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todo-poderoso
CBF veta governo no comitê da Copa
Estatuto de entidade de candidatura ao Mundial-2014, que virará organizadora, exclui qualquer interferência estatal
Ricardo Teixeira é sócio, presidente da Brasil 2014 e detentor de poderes quase absolutos, mas não tem que responder por seus atos
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O comitê de candidatura do
Brasil à Copa do Mundo de
2014 -que se transformará no
organizador da competição-
tem um formato jurídico que
veda a interferência do governo
federal. As regras dão plenos
poderes ao presidente da CBF,
Ricardo Teixeira, como diretor-presidente e sócio.
Esses dados constam do estatuto da Associação Brasil 2014,
obtido pela Folha no registro
civil do Rio de Janeiro.
Se a Fifa confirmar o Brasil
como sede do Mundial, o documento deverá sofrer alterações. Mas o formato jurídico da
entidade deverá ser mantido.
Fundada em junho, a atual
entidade é uma associação civil
sem fins econômicos. E o estatuto deixa a União, que vai bancar a maior parte dos custos do
Mundial, de fora de qualquer
decisão sobre o comitê.
O artigo 30 diz que a entidade "não exerce função delegada
do Poder Público nem se caracteriza como entidade ou autoridade pública e goza de peculiar autonomia quanto à sua organização e funcionamento,
não estando sujeita à ingerência ou interferência estatal".
A Fifa permite que o comitê
organizador seja formatado como empresa, com remuneração e participação dos lucros
dos dirigentes. Mas, como sociedade empresarial, a Brasil
2014 estaria submetida a regras mais duras de fiscalização.
No atual formato, sua situação é similar à de entidades esportivas, autônomas pela
Constituição. Como não tem
fim desportivo, por enquanto,
o comitê também não está submetido à Lei Pelé, que prevê a
publicação de prestações de
contas e fiscalização pelo Ministério Público Federal.
Para reforçar a independência, a Brasil 2014 não pode receber verba pública dentro "da
dotação orçamentária", pelo
artigo 26. Isso impede fiscalização, como ocorreu com o Comitê Organizador dos Pan-2007. Só que patrocínios de estatais estão liberados.
Com autonomia, o comitê
tem seu poder centralizado nas
mãos de Ricardo Teixeira.
A CBF e o dirigente são os
únicos sócios da entidade. Tanto que ele assina tanto em seu
próprio nome quanto no da
confederação.
A Assembléia Geral, que é o
órgão máximo do comitê, é
composta pelos associados. Caberá a esta - na prática, a Teixeira- deliberar sobre contas,
estatuto e composição da diretoria, entre outros tópicos.
Abaixo deles está a diretoria
executiva, composta pelo cartola, presidente, e mais três:
Carlos Langoni, Rui Rodrigues
e Francisco Müssnich.
Nenhum deles será remunerado, nem terá participação
nos lucros. Qualquer despesa
acima de R$ 50 mil tem que ser
aprovada pelo presidente.
Todo-poderoso, Teixeira e
seus diretores estão livres de
serem responsabilizados pelos
atos administrativos da Brasil
2004, pelo estatuto. Só podem
ser responsabilizados por violação à lei. Assim, não se poderia cobrar deles em caso de prejuízos. Esse artigo tem legalidade questionável, segundo advogados ouvidos pela Folha.
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