São Paulo, sábado, 25 de junho de 2011

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RITA SIZA

Prodígio pouco "special"


Arriscada, a aposta do Chelsea em Villas-Boas é uma lufada de ar fresco também

O OLIGARCA RUSSO que é dono do Chelsea, Roman Abramovich, deve gostar de prodígios, ou não teria contratado para o seu clube Drogba, Anelka ou, agora, André Villas-Boas, pagando pela rescisão do técnico português com o FC Porto qualquer coisa como 15 milhões, uma das transferências mais caras do mercado europeu até ao momento.
É verdade que o jovem Villas-Boas foi prodigioso na sua única época à frente da equipa portista, instigando nos jogadores uma táctica e disciplina de jogo e uma mentalidade vencedora que os levou a conquistar o primeiro lugar em todas as competições em que estiveram envolvidos menos uma (doméstica e relativamente pouco importante).
Com apenas 33 anos, venceu o campeonato nacional, a Taça de Portugal e a Liga Europa, sem nunca conceder uma vitória, um facto impressionante -de tal maneira que terá impressionado Abramovich, que já há algum tempo estaria de olho em Villas-Boas. E talvez o sucesso de Villas-Boas não tenha sido uma surpresa tão grande para o russo, que já o conhecia dos tempos de José Mourinho no Chelsea. AVB, como já designou a imprensa esportiva, era nessa altura o adjunto, e por causa disso não se livrará tão cedo das comparações com seu "superior".
Aliás, nesta semana o conhecido jornalista inglês Paul Hayward explicava de forma algo inusitada a manobra de Abramovich na contratação de AVB. Usando a imagem das matrioskas russas, explicava que o dono do Chelsea se limitara a abrir ao meio a boneca de Mourinho, tirando lá de dentro a boneca mais pequena de Villas-Boas.
Mas se dúvidas houvesse que AVB não é simplesmente um clone de Mourinho, basta comparar como um e outro saíram do Porto e chegaram ao Chelsea -ambos de rompante, é certo, mas a chamada de Villas-Boas constituiu surpresa, enquanto o contrato de Mourinho era segredo de polichinelo que se tornou evidente quando o treinador nem sequer subiu ao relvado para festejar a conquista da Champions, o troféu mais importante da sua carreira.
A aposta em Villas-Boas é arriscada, mas não deixa de ser também uma lufada de ar fresco. Sensato, o técnico não se definiu como um génio, mas garantiu "estar à altura da responsabilidade". E num importante aviso para o balneário, para o clube, para os adeptos e para a imprensa, recusou ser uma figura providencial: "Não se foquem tanto em mim. Isto não é o trabalho de uma pessoa mas de todo um grupo". Bem diferente de Mourinho, que logo no primeiro dia em Londres anunciou, com pompa, que era o "Special One" por quem, alegadamente, os fãs britânicos clamavam.


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