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FUTEBOL
Enquanto grandes agonizam, fundadores do Paulista esbanjam vigor
Clubes que abandonaram a bola prosperam em SP
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uns ficaram famosos com o futebol, mas viram a parte social entrar em decadência. Outros preferiram abandonar o esporte mais
popular do planeta, mas hoje ostentam um vigor raro no país.
Enquanto as principais equipes
que disputam neste final de semana a rodada inaugural do Paulista
vivem atoladas em dívidas e com
seu patrimônio aos frangalhos, os
clubes fundadores do torneio, que
abandonaram a modalidade com
a chegada do profissionalismo,
exibem suntuosas instalações e
um saldo bancário de dar inveja
aos ditos "grandes".
São Paulo Athletic, Paulistano,
Pinheiros e Mackenzie, quatro
das cinco agremiações que jogaram a primeira edição do certame, em 1902 (a quinta é o Internacional, que fechou), são exemplos
de que relegar o futebol a um segundo plano foi um bom negócio.
O caso do Paulistano é o mais
emblemático. Cansada de assistir
aos jogos disputados apenas por
estrangeiros, a elite paulista resolveu fundar um time genuinamente brasileiro no final de 1900.
De calções até os joelhos, camisas brancas de botões com um
brasão estampado no peito, o
Paulistano fez sua primeira partida oficial no Campeonato Paulista no dia 3 de maio de 1902.
O clube disputou o torneio até
1928, conquistou 11 títulos e, até
hoje, é o único tetracampeão do
evento -de 1916 a 1919.
"O clube resolveu manter sua
condição de amador e não disputou a edição de 1929, quando já
havia o profissionalismo", explica
Silvana Fontanelli, do Centro Pró-Memória do Paulistano.
Sem o futebol, a entidade passou a se dedicar às necessidades
dos associados. Hoje, em 41 mil
metros quadrados, o Paulistano
congrega 24.500 membros e tem
instalações para a prática de 32
modalidades esportivas. "São os
sócios que nos sustentam. Trabalhamos para o bem-estar deles",
disse o presidente Mario Amato.
A mensalidade do clube custa
aproximadamente R$ 250. Para
adquirir um título, um cidadão
precisa desembolsar R$ 2.500 e
ainda bancar mais R$ 50 mil pela
taxa de transferência do benefício.
Os valores parecem estratosféricos se comparados aos minguados R$ 30 mensais cobrados pela
Lusa de seus frequentadores. Ou
mesmo se equiparados aos números do Corinthians, maior vencedor do Paulista -soma 24 títulos.
No clube do Parque São Jorge, a
parte social gera prejuízos que
precisam ser cobertos com dinheiro do futebol. Os 5.260 titulares patrimoniais pagam mensalidades que vão de R$ 49 a R$ 76.
Situação de bonança semelhante ao Paulistano vive o Pinheiros,
que, na época com o nome Germania, abandonou os embates do
Campeonato Paulista em 1931.
Em setembro de 1899, o alemão
Hans Nobiling reuniu companheiros e criou uma organização
para que a colônia de seu país pudesse praticar e disputar torneios
de futebol. Campeão do Paulista
de 1906 e de 1915, o Germania se
arrastou no torneio até 1930.
"Como dependemos unicamente dos sócios, ficamos menos
vulneráveis às variações do mercado do futebol. Por isso conseguimos manter nosso patrimônio", explicou o atual presidente
do Pinheiros, Sergio Fuchs Calil.
O patrimônio mencionado pelo
presidente reúne 37 mil sócios em
uma área de 180 mil metros quadrados. O título do clube vale R$
2.000, acrescidos de mais R$ 11
mil de taxa de transferência.
A primeira imagem que o inglês
Charles Miller contemplou ao entrar na sede do São Paulo Athletic
em 1894 foi a de uma partida de
críquete disputada por seus conterrâneos. Imediatamente, propôs um diferente jogo, realizado
com a bola nos pés. As técnicas do
futebol foram rapidamente digeridas, e o clube triunfou na edição
inaugural do Paulista, em 1902.
O São Paulo Athletic disputou o
torneio até 1911 e conquistou outros três títulos. "O estatuto do
clube dizia que todas as atividades
deveriam ser amadoras. O futebol
começava a fugir do controle, e a
modalidade foi cancelada", conta
John Mills, pesquisador da história do clube. O São Paulo Athletic
conta hoje com duas sedes: uma
no bairro da Consolação e outra
em Santo Amaro.
Já o Mackenzie, fundado em
1870, abandonou o Paulista de futebol na década de 20. Hoje, a instituição congrega, só em São Paulo, 26 mil alunos na graduação,
1.900 em cursos de pós-graduação
e 2.000 na educação básica.
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