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CARLOS SARLI
Uma morte bonita
Vitor Negrete, que realizou
um sonho ao chegar topo do
mundo, cume do Everest, via
a morte como algo natural
VITOR NEGRETE, 38, um de nossos alpinistas mais experientes, morreu na semana passada fazendo o que mais gostava:
escalando. Depois de atingir o topo
do mundo, o cume do Everest, e
sem a ajuda de oxigênio complementar, Vitor começou a descer e a
se sentir mal. Conseguiu chegar a
um dos acampamentos no alto da
montanha, onde morreu dormindo,
assistido por outros alpinistas. Não
houve dor, nem angústia, nem sofrimento. Vitor chegou onde queria,
viu o mundo lá de cima e foi embora. Se existe um clímax na morte, o
de Vitor é fácil de ser detectado. Ele
morreu logo depois de realizar o
grande sonho.
Claro que aqueles que ficam -família, amigos, fãs- sentem saudade
e, por isso, sofrem.
Morrer, para pessoas como você e
eu, não é natural. Mas, para Vitor,
era. "A morte na montanha pode
ser tão feia quanto uma pedra que
cai e surpreende quem faz uma trilha. Ou pode ser tão linda quanto
sete homens que lutam contra uma
tempestade, dando tudo o que têm
(...). Isso é lindo porque a maior luta
humana é pela sobrevivência."
A frase não é de Vitor, mas foi citada por ele em um texto escrito para a revista "Go Outside", em janeiro. A frase é de Mark F. Twight e era
considerada por Vitor a reflexão
mais impressionante sobre montanhismo. O artigo levava o título de
"Morte nas Montanhas".
Aqueles que escalam sabem que
estão flertando com a morte. E não
vêem nisso nada de mórbido. Muito
pelo contrário. Porque histórias como as de Vitor podem ser bonitas,
mesmo que terminem antes da hora. Ou não. Como a de Ana Elisa
Boscarioli, amiga de Vitor, que conseguiu chegar ao topo do Everest
um dia depois dele e acabou voltando com vida.
Paulista, cirurgiã plástica, mãe de
Francesca, 5, Ana esteve com ele no
acampamento-base, antes de iniciarem a subida. Iam se encontrar
na volta. Ele foi pela face norte, ela,
pela face sul.
Ana soube da morte do amigo durante a descida, quando ainda tinha
que atravessar dois dos trechos
mais perigosos e fatais. Amigos e familiares não queriam que a notícia
fosse dada a ela antes que estivesse
na base, temendo aumentar seu
grau de insegurança. Mas não houve jeito. Assim que foi informada, ficou atônita e retomou a descida
sem luvas. Teve que ser alertada para o fato, porque não sentia o gelo
queimando sua pele.
A cirurgiã plástica cumpriu o restante do percurso chorando, mas se
agarrou à idéia de que, por ele, devia
completar.
Ana sabe que Victor morreu após
realizar o grande sonho. E sabe que
ter voltado com vida é, também,
uma forma de homenagear o amigo
e ídolo.
SKATE
Após anos de jejum, um skatista
de São Paulo volta ao topo do pódio
no street. Diego Oliveira bateu os
campeões mundiais Carlos de Andrade e Rodil Ferrugem para vencer a 1ª edição do Pro Rad. No final
de semana, há disputa no vertical,
com Bob Burnquist e Sandro Dias.
SURFE 1
Começou ontem na praia de Maresias a 2ª etapa do Super Surfe, a
divisão principal do Circuito Brasileiro. Claudemir Lima, líder do
ranking, estreou com vitória. A
etapa deve acabar no domingo.
SURFE 2
Na 3ª edição do Oakley Junior
Challenge, para atletas com menos
de 20 anos e com baterias diferentes, Jadson André venceu na sub-20, e Miguel Pupo, na sub-16.
@ - sarli@trip.com.br
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