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1954
A Copa que reaparece
Alemanha, Brasil, Coréia do Sul e Turquia, os semifinalistas deste Mundial,
repetem hoje muito do que o planeta
viu há 48 anos, 12 Copas atrás, na Suíça, antes de
surgir Pelé. Foi em 1954, no único Mundial em
que os quatro times haviam disputados juntos
antes desse. Luiz Felipe Scolari tinha só cinco
anos. A Coréia vivia o rescaldo da maior guerra
de sua história. O futebol turco engatinhava no
segundo ano de sua vida profissional. E a Alemanha dividida enviava pela primeira vez uma seleção ao torneio -o time do lado ocidental.
PAULO COBOS
ROBERTO DIAS
ENVIADOS ESPECIAIS A SEUL
O Brasil de 1954 era um time
que carregava o mesmo trauma
da equipe de Rivaldo e Ronaldo.
Assim como agora, a derrota
na final anterior deixara marcas
profundas na seleção. Em um e
outro caso, o uniforme simboliza as mudanças após a derrota.
Na derrota de 1950, colocou-se
parte da culpa na cor branca da
camisa, que teria dado azar. Na
Suíça, o Brasil exibiu sua nova
vestimenta, amarela.
Na derrota de 1998, o dedo foi
apontado para a Nike, fabricante da camisa brasileira, que à
época atuava como agente do time, organizando jogos e marcando compromissos publicitários. Antes de ir à Ásia, a seleção
refez seu contrato com a empresa, que passou a se limitar ao
fornecimento do uniforme.
Aquele Brasil de 1954 era uma
equipe marcada por uma novidade, as eliminatórias, que a seleção disputava pela primeira
vez. Algo que também é importante para esta seleção atual, para a qual as eliminatórias ficaram marcadas de uma forma
bem mais traumática: o time fez
a pior campanha de sua história.
Quem também sofreu nas eliminatórias foram os alemães,
que só se classificaram na repescagem, de forma a chegarem a
esta Copa desacreditados.
Contudo a Alemanha de 1954
sofrera do mesmo mal. Sem ter a
confiança da torcida, surpreendeu o mundo ao avançar pela
Copa, como este time do técnico
Rudi Völler. Na Suíça, ao menos, o final foi feliz: os alemães
saíram de lá campeões.
Já para a Turquia, a coincidência entre os protagonistas desta
semifinal com o torneio de 1954
é ainda maior: ela teve confrontos diretos com dois deles.
A seleção turca tinha naquela
época uma geração de jogadores
que desfilavam pelo futebol italiano, o que também ocorre com
o atual time, mas seu desempenho ficou longe do que alcançou
a equipe que pegará o Brasil.
Sofreu duas goleadas diante da
Alemanha: 1 a 4 na estréia e 2 a 7
na terceira e última partida. Entre um e outro revés, os turcos
também aplicaram sua maior
goleada, 7 a 0 na Coréia do Sul.
Os atuais donos da casa, aliás,
têm muitos motivos para comemorar seu desempenho naquele
torneio. Contudo na estréia, antes do 7 a 0 diante da Turquia,
haviam sofrido outra goleada,
ainda pior: 9 a 0 para a Hungria.
Em campo, Ferenc Puskas, o
líder do time húngaro -que,
coincidentemente, mais de 40
anos iria se tornar um dos
apoiadores famosos da candidatura sul-coreana para receber o
Mundial deste ano.
Naquele torneio de 1954, independentemente das goleadas, os
sul-coreanos cumpriam um feito histórico, assim como agora.
Tornavam-se o primeiro time
asiático independente a disputar o Mundial. Em 2002, o ineditismo está no fato de ter dado alguns passos adiante e ter se tornado o primeiro asiático a chegar à semifinal do torneio.
Mas uma história mostra bem
a distância que separa esta Coréia de agora, que joga com um
pressão gigantesca da torcida a
favor, e aquele time de 1954.
A viagem da equipe para a Suíça demorou seis dias. Não havia
vôos diretos, e o trecho foi cumprido por terra, trilhos, mar e ar.
Na parte final, alguns jogadores viajaram em um avião militar americano. Segundo relata o
Comitê Organizador desta Copa, os assentos eram grandes demais para os pequenos sul-coreanos, e alguns jogadores não
conseguiam nem mesmo colocar os pés no chão enquanto estavam sentados. O resultado foi
que o time chegou exausto à Suíça, e ainda por cima na véspera
de sua estréia na competição.
Ainda tiveram tempo de bater
uma bola no jardim do hotel em
que se instalaram, para sentirem
algo a que não estavam muito
acostumados: a grama.
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