de informática e de inglês, para eu não ter tempo de pensar no Brasil e na família."
Leandro não sabia que é o mais alto brasileiro em atividade no basquete. "Não é o Josuel?", questionou, em alusão ao pivô do Flamengo que tem 29 anos e 2,08 m.
No Campeonato Nacional, em andamento, Manuil Souza, 20, 2,15 m, tem a maior estatura. Está na reserva do Vasco/Barueri.
Segundo a CBB (Confederação Brasileira de Basquete), Emil Rached, que disputou pelo Brasil o Pan-Americano de 1967 (Canadá) e o de 1971 (Colômbia), é o recordista histórico, com 2,20 m.


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