São Paulo, terça-feira, 25 de maio de 2010

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Festa com a seleção deve dar fôlego extra a governo

FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO

A presença da seleção brasileira deverá dar ao presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, há 30 anos no poder, um muito necessário fôlego político extra.
Mugabe é o ditador zimbabuano desde abril de 1980, controlando com mão de ferro esse país que já foi uma colônia modelo do Império Britânico e hoje apresenta instabilidade endêmica.
Há pelo menos dez anos, o Zimbábue é uma dor de cabeça para a África. Mugabe, um ex-ícone do movimento de libertação nacional africano, já foi comparado ao sul-africano Nelson Mandela.
Mas, no poder, calou dissidentes e arrasou a economia, de base agrária, ao expropriar fazendas produtivas de brancos e redistribuir as terras para aliados políticos.
No início da década, o país entrou em uma espiral de autodestruição que fez a inflação anual chegar à casa dos bilhões por cento. Cédulas de 10 trilhões de dólares zimbabuanos passaram a circular.
Protestos surgiram, e manifestantes, em uma tentativa de tentar manter algum humor, definiam-se como "bilionários famintos".
Em 2008, Mugabe venceu uma eleição presidencial sobre a qual pairam enormes suspeitas de irregularidades e intimidação. Com a pressão internacional, ele aceitou dividir o poder com seu principal adversário político, Morgan Tsvangirai, que foi nomeado primeiro-ministro.
Em fevereiro último, a coalizão fez um ano. A economia foi dolarizada, o que eliminou a hiperinflação, e algo da ajuda internacional voltou. No entanto, aos 86 anos e sem dar algum sinal de que vai se aposentar, Mugabe mantém o controle sobre o aparato de segurança do país e sabota o trabalho de seu próprio primeiro-ministro.
Hoje, há 3 milhões de zimbabuanos vivendo no exterior, ou 30% da população. Os brancos, que formavam uma minoria influente na economia, fugiram quase todos para o exterior.
Entre os países do Terceiro Mundo, o velho ditador mantém uma aura parecida com a do cubano Fidel Castro, de um líder "anti-imperialista".
Nos últimos meses, aumentou a pressão internacional sobre o presidente do Zimbábue pela realização de eleições livres. Entretanto, a presença da seleção de Dunga no país será recebida com euforia e deve dar um respiro ao velho presidente.


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