São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 2002

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FUTEBOL

Comunidade do povo árabe que vive no Chile banca preparação do time

América reforça Palestina em busca de vaga na Copa

RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Tanto o Chile quanto a Palestina não se classificaram para a Copa de 2002, mas o país sul-americano está reforçando agora a seleção árabe no difícil caminho até uma vaga no Mundial de 2006.
Hoje pode ser dado um passo, afinal, o time joga contra o anfitrião Kuait para passar às semifinais da Copa Árabe. Mas só uma improvável combinação de resultados fará o time seguir no principal torneio de seleções da região.
Em pleno dia de Natal (feriado cristão, não muçulmano), em campo se poderá ouvir o idioma espanhol empurrando a equipe.
A voz principal será a do técnico Nicola Hadwa, campeão da segunda divisão chilena. Nascido na Faixa de Gaza, ele chegou a Santiago com um ano de idade e nunca retornou à sua terra natal.
""Quero dar uma alegria para meu povo e, depois, fazer minha tão esperada volta. Por algum motivo, Deus me colocou essa prova", afirmou o treinador de 52 anos, por telefone, à Folha.
A cooperação vinda da América do Sul partiu da rica comunidade palestina na nação andina, sua maior concentração fora do Oriente Médio (cerca de 500 mil descendentes). É tão representativa que tem até um clube, o Palestino, que já foi campeão chileno em 1978, contando como o zagueiro Elias Figueroa (ex-Inter-RS).
Nicola, treinador do Palestino e da Palestina, convocou no início do mês 20 atletas vindos do Oriente Médio, que viajaram ao Chile com tudo pago pela comunidade local e lá se encontraram com o reforço de quatro chilenos (Robert Kettlun, Roberto Bishira, Francisco Alam e Edgardo Abdala) e um argentino (Pablo Abdala), com a mesma descendência.
O grupo recebeu outra força extra: a vinda de um norte-americano, Shaker Asad.
""A Copa do Mundo seria uma vitrine para os jogadores e para o país", afirma ""Tito" Bishira, estrela do Palestino, agremiação que cedeu também suas instalações como local para os treinos de preparação para a Copa Árabe.
A missão nesse torneio é passar da primeira fase, o que a equipe nunca conseguiu nas vezes que disputou (1966, 1992 e 1998).
O seguinte objetivo é a campanha nas eliminatórias asiáticas para o Mundial da Alemanha, em 2006, que começam só em 2004.
De novo, o Chile poderia ser a base dos palestinos, dependendo da generosidade da ""colônia", que conta com comerciantes e industriais. O plano B seria treinar nas vizinhas Jordânia ou Síria.
Nicola espera mais reforços americanos para o desafio maior. Além do colombiano Foad Maziri (América de Cali) e do argentino Facundo Sava (Fulham, da Inglaterra), ele tem uma lista de 15 atletas de sangue palestino que atuam na França, Itália e Alemanha.
Há ainda a possibilidade de utilizar o veterano chileno Luis Mussri, 36, que jogou na Copa da França ao lado de Zamorano -em seu caso, a Fifa tem de deliberar se cabe a proibição de um jogador servir duas seleções.
""Há uma diáspora de jogadores, afinal, você não pode fazer um treinamento normal nem em Gaza nem na Cisjordânia", lamenta o técnico da seleção. Um episódio ilustra a situação: dias antes de embarcar para o Chile, o zagueiro Yamal Al Houly teve sua casa derrubada pela artilharia israelense.
Após anos de ocupação militar, Israel e Palestina começaram um processo de paz no final dos anos 90. Nesse período, por exemplo, a seleção árabe chegou a disputar as eliminatórias para a Copa de 2002, mas foi eliminada pelo Qatar ainda na primeira fase.
No final de 2000, porém, começou uma série de atritos que culminou em uma nova Intifada (revolta), o aumento de atos terroristas e das incursões militares de Israel na área sob comando da Autoridade Nacional Palestina.
O Chile, por seu lado, foi o primeiro país das Américas a reconhecer sua autonomia e o único a estabelecer uma embaixada em Gaza. A Fifa, ao contrário da ONU, também a reconhece, posicionando-a no 150º posto de seu ranking, à frente de 30 seleções.


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