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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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Até data do fim da rebelião foi traçada na CBF

DO PAINEL FC

Entre as 16h30 e as 19h de terça-feira os principais cartolas do futebol brasileiro arquitetaram, em detalhes, como seria o motim que obrigaria o governo federal a recuar e a atenuar pontos do Estatuto do Torcedor que desagradavam ao establishment do esporte mais popular do país.
Desde a criação de um fato noticioso de impacto (com transmissão ao vivo no "Jornal Nacional") até a data do fim da rebelião, tudo foi discutido na sala principal de reuniões da sede da CBF, no Rio.
O dia do encontro, terça, foi escolhido de propósito. A pedido de Ricardo Teixeira, Marco Antonio Teixeira telefonou para Fábio Koff. Disse que precisava que o presidente do Clube dos 13 fosse a uma reunião. O presidente da CBF chamou Marcelo Campos Pinto (Globo Esportes), Mario Celso Petraglia (Atlético-PR) e as federações de Rio, Paraná e Santa Catarina. Koff convocou o resto.
Na sala de reunião, Ricardo Teixeira sentou-se em uma das cabeceiras. No lado oposto, charuto na boca, o vascaíno Eurico Miranda.
O primeiro e único assunto do encontro foi o Estatuto do Torcedor. Teixeira perguntou aos clubes o que eles achavam da nova lei. Em seguida, Carlos Eugênio Lopes (diretor jurídico da CBF) entregou aos presentes um parecer em que afirmava que diversos artigos da lei, como o 19 e o 37, eram inconstitucionais.
Eurico foi o primeiro dos cartolas de clubes a falar com veemência. Até aí, não havia sido discutida a possibilidade de paralisação.
Era consenso que o establishment deveria buscar uma liminar no Supremo Tribunal Federal, alegando inconstitucionalidade do estatuto. O vascaíno chegou a dizer que um partido nanico poderia patrocinar a Ação Direta de Inconstitucionalidade.
O vascaíno, então, disse que estava aproveitando a ocasião para informar a CBF que seu time não jogaria mais em São Januário -e que reduziria a capacidade do estádio para 19,5 mil pessoas.
O ex-deputado disse ainda que estava claro que a lei tinha como alvos claros ele mesmo e Teixeira. Que era uma caça às bruxas.
Teixeira só ouvia. O presidente da Federação do Rio, Eduardo Viana, o Caixa D'Água, afirmou que havia duas alternativas. Ou jogar com portões fechados ou parar de vez. Teixeira brecou a primeira opção, ponderando que seria uma afronta ao governo.
Apesar de negar oficialmente, a Globo Esportes, detentora dos direitos do Brasileiro e parceira da CBF, apoiou a paralisação. Avaliava, assim como outros cartolas, que só o fato político seria capaz de fazer o governo negociar. Temia um Nacional decidido no tapetão, o que depreciaria seu principal e mais lucrativo produto.
A estratégia estava traçada: na quarta, o ministro sentaria para conversar. No máximo até sexta, vitória assegurada, o motim teria fim. O establishment anunciaria, radiante, a volta do futebol, para a alegria dos brasileiros. A cartolagem esboçou tudo. Só se esqueceu de avisar o Planalto. (FM E FV)


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