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Futebol vira bandeira de paz dos EUA no Iraque
Americanos usam esporte para pacificar convivência com iraquianos em Bagdá
Após disputar pelada, militar decide capitanear campanha de arrecadação de bolas para diminuir a desconfiança da população
Arquivo Pessoal
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O tenente-coronel Justin Porto, que agora vê sorrisos nos rostos dos iraquianos por estar incentivando o futebol, posa para foto |
FABIO GRIJÓ
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos próximos dias, bolas de
futebol irão chegar à Zona Internacional, região controlada
pelas forças de coalizão em
Bagdá, a capital do Iraque.
Elas servirão para amenizar a
desconfiança em relação à presença estrangeira no país.
Amantes de beisebol, futebol
americano e basquete, os americanos descobriram que o passaporte da boa convivência entre soldados e oficiais dos EUA
e a população local é o esporte
praticado com os pés.
"Na Zona Internacional, via
soldados, guardas, crianças, jogando futebol nas ruas, nas calçadas. Só que eram bolas velhas, murchas. Pensei em como
fazer chegar bolas boas até
eles", contou à Folha Justin
Porto, tenente-coronel reformado que está há seis meses no
Iraque trabalhando na área de
tecnologia de informação.
Ainda resta outro meio ano
da missão pela qual assinou
contrato, mas Porto afirma ver
"milagres" operados pela bola.
"Um dia, estava driblando
até que passei a bola para um
menino. Na hora, a atitude dele
mudou. O rosto mudou. Passou
a me ver como amigo", disse
ele, por telefone, de Bagdá.
O acaso fez surgir uma campanha para arrecadar bolas para os iraquianos. E, assim, melhorar a convivência.
"Até agora, já conseguimos
14 bolas no período de uma semana. Nas próximas semanas,
espero centenas", falou Porto.
"Meu irmão é diretor de uma
escola em Nova Jersey e organizou uma campanha para que
os alunos doassem bolas. Elas
ainda vão chegar."
A iniciativa de Porto não é
inédita. Desde 2004, alguns
grupos isolados do Exército
norte-americano arrecadam
bolas de futebol nos EUA para
enviar a crianças iraquianas.
Entre os projetos mais conhecidos adotados com sucesso estão "Operation Soccer Ball"
(Operação Bola de Futebol) e
"Operation KickStart" (Operação Chute Inicial).
O tenente-coronel reformado diz ter apoio oficial. "O
Exército me autorizou a enviar
e-mails a amigos e familiares
para pedir bolas. E me ajudou
no transporte das bolas."
A opção pelo futebol, popular
nos EUA entre as mulheres,
ocorreu pela preferência dos
iraquianos, que conquistaram
a Copa da Ásia, em julho, pela
primeira vez (dirigidos pelo
brasileiro Jorvan Vieira).
Porto lembra as cenas da comemoração. Ele diz ter visto
pessoas indo para as ruas e, em
vez de fogos de artifício, com
armas em punho, atiravam a
esmo. "Foi muito perigoso.
Guardei até uma cápsula."
A insegurança no país fez
com que a Confederação Asiática de Futebol proibisse a seleção do Iraque de atuar em casa
nos jogos eliminatórios para a
Copa-2010, na África do Sul.
"O iraquiano adora o futebol.
É comum ver aqui meninos
com camisas de times europeus ou mesmo de jogadores
brasileiros", afirmou Porto.
O americano relatou a transformação provocada pelos dribles e gols desde que passou a
distribuir bolas de futebol.
"Quando cheguei ao Iraque,
eles [os iraquianos] não confiavam muito nos americanos.
Faço parte da força de coalizão.
Eles não confiavam até por influência dos insurgentes, que
eram contrários à presença dos
EUA aqui", declarou ele.
"Mas fomos ganhando os corações dos iraquianos aos poucos. Eles demoram a perceber
que você é uma pessoa boa. Até
a hora que eles o vêem como
um deles, como um ser humano como eles, o vêem fazendo
as mesmas coisas que eles."
A mudança, disse, refletiu-se
até no dia-a-dia.
"Todo dia, faço ronda de uma
hora pelas ruas. Hoje, já me
cumprimentam, acenam para
mim, sorriem quando eu passo.
É minha recompensa."
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