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FUTEBOL
Longe e perto
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Não é difícil pensar em futebol no Nepal. Em Pokara (a
meia hora de vôo ou sete horas de
ônibus de Katmandu), há um pedestal com um bola logo depois
da saída do aeroporto.
A TV da pousada Nirvana exibe Índia x Nepal (vitória do Nepal nos pênaltis). O cardápio de
um restaurante oferece Liverpool
x Southampton para as 16h45,
antes de uma sessão de "O Senhor
dos Anéis".
O relato não é inédito, mas todo
viajante atualiza por si mesmo a
experiência dos anteriores: futebol é o mais eficiente e simpático
passaporte para um brasileiro no
exterior.
Conheço dezenas de histórias
incríveis sobre momentos difíceis
em guerras, alfândegas ou estradas desertas que foram apaziguados com a menção de Pelé, Romário ou Ronaldo (sem falar na famosa trégua na guerra civil da
Nigéria para a passagem do Santos nos anos 60).
Na estrada empoeirada que
conduzia a um monastério em
Parping e às margens do lago Fewa, em Pokara, vi meninos com
camisetas estampadas com o rosto de Ronaldo. Na parede de mercearias e joalherias, cartazes escritos em nepali comemoravam a
vitória da seleção brasileira na
Copa do Mundo de 2002. Um café
chique em Tamel exibe fotos dos
clientes assistindo à final diante
da Alemanha.
Em uma escada de pedra inacreditável que corta dezenas de
pequenas propriedades na encosta do pico Sarangkot, despencando entre casas simples e plantações em terraço, tive de dar passagem para um menino de seus 13
anos que tocava um pequeno rebanho morro acima. Ao passar
por mim, ele perguntou: "Where
from (sic)?". "Bresil." "Ronaldo...", disse ele, sem se deter nem
olhar para trás.
Há quem diga que o futebol é
uma ruína, uma praga e até um
atraso. Que ele cria a discórdia e a
violência, o fanatismo, a alienação. Claro que eu não concordo
com isso.
Futebol é um traço da nossa
cultura, forte e belo.
Somos artistas da bola; somos
os bons nessa arte/nesse ofício. Somos simpáticos para o mundo pela felicidade que as nossas seleções já proporcionaram aos torcedores de todo lugar.
Pena que tratamos mal a nossa
especialidade.
Comparado com outros países
pobres, o Brasil é rico em muitas
coisas. Os nossos aeroportos, as
nossas avenidas, os nossos museus e shopping centers, os nossos
cinemas e governos são luxuosos
perto do que há por aí. Mas os
nossos estádios são feinhos, pobrinhos, imundos. Alguns são um
pouco melhores, mas a regra é a
feiúra. Quem diria... No futebol,
somos atrasados.
Não se vêem por aqui camisas
de clubes brasileiros. Vi do Manchester United e do Real Madrid.
Será que um dia conseguiremos
transferir esse amor pela seleção
brasileira para os nossos times?
Com os nossos ídolos internacionais na Europa, talvez não.
Ai, Brasil... Tem um tanto a ensinar, outro tanto a aprender.
Bola para a frente.
Pense bem
Se o atleta recebe proposta para
jogar na Europa, deve lembrar
casos como o do Deivid. Pelo
que dizem, ele não foi feliz na
França. Ao que tudo indica, poderia ter fechado o ano no Brasil tão feliz como começou.
Contrastes
Não é difícil mandar uma coluna do Nepal. Há "internet cafés" nos becos mais apertados,
a preços baixíssimos. A conexão não é das melhores, mas o
serviço é acessível. Em compensação, um jogo oficial entre
dois times daqui aconteceu em
um campo em que uma das traves era pintada na parede.
Outro mercado
Podemos ter ainda mais filmes,
livros e revistas sobre futebol.
Histórias não faltam!
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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