São Paulo, domingo, 25 de outubro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O PERSONAGEM

Jair Pereira não quer ser esquecido

da Reportagem Local

O currículo de Jair Pereira, 52, desempregado há quase um ano, é de fazer inveja a maioria dos atuais treinadores do futebol brasileiro.
Seu primeiro título aconteceu com a seleção sub-20, quando venceu o Mundial do México, em 83, no time que revelou o volante Dunga e o atacante Bebeto.
Depois, foi campeão paulista com o Corinthians em 88, quando iniciou uma série de seis anos consecutivos com pelo menos um título por ano.
Em outra passagem pelo Corinthians, em 94, Pereira foi vice-campeão brasileiro, perdendo a final para o Palmeiras de Wanderley Luxemburgo.
Mesmo com tantas conquistas, Pereira é o que está há mais tempo desempregado entre os técnicos "medalhões" .
O último trabalho do treinador foi no Bahia, no final da campanha do time que foi rebaixado para a Série B do Brasileiro no ano passado.
Agora, espera por uma oferta de trabalho, de preferência, de algum clube paulista. (PC)

Folha - Por que você está desempregado há tanto tempo?
Jair Pereira -
Infelizmente, mesmo depois de passar pelos clubes mais importantes do Brasil, meu trabalho não está sendo reconhecido. Além disso, a maioria dos treinadores não depende mais de resultados, e sim de ter bons empresários, que mandam no futebol brasileiro nos dias de hoje.
Folha - Você não recebeu nenhuma proposta de emprego na temporada 98?
Pereira -
Recebi ofertas do Fluminense e do Bragantino, mas elas chegaram em momentos que esses clubes estavam numa situação muito ruim. Não teria tempo de fazer um bom trabalho dessa forma.
Folha - Os altos salários recebidos pelos treinadores no Brasil não dificultam na obtenção de emprego?
Pereira -
Isso pode atrapalhar um pouco, mas, depois de 35 anos no futebol, não vou trabalhar por qualquer coisa. Cada profissional deve ganhar pelo que merece.
Folha - O senhor teme a concorrência da nova geração?
Pereira -
Conquistei 15 títulos na minha carreira, o que a maioria dos técnicos atuais juntos não conseguiu.
Folha - Trabalhar no exterior não é mais uma boa opção para os técnicos brasileiros?
Pereira -
Não sei se é uma boa opção. Os salários pagos no exterior são hoje menores do que os do Brasil.
Folha - Como é sua rotina sem o futebol profissional?
Pereira -
Procuro estudar o esporte. Tento fazer outras coisas fora do futebol. Mas é difícil, pois não tenho mais alegria para quase nada.
Folha - Com tanto tempo sem trabalho, como está sua situação financeira?
Pereira -
Tenho uma situação razoável. Além disso, estou fazendo contenção de despesas e contando com a ajuda da minha filha, que é dentista. Mas não posso ficar sem trabalhar por mais tempo. Preciso voltar logo ao futebol.
Folha - O que o senhor pretende fazer para voltar ao futebol profissional?
Pereira -
Agora, ao contrário da maior parte da minha carreira, quando recebia várias propostas, eu preciso correr atrás do emprego. Estão me esquecendo, e isso não pode acontecer. O que eu pretendo fazer é arrumar um empresário, pois sem um fica muito difícil arrumar trabalho em um bom clube.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.