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FUTEBOL
Atleta diz que não irá liderar luta contra o racismo e que só lamenta o fato de o argentino ser colega de profissão
Grafite não perdoa nem se importa caso Desábato seja preso
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Na primeira entrevista exclusiva
após a prisão de Leandro Desábato, Grafite diz que teve pena do argentino, mas que não o perdoou
nem terá remorso se sua acusação
levar o zagueiro do Quilmes a pegar três anos de cadeia. Ele falou à
Folha, por telefone, na última sexta. Não deixou pergunta sem resposta e rechaçou o rótulo de
"combatente do racismo".
Folha - Como foi a decisão de levar o caso à polícia?
Grafite - Fui ao vestiário, tomei
banho. O pessoal desceu e falou:
"Negão, não fica triste não". Lamentei a expulsão e fiquei lembrando dele me chamando de
"negro de merda". Na imagem da
TV, não tem como constatar que
ele falou isso, mas eu ouvi. Tomei
a decisão quando estava acabando o jogo. Juvenal Juvêncio [diretor de futebol do São Paulo] falou
que tinha visto as imagens. Perguntou se eu queria ir à delegacia
dar queixa e deixou a decisão nas
minhas mãos. Resolvi ir, porque
havia me sentido humilhado.
Folha - Antes do jogo, você disse
que troca de ofensas é normal no
futebol. Por que mudou a posição?
Grafite - Pela maneira como
ocorreu. No primeiro jogo, discuti com Arango e Sánchez. No Morumbi, discuti de novo com o
Arango, mas eram ofensas de jogo, "filho-da-puta", "vai tomar no
cu"... Já o Desábato estava fora
disso e veio da área deles me chamar de "negro de merda". Me
senti ofendido. A situação de jogo
é uma coisa. Faltar com respeito e
humilhar os outros é outra.
Folha - Teve pena de Desábato?
Grafite - Lógico. Senti pena de
vê-lo algemado pela TV. Sei que
tem uma família, uma mulher
grávida. Vivi um drama com minha mãe seqüestrada e senti pena
por causa disso, mas a atitude que
a polícia teve não é problema
meu. Fiquei com pena porque é
um companheiro de profissão.
Folha - Você o perdoou?
Grafite - Não posso falar que vou
perdoá-lo. Qualquer dia podemos
nos encontrar e isso pode acontecer. Mas o fato de eu perdoar não
implica a retirada da queixa.
Folha - Ele pode ser condenado a
três anos de reclusão...
Grafite - Paciência. Cada um
tem que ter consciência dos seus
atos e responder por eles. Se for
condenado, a lei fará seu trabalho.
Não cabe a mim julgar a lei.
Folha - O fato de ter levado como
testemunhas um funcionário e um
amigo enfraquece o caso?
Grafite - Creio que não. A Folha
deu muita ênfase às testemunhas.
Eles depuseram sobre o que acharam certo, o que viram na hora.
Folha - O lance foi diante do auxiliar do juiz e de outros atletas. Por
que eles não foram testemunhas?
Grafite - Não sei se eles ouviram.
O Diego Tardelli estava ao lado do
bandeirinha e não ouviu. Se tirar
o Desábato do Morumbi e levá-lo
à delegacia foi difícil, imagine tentar levar o auxiliar do árbitro...
Folha - Disse algo sobre bananas?
Grafite - Desábato falou da banana inclusive no depoimento, o
que é mentira. Antes do jogo, só
disse: "Vá com Deus, boa sorte".
Folha - Você teme represálias da
Conmebol contra o São Paulo?
Grafite - Não acredito. A Conmebol é muito bem dirigida. Se
houver algum fator extracampo,
o departamento jurídico do São
Paulo se encarregará do caso.
Folha - Esse caso pode torná-lo alvo de novas manifestações?
Grafite - Era o meu direito. Sou
rotulado como autor do pontapé
inicial da luta contra o racismo no
futebol. Não quero ser um marco
nem nada. Isso pode me beneficiar ou prejudicar. Só o tempo dirá, mas estou triste com a faixa do
Quilmes mostrada no domingo.
Folha - O que foi pior: os gritos de
Desábato ou aquela faixa?
Grafite - A faixa é de torcedor.
Fiquei chateado. Mas o Desábato
causou um enorme constrangimento. Foi errado ter me xingado
em razão da cor da minha pele. É
diferente de ser ofendido por fãs.
Folha - As dúvidas sobre os testemunhos lhe prejudicam?
Grafite - Não. Após a entrevista
coletiva, no dia seguinte ao caso,
esta é a primeira vez que falo sobre isso. Tudo o que foi publicado
foi passado por terceiros, então
não enfraquece o caso.
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