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FUTEBOL
Comunidade do povo árabe que vive no Chile banca preparação do time
América reforça Palestina em busca de vaga na Copa
RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL
Tanto o Chile quanto a Palestina
não se classificaram para a Copa
de 2002, mas o país sul-americano
está reforçando agora a seleção
árabe no difícil caminho até uma
vaga no Mundial de 2006.
Hoje pode ser dado um passo,
afinal, o time joga contra o anfitrião Kuait para passar às semifinais da Copa Árabe. Mas só uma
improvável combinação de resultados fará o time seguir no principal torneio de seleções da região.
Em pleno dia de Natal (feriado
cristão, não muçulmano), em
campo se poderá ouvir o idioma
espanhol empurrando a equipe.
A voz principal será a do técnico
Nicola Hadwa, campeão da segunda divisão chilena. Nascido na
Faixa de Gaza, ele chegou a Santiago com um ano de idade e nunca retornou à sua terra natal.
""Quero dar uma alegria para
meu povo e, depois, fazer minha
tão esperada volta. Por algum
motivo, Deus me colocou essa
prova", afirmou o treinador de 52
anos, por telefone, à Folha.
A cooperação vinda da América
do Sul partiu da rica comunidade
palestina na nação andina, sua
maior concentração fora do
Oriente Médio (cerca de 500 mil
descendentes). É tão representativa que tem até um clube, o Palestino, que já foi campeão chileno em
1978, contando como o zagueiro
Elias Figueroa (ex-Inter-RS).
Nicola, treinador do Palestino e
da Palestina, convocou no início
do mês 20 atletas vindos do
Oriente Médio, que viajaram ao
Chile com tudo pago pela comunidade local e lá se encontraram
com o reforço de quatro chilenos
(Robert Kettlun, Roberto Bishira,
Francisco Alam e Edgardo Abdala) e um argentino (Pablo Abdala), com a mesma descendência.
O grupo recebeu outra força extra: a vinda de um norte-americano, Shaker Asad.
""A Copa do Mundo seria uma
vitrine para os jogadores e para o
país", afirma ""Tito" Bishira, estrela do Palestino, agremiação que
cedeu também suas instalações
como local para os treinos de preparação para a Copa Árabe.
A missão nesse torneio é passar
da primeira fase, o que a equipe
nunca conseguiu nas vezes que
disputou (1966, 1992 e 1998).
O seguinte objetivo é a campanha nas eliminatórias asiáticas
para o Mundial da Alemanha, em
2006, que começam só em 2004.
De novo, o Chile poderia ser a
base dos palestinos, dependendo
da generosidade da ""colônia",
que conta com comerciantes e industriais. O plano B seria treinar
nas vizinhas Jordânia ou Síria.
Nicola espera mais reforços
americanos para o desafio maior.
Além do colombiano Foad Maziri
(América de Cali) e do argentino
Facundo Sava (Fulham, da Inglaterra), ele tem uma lista de 15 atletas de sangue palestino que atuam
na França, Itália e Alemanha.
Há ainda a possibilidade de utilizar o veterano chileno Luis
Mussri, 36, que jogou na Copa da
França ao lado de Zamorano
-em seu caso, a Fifa tem de deliberar se cabe a proibição de um
jogador servir duas seleções.
""Há uma diáspora de jogadores,
afinal, você não pode fazer um
treinamento normal nem em Gaza nem na Cisjordânia", lamenta
o técnico da seleção. Um episódio
ilustra a situação: dias antes de
embarcar para o Chile, o zagueiro
Yamal Al Houly teve sua casa derrubada pela artilharia israelense.
Após anos de ocupação militar,
Israel e Palestina começaram um
processo de paz no final dos anos
90. Nesse período, por exemplo, a
seleção árabe chegou a disputar as
eliminatórias para a Copa de
2002, mas foi eliminada pelo Qatar ainda na primeira fase.
No final de 2000, porém, começou uma série de atritos que culminou em uma nova Intifada (revolta), o aumento de atos terroristas e das incursões militares de Israel na área sob comando da Autoridade Nacional Palestina.
O Chile, por seu lado, foi o primeiro país das Américas a reconhecer sua autonomia e o único a
estabelecer uma embaixada em
Gaza. A Fifa, ao contrário da
ONU, também a reconhece, posicionando-a no 150º posto de seu
ranking, à frente de 30 seleções.
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