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Pátria de chuteiras começou em 1938, diz pesquisador
Era Vargas elevou o futebol a referência na identidade do Brasil, auxiliada pela seleção que no primeiro Mundial na França avançou até as semifinais
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
Um dos maiores símbolos
nacionais, a seleção brasileira
começou a se tornar referência
na identidade do país a partir
de 1938. Em "A Invenção da
Nação Canarinho", o pesquisador da FGV (Fundação Getúlio
Vargas) Carlos Eduardo Sarmento defende que a construção dessa referência se deu a
partir de investimento do governo de Getúlio Vargas (1882-1954), no Estado Novo.
Segundo Sarmento, de 1914,
com o primeiro jogo da seleção,
até a Copa de 1938, não havia a
caracterização da nacionalidade, por fatores como a disputa
política no comando formal do
futebol, entre cariocas e paulistas. Nessa época, também não
estavam presentes jogadores
mestiços ou negros.
"No início, o futebol era um
esporte de elite, com times locais repletos de imigrantes europeus. Até havia negros e mulatos, mas eles não eram convocados, à exceção de Arthur
Friedenreich, filho de alemão,
mas que era mulato. No entanto ele disfarçava as características étnicas, alisando o cabelo e
evitando tomar sol", disse.
Em sua pesquisa, Sarmento
analisa a construção de um estado nacionalista na era Vargas.
"Essa política está diretamente ligada à construção do
homem brasileiro, com um discurso de que a miscigenação é
um fator positivo, que distingue o homem brasileiro dos outros. Além disso, o esporte é um
fator de construção do homem
novo. E o futebol começa a ganhar um contorno nítido de ser
um esporte de massa, com muito apelo popular", falou ele.
É nessa época que negros começam a ser escalados, como
Leônidas e Domingos da Guia,
o que serve para atrair um contingente da população que antes via o futebol como meramente elitista. A partir daí, para
o pesquisador, o futebol vira
um canal de repercussão de
discursos políticos e é eficaz para transmitir as mensagens.
Uma das primeiras e mais
fortes atitudes do governo federal no controle da gestão do
esporte, segundo Sarmento, é a
ida de Luiz Aranha (irmão de
Oswaldo Aranha, então ministro da Justiça) para a presidência da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), em 1936,
com interferência do governo.
Sem experiência prévia, ele
era advogado e estava na vida
política havia anos. Mas se tornou peça-chave de muitas das
articulações que definiram a vida política da cidade do Rio de
Janeiro nos anos 1930.
A filha de Getúlio Vargas, Alzira, torna-se então madrinha
da seleção, tira foto com os jogadores. "Essa é uma demonstração de que o que está em jogo é o Estado brasileiro, e a imprensa passa a repercutir isso."
Essas decisões acabam por
serem publicadas pela imprensa, e o governo federal paga para um locutor oficial transmitir
os jogos em cadeia nacional. É
feito, então, um investimento
oficial pela primeira vez.
O Brasil ter chegado à semifinal em 1938 colaborou para que
a seleção fosse identificada como símbolo nacional e consolidou o esforço feito pelo governo. O time acabou em terceiro
lugar naquele Mundial.
Seguido de um longo período
sem Copas, em 1950 o Brasil organiza e sedia o campeonato.
"Nessa época, houve uma manipulação muito grande de forças políticas para se aproveitar
do que representava a seleção.
Na preparação da Copa, os políticos passam a freqüentar a
concentração dos jogadores e a
convidá-los para diversos compromissos sociais. Ali, a seleção
já era uma marca", afirmou.
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