São Paulo, sábado, 26 de janeiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL
Avanços e recuos de Scolari

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

A convocação da seleção brasileira para o amistoso contra a Bolívia suscita duas ordens de questões, uma geral e uma pontual.
No atacado, a dúvida é a seguinte: qual a utilidade de realizar jogos amistosos apenas com atletas que atuam no Brasil, se muitos deles perderão a vaga, na Copa, para os astros que estão na Europa (Rivaldo, Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo, Emerson, etc...)?
Se esse elenco "autóctone" se entrosar, esse trabalho será perdido quando os titulares voltarem? Existe alguma chance de os "estrangeiros" perderem seu lugar? Ou Scolari está apenas em busca da formação de um bom banco?
A par dessas perguntas gerais, e tendo-as como moldura, podem-se discutir individualmente as escolhas do técnico. Vejamos algumas delas.
Ao deixar de lado França e Romário, preferindo convocar Luizão e Washington, Scolari deixou clara sua inclinação por atacantes vigorosos e guerreiros, em detrimento da sutileza, do refinamento técnico e da inteligência tática. Ao insistir com Cris, mostrou que quer ter nas mãos pelo menos um "becão" de estilo tosco.
Mas, nesse departamento, a convocação de Anderson Polga -um jogador de muitos recursos- nos dá a esperança de que o treinador esteja aberto a uma outra concepção defensiva.
A meu ver, uma zaga com Juan, Lúcio e Polga, desde que bem treinada e entrosada, seria mais do que razoável.
O grande nó da seleção, entretanto, está, como sempre esteve, no meio-campo.
Nesse aspecto, considero positivas, no balanço geral, as escolhas recentes de Scolari.
Assim como Tostão, lamento a ausência de Ricardinho, do Corinthians.
Lamento também -e nisso Tostão talvez não concorde comigo- o esquecimento de Alex e de Roger, do Fluminense.
Mas, por outro lado, vejo com alegria que o técnico abriu mão, ainda que momentaneamente, dos cabeças-de-área de velho estilo, ou seja, aqueles que atropelam o adversário, mas não sabem muito o que fazer com a bola.
No meio-campo convocado, talvez não haja muito brilho, mas pelo menos superou-se a obsoleta divisão de trabalho entre criadores e destruidores de jogadas, artistas e operários.
Todos os meio-campistas convocados para pegar a Bolívia participam, em medidas variadas, dos dois tipos de tarefa. Não há entre eles nenhum cabeça-de-área típico, assim como não há nenhum "armandinho" que fica esperando a bola no pé para fazer suas jogadas de efeito.
Talvez seja um bom caminho, pelo menos em tese, já que nada substitui o talento de um Rivaldo, um Ricardinho, um Djalminha, um Alex ou um Roger.
A situação ideal seria que esses craques -ou alguns deles- se encaixassem num esquema solidário de jogo. Tarefa para um bom treinador, com boas condições de trabalho.
No ataque, porém, a convocação de Scolari trai uma concepção ultrapassada e previsível: a de que se deve combinar um jogador leve, habilidoso e veloz (como Edílson ou Marques) com outro vigoroso, de forte presença na área (como Luizão ou Washington). Como Tostão, prefiro os craques que desconcertam essa fórmula: França, Romário, Ronaldinho Gaúcho.
Para vencer grandes equipes, é preciso fazer o inesperado.

Adeus, Mercosul
O Flamengo perdeu a final da Mercosul com um elenco bastante diferente daquele com que jogou a competição. Não vou chorar o fim da Mercosul, um torneio algo artificial, com times convidados, cuja maior motivação, senão a única, era o prêmio em dinheiro para o campeão. Foi um torneio que nasceu torto e morreu torto. A Copa do Brasil também nasceu torta, mas ainda pode se aprumar.

Força verde
Com César e a provável volta de Alex, o Palmeiras volta a formar uma esquadra capaz de impor respeito.

Primavera tardia
Esquerdinha, que estréia hoje no Santos, vive seu melhor momento aos 32 anos. Com sua mobilidade e constância, ao lado de Robert, tem tudo para dar certo na Vila Belmiro-e justificar sua convocação para a seleção.

E-mail: jgcouto@uol.com.br


Texto Anterior: Automobilismo: De carro novo, Williams tenta bater McLaren
Próximo Texto: Panorâmica - Futebol: Estadual do Rio abre ofensiva contra calendário quadrienal com os 4 grandes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.