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São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 2003

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FUTEBOL

Enquanto grandes agonizam, fundadores do Paulista esbanjam vigor

Clubes que abandonaram a bola prosperam em SP

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uns ficaram famosos com o futebol, mas viram a parte social entrar em decadência. Outros preferiram abandonar o esporte mais popular do planeta, mas hoje ostentam um vigor raro no país.
Enquanto as principais equipes que disputam neste final de semana a rodada inaugural do Paulista vivem atoladas em dívidas e com seu patrimônio aos frangalhos, os clubes fundadores do torneio, que abandonaram a modalidade com a chegada do profissionalismo, exibem suntuosas instalações e um saldo bancário de dar inveja aos ditos "grandes".
São Paulo Athletic, Paulistano, Pinheiros e Mackenzie, quatro das cinco agremiações que jogaram a primeira edição do certame, em 1902 (a quinta é o Internacional, que fechou), são exemplos de que relegar o futebol a um segundo plano foi um bom negócio.
O caso do Paulistano é o mais emblemático. Cansada de assistir aos jogos disputados apenas por estrangeiros, a elite paulista resolveu fundar um time genuinamente brasileiro no final de 1900.
De calções até os joelhos, camisas brancas de botões com um brasão estampado no peito, o Paulistano fez sua primeira partida oficial no Campeonato Paulista no dia 3 de maio de 1902.
O clube disputou o torneio até 1928, conquistou 11 títulos e, até hoje, é o único tetracampeão do evento -de 1916 a 1919.
"O clube resolveu manter sua condição de amador e não disputou a edição de 1929, quando já havia o profissionalismo", explica Silvana Fontanelli, do Centro Pró-Memória do Paulistano.
Sem o futebol, a entidade passou a se dedicar às necessidades dos associados. Hoje, em 41 mil metros quadrados, o Paulistano congrega 24.500 membros e tem instalações para a prática de 32 modalidades esportivas. "São os sócios que nos sustentam. Trabalhamos para o bem-estar deles", disse o presidente Mario Amato.
A mensalidade do clube custa aproximadamente R$ 250. Para adquirir um título, um cidadão precisa desembolsar R$ 2.500 e ainda bancar mais R$ 50 mil pela taxa de transferência do benefício.
Os valores parecem estratosféricos se comparados aos minguados R$ 30 mensais cobrados pela Lusa de seus frequentadores. Ou mesmo se equiparados aos números do Corinthians, maior vencedor do Paulista -soma 24 títulos.
No clube do Parque São Jorge, a parte social gera prejuízos que precisam ser cobertos com dinheiro do futebol. Os 5.260 titulares patrimoniais pagam mensalidades que vão de R$ 49 a R$ 76.
Situação de bonança semelhante ao Paulistano vive o Pinheiros, que, na época com o nome Germania, abandonou os embates do Campeonato Paulista em 1931.
Em setembro de 1899, o alemão Hans Nobiling reuniu companheiros e criou uma organização para que a colônia de seu país pudesse praticar e disputar torneios de futebol. Campeão do Paulista de 1906 e de 1915, o Germania se arrastou no torneio até 1930.
"Como dependemos unicamente dos sócios, ficamos menos vulneráveis às variações do mercado do futebol. Por isso conseguimos manter nosso patrimônio", explicou o atual presidente do Pinheiros, Sergio Fuchs Calil.
O patrimônio mencionado pelo presidente reúne 37 mil sócios em uma área de 180 mil metros quadrados. O título do clube vale R$ 2.000, acrescidos de mais R$ 11 mil de taxa de transferência.
A primeira imagem que o inglês Charles Miller contemplou ao entrar na sede do São Paulo Athletic em 1894 foi a de uma partida de críquete disputada por seus conterrâneos. Imediatamente, propôs um diferente jogo, realizado com a bola nos pés. As técnicas do futebol foram rapidamente digeridas, e o clube triunfou na edição inaugural do Paulista, em 1902.
O São Paulo Athletic disputou o torneio até 1911 e conquistou outros três títulos. "O estatuto do clube dizia que todas as atividades deveriam ser amadoras. O futebol começava a fugir do controle, e a modalidade foi cancelada", conta John Mills, pesquisador da história do clube. O São Paulo Athletic conta hoje com duas sedes: uma no bairro da Consolação e outra em Santo Amaro.
Já o Mackenzie, fundado em 1870, abandonou o Paulista de futebol na década de 20. Hoje, a instituição congrega, só em São Paulo, 26 mil alunos na graduação, 1.900 em cursos de pós-graduação e 2.000 na educação básica.


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