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ATENAS 2004
Terceira potência da ginástica começa a definir hoje, na Califórnia, equipe que irá aos Jogos de Atenas
Seletiva e Daiane botam medo nos EUA
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Ela tem 1,44 m, vem de um país
sem tradição na modalidade, não
passou de coadjuvante apagada
em Sydney, há quatro anos. Mas
pelo que fez nos últimos dez meses, Daiane dos Santos tornou-se
idéia fixa, com picos de temor, nas
atletas dos EUA, a terceira potência olímpica da ginástica.
"Competi contra a Daiane algumas vezes e fiquei bastante impressionada. Ela é muito, muito
forte. Impressionante... Todas
aqui estão trabalhando forte com
uma só meta: batê-la em Atenas",
declarou à Folha, por telefone,
Courtney Kupets, 17, a principal
ginasta americana da atualidade.
"No solo, a Daiane é incrível.
Sempre aparece com coisas novas, rotinas que ninguém havia
imaginado. Precisamos admitir
que ficamos e ainda estamos um
pouco assustadas", afirmou Carly
Patterson, 16, que dividiu com
Courtney o título do individual
geral -que considera o desempenho nos quatro aparelhos- no
último Nacional dos EUA, encerrado há exatos 20 dias.
Hoje, as duas estarão em ação
novamente. Em Anaheim, na Califórnia, começarão a disputar
com outras 13 ginastas as seis vagas do país para os Jogos de Atenas. E aí está mais um motivo de
temor, agora dos dirigentes americanos: o formato da seletiva.
Apenas as duas primeiras colocadas no individual geral serão
classificadas automaticamente
para a Olimpíada. O resto da
equipe será definido por critérios
subjetivos. No mês que vem, após
um período em um campo de
treinos a ser definido, uma comissão de observadores escolherá as
outras quatro ginastas da equipe.
"Se a Daiane assustou nossas
atletas nos últimos tempos, o que
mais nos preocupa é essa segunda
fase da seleção. Teremos que ser
muito cuidadosos para não cometer injustiças. Precisamos levar
para Atenas aquelas que estiverem nas melhores condições técnicos e físicas", afirmou Bob Colarossi, presidente da federação.
Questionado pela Folha se não é
um disparate uma federação com
85 mil atletas, segundo dados da
própria entidade, e 76 medalhas
olímpicas se preocupar com uma
ginasta brasileira, Colarossi foi
curto e grosso: "Depois do que ela
fez aqui em Anaheim, não é".
Foi na cidade californiana, em
agosto do ano passado, que Daiane, 21, alcançou o estrelato. Lançou no esporte o duplo twist carpado, movimento no qual realiza
um mortal com meia-volta e dois
giros no ar, com as pernas flexionadas -batizado depois de "Dos
Santos" pela federação internacional. E tornou-se a primeira ginasta brasileira a conquistar uma
medalha de ouro em Mundiais.
Desde então, não foi batida por
ninguém no solo em etapas da
Copa do Mundo: foram quatro
ouros em quatro eventos, em
Stuttgart, Lyon, Cottbus e Rio de
Janeiro. E, para desespero de suas
rivais, aprimorou seu movimento
para o duplo twist esticado, de
execução ainda mais complicada.
"O grande trunfo dela vem sendo a criatividade. É isso que queremos superar na prova de solo
em Atenas", completou Kupets.
Criatividade que chamou a
atenção também da imprensa
americana. Daiane ganhará uma
página no guia olímpico da
"Sports Illustrated", principal revista de esportes dos EUA.
"Estamos preparando uma seção com grande atletas que não
são americanos. E Daiane será
destaque, como a Maria Mutola
[campeã mundial e olímpica dos
800 m] e os times de basquete que
podem bater os EUA", disse Brian
Cazeneuve, editor do guia.
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