São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 2006

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CARLOS SARLI

Uma morte bonita

Vitor Negrete, que realizou um sonho ao chegar topo do mundo, cume do Everest, via a morte como algo natural

VITOR NEGRETE, 38, um de nossos alpinistas mais experientes, morreu na semana passada fazendo o que mais gostava: escalando. Depois de atingir o topo do mundo, o cume do Everest, e sem a ajuda de oxigênio complementar, Vitor começou a descer e a se sentir mal. Conseguiu chegar a um dos acampamentos no alto da montanha, onde morreu dormindo, assistido por outros alpinistas. Não houve dor, nem angústia, nem sofrimento. Vitor chegou onde queria, viu o mundo lá de cima e foi embora. Se existe um clímax na morte, o de Vitor é fácil de ser detectado. Ele morreu logo depois de realizar o grande sonho.
Claro que aqueles que ficam -família, amigos, fãs- sentem saudade e, por isso, sofrem. Morrer, para pessoas como você e eu, não é natural. Mas, para Vitor, era. "A morte na montanha pode ser tão feia quanto uma pedra que cai e surpreende quem faz uma trilha. Ou pode ser tão linda quanto sete homens que lutam contra uma tempestade, dando tudo o que têm (...). Isso é lindo porque a maior luta humana é pela sobrevivência."
A frase não é de Vitor, mas foi citada por ele em um texto escrito para a revista "Go Outside", em janeiro. A frase é de Mark F. Twight e era considerada por Vitor a reflexão mais impressionante sobre montanhismo. O artigo levava o título de "Morte nas Montanhas". Aqueles que escalam sabem que estão flertando com a morte. E não vêem nisso nada de mórbido. Muito pelo contrário. Porque histórias como as de Vitor podem ser bonitas, mesmo que terminem antes da hora. Ou não. Como a de Ana Elisa Boscarioli, amiga de Vitor, que conseguiu chegar ao topo do Everest um dia depois dele e acabou voltando com vida. Paulista, cirurgiã plástica, mãe de Francesca, 5, Ana esteve com ele no acampamento-base, antes de iniciarem a subida. Iam se encontrar na volta. Ele foi pela face norte, ela, pela face sul.
Ana soube da morte do amigo durante a descida, quando ainda tinha que atravessar dois dos trechos mais perigosos e fatais. Amigos e familiares não queriam que a notícia fosse dada a ela antes que estivesse na base, temendo aumentar seu grau de insegurança. Mas não houve jeito. Assim que foi informada, ficou atônita e retomou a descida sem luvas. Teve que ser alertada para o fato, porque não sentia o gelo queimando sua pele. A cirurgiã plástica cumpriu o restante do percurso chorando, mas se agarrou à idéia de que, por ele, devia completar.
Ana sabe que Victor morreu após realizar o grande sonho. E sabe que ter voltado com vida é, também, uma forma de homenagear o amigo e ídolo.
SKATE
Após anos de jejum, um skatista de São Paulo volta ao topo do pódio no street. Diego Oliveira bateu os campeões mundiais Carlos de Andrade e Rodil Ferrugem para vencer a 1ª edição do Pro Rad. No final de semana, há disputa no vertical, com Bob Burnquist e Sandro Dias.

SURFE 1
Começou ontem na praia de Maresias a 2ª etapa do Super Surfe, a divisão principal do Circuito Brasileiro. Claudemir Lima, líder do ranking, estreou com vitória. A etapa deve acabar no domingo.
SURFE 2
Na 3ª edição do Oakley Junior Challenge, para atletas com menos de 20 anos e com baterias diferentes, Jadson André venceu na sub-20, e Miguel Pupo, na sub-16.

@ - sarli@trip.com.br


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