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FUTEBOL
Geração perdida?
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O sonho acabou. Uma das
gerações mais brilhantes do
futebol brasileiro ficou fora dos
Jogos Olímpicos de Atenas.
Diante do desastre, temos várias opções. Chorar o leite derramado dos inúmeros gols perdidos,
pôr a culpa no juiz que deixou de
dar um pênalti em Dagoberto ou
tentar detectar onde erramos.
Um balanço parcial da campanha da seleção aponta os seguintes pontos críticos: mal posicionamento da defesa, falta de coordenação entre volantes e meias, escalação aleatória dos atacantes,
ausência de jogadas ensaiadas.
O Brasil tomou relativamente
poucos gols, mas fatais. E os adversários rondaram com alguma
facilidade a nossa área.
Descontando um problema de
posicionamento dos zagueiros
nas bolas cruzadas (falha crônica
das defesas brasileiras), a vulnerabilidade defensiva se deveu
mais, a meu ver, à inexistência de
um sistema claro de cobertura
por parte dos laterais e volantes.
Havia quase sempre um buraco
entre a zaga e o meio-campo.
Do meio para a frente, a seleção
dependeu demais da improvisação de seus talentos e do entrosamento que uma parte deles já trazia do Santos. Não houve definição de padrão de jogo e nem preparação de lances ensaiados.
Nas primeiras partidas tivemos
um time leve, de toques rápidos,
mas sem poder de conclusão. Depois entrou Marcel, e a equipe pareceu oscilar entre o velho estilo e
os cruzamentos, muitas vezes precipitados, para o centroavante.
Talvez fosse o caso de investir
mais em Nilmar desde o começo.
Não sei. Agora qualquer comentário crítico soa leviano.
De um modo geral, Ricardo Gomes mostrou-se hesitante e demasiado lento para reagir às circunstâncias de cada jogo.
Os treinadores adversários mostraram-se mais ágeis. Um exemplo entre muitos: no jogo contra a
Argentina, o Brasil criava muitos
lances de perigo pela esquerda
com Daniel Carvalho. Aos 30 minutos do primeiro tempo, Marcelo Bielsa mudou a equipe, colocando um jogador agressivo pela
direita, de modo a segurar o brasileiro no nosso campo.
Com essa simples alteração, "El
Loco" mudou a correlação de forças na partida.
A única vez que Ricardo Gomes
fez algo parecido foi ontem,
quando tirou Marcel e colocou
Adaílton em campo. Surpreendeu
muita gente, mas equilibrou melhor o time, liberando Elano, até
então preso a uma área do campo
em que não acontecia nada.
Mas, no segundo tempo, acho
que o treinador errou ao tirar
Diego para a entrada (correta) de
Nilmar. Talvez fosse melhor tirar
Elano. Afinal, mesmo não estando numa de suas melhores tardes,
Diego deu o chute mais perigoso
contra o gol paraguaio, além de
ter colocado Dagoberto na cara
do gol em outro lance.
É uma pena ver esses jovens talentos alijados de uma Olimpíada. Cabe esperar que as lições possam servir à seleção principal, ao
também jovem treinador Ricardo
Gomes e aos próprios jogadores.
Enfim, o sonho acabou, mas a vida continua.
O pioneiro Leônidas
Não vi Leônidas da Silva jogar,
mas, graças aos depoimentos
de quem viu, sei que ele foi
grande. Para a história do futebol, Leônidas pode ser considerado um pioneiro em muitos sentidos. Foi o primeiro artilheiro brasileiro de uma Copa
do Mundo (a de 1938, disputada na França), o primeiro astro
a explorar sua imagem comercialmente (basta lembrar o
chocolate Diamante Negro) e,
segundo dizem, o primeiro rebelde capaz de deixar os cartolas de cabelo em pé, seja por sua independência, seja por sua
malandragem. É uma pena que
existam tão poucos registros e
imagens de suas atuações pelos
clubes e pela seleção. O apelido
de "homem borracha" e as fotos de suas "bicicletas" fazem-nos sonhar com prodígios indizíveis.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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