São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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ATENAS 2004

Terceira potência da ginástica começa a definir hoje, na Califórnia, equipe que irá aos Jogos de Atenas

Seletiva e Daiane botam medo nos EUA

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Ela tem 1,44 m, vem de um país sem tradição na modalidade, não passou de coadjuvante apagada em Sydney, há quatro anos. Mas pelo que fez nos últimos dez meses, Daiane dos Santos tornou-se idéia fixa, com picos de temor, nas atletas dos EUA, a terceira potência olímpica da ginástica.
"Competi contra a Daiane algumas vezes e fiquei bastante impressionada. Ela é muito, muito forte. Impressionante... Todas aqui estão trabalhando forte com uma só meta: batê-la em Atenas", declarou à Folha, por telefone, Courtney Kupets, 17, a principal ginasta americana da atualidade.
"No solo, a Daiane é incrível. Sempre aparece com coisas novas, rotinas que ninguém havia imaginado. Precisamos admitir que ficamos e ainda estamos um pouco assustadas", afirmou Carly Patterson, 16, que dividiu com Courtney o título do individual geral -que considera o desempenho nos quatro aparelhos- no último Nacional dos EUA, encerrado há exatos 20 dias.
Hoje, as duas estarão em ação novamente. Em Anaheim, na Califórnia, começarão a disputar com outras 13 ginastas as seis vagas do país para os Jogos de Atenas. E aí está mais um motivo de temor, agora dos dirigentes americanos: o formato da seletiva.
Apenas as duas primeiras colocadas no individual geral serão classificadas automaticamente para a Olimpíada. O resto da equipe será definido por critérios subjetivos. No mês que vem, após um período em um campo de treinos a ser definido, uma comissão de observadores escolherá as outras quatro ginastas da equipe.
"Se a Daiane assustou nossas atletas nos últimos tempos, o que mais nos preocupa é essa segunda fase da seleção. Teremos que ser muito cuidadosos para não cometer injustiças. Precisamos levar para Atenas aquelas que estiverem nas melhores condições técnicos e físicas", afirmou Bob Colarossi, presidente da federação.
Questionado pela Folha se não é um disparate uma federação com 85 mil atletas, segundo dados da própria entidade, e 76 medalhas olímpicas se preocupar com uma ginasta brasileira, Colarossi foi curto e grosso: "Depois do que ela fez aqui em Anaheim, não é".
Foi na cidade californiana, em agosto do ano passado, que Daiane, 21, alcançou o estrelato. Lançou no esporte o duplo twist carpado, movimento no qual realiza um mortal com meia-volta e dois giros no ar, com as pernas flexionadas -batizado depois de "Dos Santos" pela federação internacional. E tornou-se a primeira ginasta brasileira a conquistar uma medalha de ouro em Mundiais.
Desde então, não foi batida por ninguém no solo em etapas da Copa do Mundo: foram quatro ouros em quatro eventos, em Stuttgart, Lyon, Cottbus e Rio de Janeiro. E, para desespero de suas rivais, aprimorou seu movimento para o duplo twist esticado, de execução ainda mais complicada.
"O grande trunfo dela vem sendo a criatividade. É isso que queremos superar na prova de solo em Atenas", completou Kupets.
Criatividade que chamou a atenção também da imprensa americana. Daiane ganhará uma página no guia olímpico da "Sports Illustrated", principal revista de esportes dos EUA.
"Estamos preparando uma seção com grande atletas que não são americanos. E Daiane será destaque, como a Maria Mutola [campeã mundial e olímpica dos 800 m] e os times de basquete que podem bater os EUA", disse Brian Cazeneuve, editor do guia.


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