São Paulo, quinta-feira, 25 de dezembro de 2008 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Xadrez agoniza em São Paulo
Sem verba e sem sócios, centenário reduto de enxadristas, no centro da cidade, teme fechar as portas
CAROLINA ARAÚJO DA REPORTAGEM LOCAL Na noite do dia 13 de dezembro, sábado, o jogador de xadrez Panayote Meidanis lia um jornal no Clube de Xadrez de São Paulo. Sozinho no salão com mais de 50 mesas quadriculadas, aguardava a chegada de um potencial adversário para jogar uma partida. O ambiente vazio no terceiro andar do prédio na rua Araújo, na região da República, traz poucas evidências de que aquele tenha sido o palco dos principais torneios de xadrez do Brasil nos últimos anos. Ou de que, na década de 60, 800 sócios freqüentassem o espaço, contra os pouco mais de 40 que, atualmente, ainda pagam a mensalidade de R$ 40. Nem a tradição salva da decadência o Clube de Xadrez de São Paulo (CXSP), o mais importante do país e, fundado há 106 anos, o mais antigo do continente americano. A dívida atual ultrapassa R$ 20 mil, diz o presidente da entidade, Celso Freitas. A receita com mensalidades está longe do valor das despesas fixas, de cerca de R$ 4.000 por mês. Para reduzir custos, o clube restringiu dias e horários de funcionamento e tirou seu site do ar. Na semana passada, ficou dias sem água por falta de pagamento. "O xadrez é vítima da internet", afirma Freitas, que crê que a popularização dos jogos on-line tornou os enxadristas pouco interessados em encarar rivais de carne e osso. "A qualquer hora e em qualquer lugar, achamos na internet um parceiro para um jogo. Não é preciso um clube", diz. Por falta de quórum, os torneios internos são semanalmente cancelados. Já os campeonatos profissionais, por falta de patrocínio, são realizados em outros locais. E os sócios que ainda aparecem podem esperar horas por um oponente. O número de sócios é tão reduzido que o Conselho Deliberativo, que elege o presidente, não preenche as 27 vagas. Hoje são 12 membros, diz o conselheiro Marius Van Riemsdijk. Além das mensalidades, a fonte fixa de renda era o aluguel de parte do prédio que pertence ao clube. Mas a igreja evangélica que ocupava um dos andares -e irritava os enxadristas com o barulho- deixou o local. O Banco Itaú, parceiro histórico, retirou patrocínio desde que Sérgio Freitas, diretor do banco e presidente da Confederação Brasileira de Xadrez, rompeu com a diretoria em 2007. A Copa Itaú, maior torneio aberto do país, não ocorreu no ano passado. O clube ficava com a renda das inscrições do evento, que reunia cerca de 200 enxadristas e distribuía em média R$ 20 mil em prêmios, números altos para o esporte no país. Contudo, Sérgio Freitas diz que é um erro relacionar a crise ao fim da Copa Itaú. Segundo o ex-mecenas, erros administrativos levaram o clube à falência. "Faltou realismo. As diretorias não viram as mudanças entre as gerações e continuaram com hábitos dispendiosos antigos." Eduardo Passos, sócio desde os anos 60, concorda. Diz que os dirigentes abandonaram os sócios para priorizar torneios profissionais, que dão prejuízo devido a cachês e prêmios altos. "Hoje não temos jogadores formados no clube e os grandes mestres nem aparecem aqui. Fica difícil sobreviver", disse. Apesar do cenário desanimador, o presidente atual acha que as dívidas diminuirão em 2009. Foi fechada parceria com a Semp Toshiba, que poderá render cerca de R$ 60 mil. A federação paulista diz também ajudar. "Fazemos eventos na sede e pagamos o aluguel do espaço", afirmou Horácio Prol Medeiros, presidente da entidade, que faz ressalvas. "O CXSP é apenas um entre nossos 40 filiados. Nossa ajuda é voluntária, e não obrigatória." Para Freitas, as iniciativas são bem-vindas. "Será uma perda significativa se o clube deixar de existir. Não há espaço melhor para jogar xadrez." Texto Anterior: Bronze no judô ouve Beethoven Próximo Texto: Porteiro do clube relembra anos dourados Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |