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BARRADOS NO BAILE
Juiz festeja falta de insultos no jogo em que flanelinha e ambulante desapareceram e os fãs viram pelo buraco do portão
Sem torcida, atletas ouvem narração ao vivo
KLEBER TOMAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Pela primeira vez em 12 anos,
desde que o filho Clever, 39,
tornou-se juiz de futebol, dona
Maria Gonçalves, 65, não ficou
com a orelha vermelha.
Sem torcida nas arquibancadas do estádio Anacleto Campanella (que tem capacidade
para 22.738 pessoas), a mãe do
juiz mineiro de Santos x Paysandu foi poupada do repertório de impropérios, xingamentos e palavrões dirigidos à progenitora daqueles que escolheram o apito para trabalhar.
"Isso nunca aconteceu na minha carreira: nenhum torcedor
para me xingar de filho-da-p...
Nem os jogadores ou técnicos
se atreveram a me xingar. Primeiro, porque sem torcida dá
para escutar tudo o que se fala
dentro de campo. Segundo,
porque fiz uma boa arbitragem", comenta o juiz mineiro.
Ele entrou para a história do
futebol brasileiro ao apitar um
dos dois jogos da elite do Nacional que não tiveram torcedores. O outro foi o do Fortaleza. Algo, até então, inédito.
O mando de ontem foi do
Santos, mas o duelo foi realizado em São Caetano do Sul e
com os portões do estádio fechados porque o time cumpriu
suspensão referente ao jogo
com o Corinthians, pelo Nacional de 2004, na Vila Belmiro,
quando objetos foram atirados
para o campo por torcedores.
Apesar da punição imposta
pelo STJD (Superior Tribunal
de Justiça Desportiva) da CBF,
Cosmo Damião, 50, um dos
fundadores da Torcida Jovem
do Santos, burlou a segurança e
entrou no Anacleto antes do
duelo. Estendeu uma faixa da
torcida no alambrado, atrás de
um dos gols, mas logo depois
os fiscais mandaram retirá-la.
"Isso é um absurdo. Proíbem
a torcida de entrar e nem nos
deixam colocar uma faixa?", reclamava Damião, que afirma
ter conseguido penetrar no estádio com a conivência do Santos. O clube nega.
Mas um outro torcedor santista conseguiu entrar. O delegado Osvaldo Nico Gonçalvez,
coordenador do Garra (Grupo
Armado de Repressão a Roubos e Assaltos), que prendeu o
zagueiro argentino Desábato,
do Quilmes, havia sido "barrado no baile", mas ligou para o
presidente Marcelo Teixeira,
do Santos, e entrou.
"Eu também sou auditor da
FPF, mas os fiscais não me reconheceram", justificou Nico.
Enquanto isso, Teixeira já
contabilizava o prejuízo pela
falta da torcida e renda. "Tivemos uma despesa de R$ 30
mil", reclamou o cartola.
O presidente só não atendeu
ao pedido de dez torcedores
santistas que olhavam o jogo
pelo buraco do portão e esticavam o pescoço sobre os muros,
entoando o hino da equipe.
Fora isso, o clima pré-jogo
não existiu: flanelinhas, ambulantes e vendedores de camisas
desapareceram. Nem os poucos torcedores se aguentaram.
Uns foram embora e os outros
insistiam em subir nos muros e
xingar em vão o bandeira.
Nada. Silêncio. Paysandu e
Santos entram em campo como se estivessem num hospital.
Quando Deivid marcou. Ficou parado, olhou para a arquibancada vazia e caminhou em
direção aos fotógrafos e ao
banco de reservas. Na hora do
gol de pênalti de Robinho, os
atletas escutaram narradores
das cabines de rádio e TV gritarem o nome do craque. Eco.
"Eu até pensei em subir no
alambrado para comemorar,
mas, depois, me toquei que não
havia torcida", disse Robinho,
que "roubou" a atenção dos 20
PMs que faziam a segurança do
jogo. Sem torcida, eles só prestaram atenção aos dribles do
atleta e ao baile do Santos.
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