São Paulo, domingo, 25 de julho de 2004

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FUTEBOL

A final tão esperada

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

A seleção brasileira sempre teve mais dificuldades contra equipes que arriscam, marcam mais à frente, como fez o Uruguai no primeiro tempo, do que diante de times que recuam para contra-atacar, como atuou o México na derrota por 4 a 0 para o Brasil.
Com Bielsa, a Argentina sempre jogou contra o Brasil como fez o Uruguai. No Mineirão, pelas eliminatórias, os argentinos marcaram por pressão, tiveram mais a posse de bola e criaram várias chances de gol. Taticamente, foi uma partida parecida com a contra o Uruguai. A diferença foi o Ronaldo.
As melhores formas de sair dessa marcação por pressão são a mudança da bola de um lado para o outro, o drible e a troca rápida de passes. Os jogadores brasileiros não estão acostumados a jogar com equipes que marcam dessa maneira. Outra postura seria o Brasil também marcar mais à frente em alguns momentos. Mas Parreira não gosta disso. Prefere recuar e fechar os espaços na defesa.
Por outro lado, quando o time pressiona e não recupera a bola, os zagueiros ficam desprotegidos. No Mineirão, os defensores argentinos corriam atrás do Ronaldo. Por causa do cansaço, não dá também para jogar dessa forma durante grande parte do jogo.
Desde que Bielsa assumiu a seleção argentina, após o Mundial de 98, é a primeira vez que o time joga com dois zagueiros e dois laterais, como fazem Brasil e quase todas as seleções da Europa.
Nas cinco partidas da Copa América, a Argentina atuou dessa forma, em vez de ir a campo com três autênticos zagueiros.
O esquema com dois zagueiros e dois laterais tem mais vantagens em relação ao com três zagueiros e dois alas. O perigo é deixar dois defensores sem cobertura contra dois atacantes, como Luis Fabiano e Adriano, já que nem sempre dá tempo de um volante ou um dos laterais recuar para sobrar um defensor. Por isso, é bastante provável que o técnico argentino volte ao esquema anterior.
As duas seleções atuam com três jogadores adiantados, mas são diferentes os desenhos táticos.
A Argentina joga com dois pontas e um centroavante, e o Brasil atua com um meia de ligação e dois atacantes. Os três da Argentina são fixos e mais fáceis de serem marcados.
Os argentinos, com razão, não concordam que o Brasil está com o time reserva e eles com os titulares, já que estão ausentes Verón, Crespo, Aimar e Samuel. Porém Verón não joga há muito tempo, e Crespo e Samuel estão mais ou menos no nível dos substitutos. Aimar faz falta.
No Brasil, com exceção dos dois Ronaldinhos, Cafu e Roberto Carlos, é pequena a diferença técnica nas outras posições. Mas os quatro são mais importantes do que os quatro ausentes da Argentina. Como Adriano está muito bem, faz falta o Ronaldo que atuou contra a Argentina, no Mineirão, e não o que jogou diante do Chile, pelas eliminatórias.
A Argentina tem mais responsabilidade na conquista do título porque conta com mais titulares, decepcionou na Copa de 2002, perdeu para o Brasil no último jogo e está atrás nas eliminatórias. Bielsa corre risco de perder o emprego. Em caso de derrota do Brasil, ninguém, com o mínimo bom senso, vai questionar a permanência do técnico Parreira.
Independentemente do resultado, o Brasil fez uma boa campanha na Copa América.

Discreto e brilhante
Contra o Uruguai, Alex foi de novo discreto na maior parte do jogo e brilhante em alguns momentos, como no gol.
Ele recebeu a bola na intermediária e, quase de costas, numa pequena fração de segundos, dominou e deixou Luis Fabiano livre para finalizar. Adriano completou a jogada, empatando a partida. Outro, no lugar de Alex, conduziria a bola ou demoraria um pouco mais para decidir o que fazer. Aí, Luis Fabiano entraria em impedimento.
A diferença entre o excelente jogador, que tem muita habilidade e técnica, e o craque é que este último, além dessas qualidades, antevê o lance, pensa mais rápido e sabe o instante exato, único, de realizar a jogada. Como ele sabe? Sabendo. O craque não tem explicação. Ele é.
Se Alex tivesse a forca física, a mobilidade e a velocidade do Kaká, e o jogador do Milan possuísse o passe rápido e surpreendente e a inventividade de Alex, os dois seriam tão bons quanto o Ronaldinho Gaúcho.

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