São Paulo, sexta-feira, 25 de setembro de 2009

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Nas contas, Rio é a menos transparente

Postulação carioca aos Jogos-2016 não informa gastos e salários, contrata sem licitação e ignora dados sobre executivos

Chicago divulga rendas de seus diretores, Madri faz concorrência para uso de toda verba pública, e Tóquio detalha perfis de sua equipe

MARIANA LAJOLO
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Rio de Janeiro tem a candidatura menos transparente entre as quatro concorrentes aos Jogos-2016 -as outras são Chicago, Madri e Tóquio. A postulação brasileira é a que dá menos informações sobre custos e financiamento da postulação, além de não exibir os currículos da equipe do comitê no site.
Detalhe: é a candidatura do Rio a que tem a maior fatia percentual de dinheiro público entre as quatro cidades que buscam ser a sede da Olimpíada.
Toda bancada com recursos privados, com doações de empresas, Chicago-2016 é quem fornece mais detalhes sobre sua operação financeira. Um relatório do comitê de candidatura da cidade detalha no seu site cada uma das fontes de recursos e os gastos, com explicações para cada um deles.
São listados, por exemplo, os salários dos 11 principais executivos da postulação americana. O presidente do comitê, Lori Healey, ganha US$ 250 mil (R$ 448 mil) por ano.
Ainda são detalhados os gastos com consultorias, que somam em torno de US$ 11 milhões (R$ 19,7 milhões). "Em vários casos, a compensação desses experts teve significativos descontos nas taxas de suas cobranças-padrão", relata o Comitê Chicago-2016.
Em seu site, o Comitê Rio- -2016 não revela nem o gasto total da candidatura -só havia uma previsão, feita em 2008.
Questionado pela Folha, o comitê brasileiro se recusou a detalhar os gastos até agora. "A campanha ainda está em curso. Após o término da disputa, o comitê, no compromisso com a transparência, apresentará o demonstrativo de receitas e despesas publicamente", disse a assessoria do Rio-2016.
Levantamento da reportagem mostrou que a candidatura brasileira deve consumir cerca de R$ 100 milhões.
Contatada pela Folha, Madri detalhou seus custos, por meio do diretor financeiro do Comitê Madri-2016, Gerardo Corral.
O orçamento inicial do projeto era de US$ 40 milhões (R$ 72 milhões) para três anos de campanha. Deve atingir aproximadamente 40 milhões (cerca de R$ 105 milhões).
O executivo ainda informou que os gastos com marketing e apresentações da candidatura devem consumir 50% do total. As viagens ficarão com entre 10% e 15% do orçamento.
O site de Madri disponibiliza licitações de compras e serviços feitos com verba pública.
"É a lei, isso é obrigatório. Temos de fazer consultas públicas para todos os contratos que ultrapassam 100 mil", afirmou Gerardo Corral.
O site do Rio-2016 tem um link para licitações de serviços e compras. Segundo o comitê, foram realizados 48 processos de fornecedores. Mas, quando contratou a Event Knowledge Services (EKS) por R$ 14,3 milhões, o órgão não fez licitação.
Em seu site, Tóquio-2016 cita a previsão de gastos com candidatura, US$ 45 milhões (R$ 86 milhões), mas não lista como foi gasto o dinheiro. Não houve resposta ao contato da reportagem sobre esses dados.
Em compensação, os japoneses listam o currículo dos 20 executivos que trabalham na candidatura. Ao pedir doações, abrem um canal de informações com o público para fornecer dados sobre a campanha, inclusive os relativos a gastos.
O site do Rio-2016 mostra o organograma do comitê, com os responsáveis por cada setor. Só que não há nenhuma informação sobre cada um deles.


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