|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA
JANETH ARCAIN
Só quero dar folga às minhas mãos
Ala deixa as quadras às lágrimas e diz que esteve no lugar certo, na hora certa
DONA RITA, a costureira, prometera que
não iria chorar. E não chorou. Ao soar o
sinal marcando o fim da partida, com o
Brasil derrotado, ela se manteve lá, na
torcida, firme, acenando para a filha, a qual incentivou
a jogar o esporte da bola laranja. Na quadra, Janeth
dos Santos Arcain, 38, em lágrimas, encerrava sua história na seleção. E também nas quadras de basquete,
em que deu seus primeiros passos há 24 anos, em SP.
EDGARD ALVES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Em 1983, a menina Janeth
assistiu a um Mundial feminino de basquete realizado no
Ibirapuera e se apaixonou.
"Percebi que o basquete era
um esporte de desafios, emoções e metas", afirmou ela, que
decidiu trocar o vôlei do Corinthians, onde atuava como ponta ou meio, pelo novo esporte.
E começou a se dedicar ao
basquete em Catanduva, no interior paulista, levada pela mãe
e por uma professora.
Mas, após quatro Olimpíadas, cinco Mundiais e 21 anos
em quadra com a camisa do
Brasil, ela cansou da rotina dos
treinos. Principal atleta do país
na modalidade após Paula e
Hortência, agora, com 38 anos,
Janeth quer aproveitar para
dormir até mais tarde, ver filmes, comentar jogos para a TV
e tocar seu projeto social.
E resumiu sua carreira no
microfone da Arena Multiuso,
após o Brasil perder para os
EUA e ficar com a prata no Pan:
"Se chorei ou sorri, o importante é que emoções eu vivi".
FOLHA - Qual o significado do basquete na sua vida?
JANETH ARCAIN - É o meu tudo.
Quando falo isso, é porque é o
que mais gosto de fazer. Jogar
basquete vai além de desafios, é
um esporte majestoso, cheio de
novidades e de superação. No
basquete fazemos amigos, criamos responsabilidades, aprendemos a respeitar o próximo. E
é o esporte para o qual me dediquei com amor.
FOLHA - A decisão de encerrar a
carreira foi complicada?
JANETH - Não diria que foi fácil,
mas foi segura, onde vários fatores ajudaram para que isso
um dia acontecesse.
FOLHA - Nesse caso, o Pan no Rio
de Janeiro veio em boa hora?
JANETH - Se eu falar que tinha
planejado encerrar a minha
carreira no Pan estaria mentindo, pois tinha a intenção de jogar no Rio de Janeiro, voltar
para disputar a segunda fase na
WNBA [liga feminina profissional norte-americana] e então encerrar a carreira lá. Como
não foi possível, percebi que o
Pan seria o momento ideal.
FOLHA - Qual a sua mensagem para as atletas novatas?
JANETH - Que elas sigam acreditando que o Brasil pode melhorar a quarta posição [do último Mundial] no ranking da Fiba [Federação Internacional de
Basquete]. E que sejam muito
unidas para que isso aconteça
rápido, porque têm potencial.
FOLHA - Qual a principal lição nesses 24 anos de carreira?
JANETH - Aprendi muito a equilibrar os lados emocional e racional. E percebi que, com muito trabalho e dedicação, sempre
estou na hora certa, no momento certo, no lugar certo e
com as pessoas certas.
FOLHA - O que faltou para o ouro
olímpico? Não deu ou a chance foi
desperdiçada?
JANETH - Realmente esse era
um dos meus grandes sonhos,
não o maior, mas infelizmente
tivemos as oportunidades e não
soubemos aproveitá-las, talvez
o ouro olímpico fosse sonhar
alto demais, e espero que essa
nova geração saiba alcançar.
FOLHA - O que significou vestir a
camisa da seleção?
JANETH - Uma grande realização profissional e pessoal. Para
toda atleta, defender a nação
não tem preço. Por isso, abri
mão de alguns anos na WNBA.
FOLHA - Quais os momentos que
mais marcaram?
JANETH - A prata na Olimpíada
de Atlanta, em 1996, foi muito
importante. Tem o título mundial na Austrália, em 1994, e o
tetra na WNBA [1997, 1998,
1999 e 2000], pelo Houston.
FOLHA - Seleção, WNBA e torneios
nacionais. Qual deles deixará mais
saudades?
JANETH - A seleção brasileira,
pois foi ela quem me projetou
para o reconhecimento nacional e internacional.
FOLHA - Hoje, mais madura, você
repetiria tudo de novo?
JANETH - Sim, sem pensar duas
vezes. E seria com o mesmo
amor, carinho e sentimento pelo basquete.
FOLHA - De fora, como você vê as
chances do Brasil no Pré-Olímpico
[no Chile, em setembro, que vale
uma vaga para Pequim-2008]?
JANETH - Tenho certeza de que
vamos conseguir uma vaga, seja
na primeira fase seja na segunda, pois eu acredito muito nesse grupo e no potencial de nossas jogadoras.
FOLHA - O que é o Centro de Formação Esportiva Janeth Arcain?
JANETH - É um programa social, sem fins lucrativos, que visa tirar crianças e jovens de 7 a
15 anos da ociosidade, proporcionando integração, respeito,
disciplina e amor à prática esportiva. Para um jovem entrar
lá [em Santo André], é preciso
estar matriculado no ensino
fundamental ou médio.
FOLHA - Vai vestir camisola ou tem
novos desafios?
JANETH - Eu tenho outros desafios. Pretendo continuar no
meio esportivo, como diretora,
técnica, comentarista ou até
mesmo em marketing esportivo, mas, antes de tudo isso, agora só quero dar folga para os
meus pés e as minhas mãos.
FOLHA - Casamento? Filhos?
JANETH - Hoje eu diria que não,
mas vou ter mais tempo agora
para aproveitar.
Texto Anterior: [+]Qualidade: Hoyama entra na lista dos top ten Próximo Texto: Frases Índice
|