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FUTEBOL
Avanços e recuos de Scolari
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
A convocação da seleção
brasileira para o amistoso
contra a Bolívia suscita duas ordens de questões, uma geral e
uma pontual.
No atacado, a dúvida é a seguinte: qual a utilidade de realizar jogos amistosos apenas com
atletas que atuam no Brasil, se
muitos deles perderão a vaga, na
Copa, para os astros que estão na
Europa (Rivaldo, Cafu, Roberto
Carlos, Ronaldo, Emerson, etc...)?
Se esse elenco "autóctone" se entrosar, esse trabalho será perdido
quando os titulares voltarem?
Existe alguma chance de os "estrangeiros" perderem seu lugar?
Ou Scolari está apenas em busca
da formação de um bom banco?
A par dessas perguntas gerais, e
tendo-as como moldura, podem-se discutir individualmente as escolhas do técnico. Vejamos algumas delas.
Ao deixar de lado França e Romário, preferindo convocar Luizão e Washington, Scolari deixou
clara sua inclinação por atacantes vigorosos e guerreiros, em detrimento da sutileza, do refinamento técnico e da inteligência
tática. Ao insistir com Cris, mostrou que quer ter nas mãos pelo
menos um "becão" de estilo tosco.
Mas, nesse departamento, a
convocação de Anderson Polga
-um jogador de muitos recursos- nos dá a esperança de que o
treinador esteja aberto a uma outra concepção defensiva.
A meu ver, uma zaga com Juan,
Lúcio e Polga, desde que bem treinada e entrosada, seria mais do
que razoável.
O grande nó da seleção, entretanto, está, como sempre esteve,
no meio-campo.
Nesse aspecto, considero positivas, no balanço geral, as escolhas
recentes de Scolari.
Assim como Tostão, lamento a
ausência de Ricardinho, do Corinthians.
Lamento também -e nisso
Tostão talvez não concorde comigo- o esquecimento de Alex e de
Roger, do Fluminense.
Mas, por outro lado, vejo com
alegria que o técnico abriu mão,
ainda que momentaneamente,
dos cabeças-de-área de velho estilo, ou seja, aqueles que atropelam
o adversário, mas não sabem
muito o que fazer com a bola.
No meio-campo convocado, talvez não haja muito brilho, mas
pelo menos superou-se a obsoleta
divisão de trabalho entre criadores e destruidores de jogadas, artistas e operários.
Todos os meio-campistas convocados para pegar a Bolívia participam, em medidas variadas,
dos dois tipos de tarefa. Não há
entre eles nenhum cabeça-de-área típico, assim como não há
nenhum "armandinho" que fica
esperando a bola no pé para fazer
suas jogadas de efeito.
Talvez seja um bom caminho,
pelo menos em tese, já que nada
substitui o talento de um Rivaldo,
um Ricardinho, um Djalminha,
um Alex ou um Roger.
A situação ideal seria que esses
craques -ou alguns deles- se
encaixassem num esquema solidário de jogo. Tarefa para um
bom treinador, com boas condições de trabalho.
No ataque, porém, a convocação de Scolari trai uma concepção
ultrapassada e previsível: a de
que se deve combinar um jogador
leve, habilidoso e veloz (como
Edílson ou Marques) com outro
vigoroso, de forte presença na
área (como Luizão ou Washington). Como Tostão, prefiro os craques que desconcertam essa fórmula: França, Romário, Ronaldinho Gaúcho.
Para vencer grandes equipes, é
preciso fazer o inesperado.
Adeus, Mercosul
O Flamengo perdeu a final da
Mercosul com um elenco
bastante diferente daquele
com que jogou a competição.
Não vou chorar o fim da Mercosul, um torneio algo artificial, com times convidados,
cuja maior motivação, senão
a única, era o prêmio em dinheiro para o campeão. Foi
um torneio que nasceu torto
e morreu torto. A Copa do
Brasil também nasceu torta,
mas ainda pode se aprumar.
Força verde
Com César e a provável volta
de Alex, o Palmeiras volta a
formar uma esquadra capaz
de impor respeito.
Primavera tardia
Esquerdinha, que estréia hoje
no Santos, vive seu melhor
momento aos 32 anos. Com
sua mobilidade e constância,
ao lado de Robert, tem tudo
para dar certo na Vila Belmiro-e justificar sua convocação para a seleção.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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