São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Geração perdida?

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O sonho acabou. Uma das gerações mais brilhantes do futebol brasileiro ficou fora dos Jogos Olímpicos de Atenas.
Diante do desastre, temos várias opções. Chorar o leite derramado dos inúmeros gols perdidos, pôr a culpa no juiz que deixou de dar um pênalti em Dagoberto ou tentar detectar onde erramos.
Um balanço parcial da campanha da seleção aponta os seguintes pontos críticos: mal posicionamento da defesa, falta de coordenação entre volantes e meias, escalação aleatória dos atacantes, ausência de jogadas ensaiadas.
O Brasil tomou relativamente poucos gols, mas fatais. E os adversários rondaram com alguma facilidade a nossa área.
Descontando um problema de posicionamento dos zagueiros nas bolas cruzadas (falha crônica das defesas brasileiras), a vulnerabilidade defensiva se deveu mais, a meu ver, à inexistência de um sistema claro de cobertura por parte dos laterais e volantes. Havia quase sempre um buraco entre a zaga e o meio-campo.
Do meio para a frente, a seleção dependeu demais da improvisação de seus talentos e do entrosamento que uma parte deles já trazia do Santos. Não houve definição de padrão de jogo e nem preparação de lances ensaiados.
Nas primeiras partidas tivemos um time leve, de toques rápidos, mas sem poder de conclusão. Depois entrou Marcel, e a equipe pareceu oscilar entre o velho estilo e os cruzamentos, muitas vezes precipitados, para o centroavante.
Talvez fosse o caso de investir mais em Nilmar desde o começo. Não sei. Agora qualquer comentário crítico soa leviano.
De um modo geral, Ricardo Gomes mostrou-se hesitante e demasiado lento para reagir às circunstâncias de cada jogo.
Os treinadores adversários mostraram-se mais ágeis. Um exemplo entre muitos: no jogo contra a Argentina, o Brasil criava muitos lances de perigo pela esquerda com Daniel Carvalho. Aos 30 minutos do primeiro tempo, Marcelo Bielsa mudou a equipe, colocando um jogador agressivo pela direita, de modo a segurar o brasileiro no nosso campo.
Com essa simples alteração, "El Loco" mudou a correlação de forças na partida.
A única vez que Ricardo Gomes fez algo parecido foi ontem, quando tirou Marcel e colocou Adaílton em campo. Surpreendeu muita gente, mas equilibrou melhor o time, liberando Elano, até então preso a uma área do campo em que não acontecia nada.
Mas, no segundo tempo, acho que o treinador errou ao tirar Diego para a entrada (correta) de Nilmar. Talvez fosse melhor tirar Elano. Afinal, mesmo não estando numa de suas melhores tardes, Diego deu o chute mais perigoso contra o gol paraguaio, além de ter colocado Dagoberto na cara do gol em outro lance.
É uma pena ver esses jovens talentos alijados de uma Olimpíada. Cabe esperar que as lições possam servir à seleção principal, ao também jovem treinador Ricardo Gomes e aos próprios jogadores. Enfim, o sonho acabou, mas a vida continua.

O pioneiro Leônidas
Não vi Leônidas da Silva jogar, mas, graças aos depoimentos de quem viu, sei que ele foi grande. Para a história do futebol, Leônidas pode ser considerado um pioneiro em muitos sentidos. Foi o primeiro artilheiro brasileiro de uma Copa do Mundo (a de 1938, disputada na França), o primeiro astro a explorar sua imagem comercialmente (basta lembrar o chocolate Diamante Negro) e, segundo dizem, o primeiro rebelde capaz de deixar os cartolas de cabelo em pé, seja por sua independência, seja por sua malandragem. É uma pena que existam tão poucos registros e imagens de suas atuações pelos clubes e pela seleção. O apelido de "homem borracha" e as fotos de suas "bicicletas" fazem-nos sonhar com prodígios indizíveis.

E-mail: jgcouto@uol.com.br


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