São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 2006

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FUTEBOL

Exemplos argentinos

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

O torcedor argentino deu dois exemplos antagônicos na semana que passou durante dois jogos da Taça Libertadores da América.
O primeiro foi dado pela torcida do Estudiantes.
Jogando em casa, o time perdia para o Sporting Cristal, do Peru, por 3 a 0, ainda no primeiro tempo. Uma humilhação.
Pois eis que nem no intervalo a massa parou de cantar o nome de seu time.
A volta ao campo, então, foi apoteótica. Parecia que o Estudiantes goleava.
Tão comovente, tão tocante, tão emocionante era a demonstração dos torcedores que o Estudiantes, para retribuir, virou.
Eram 23 mil vozes enlouquecidas no estádio Centenário de Quilmes, porque o do Estudiantes, em La Plata, está interditado.
Logo aos 10min do segundo tempo, o Estudiantes diminui a vantagem peruana. A hinchada delirou.
Aos 20min, fez 2 a 3. Os fanáticos já não sabiam o que fazer.
Aos 34min, o empate. Foram à loucura, ao êxtase.
Já estava de bom tamanho, e a festa, plenamente justificada.
Mas só estava de bom tamanho para quem via o jogo pela TV, em transe, incrédulo.
Porque nas arquibancadas e no gramado, 23.011 apaixonados queriam mais.
E conseguiram, no derradeiro minuto, o quarto, o gol da vitória.
Simplesmente indescritível o que se viu a seguir.
O Estudiantes era campeão mundial. E era, creia.
Coisa parecida só tinha visto quando o Vasco virou na mesma situação para cima do Palmeiras, na decisão da Copa Mercosul, em 2000, mas no Parque Antarctica.
Mais épico por um lado, porque foi na casa do adversário, mas, e aí é que mora a diferença de comportamento entre as torcidas argentinas e brasileiras, mais fácil por outro lado, porque, se a decisão tivesse ocorrido em São Januário, os vascaínos, com três gols de desvantagem, gritariam olé a cada passe palmeirense.
Rubro-negros, corintianos, cruzeirenses, colorados, quase todos os nossos torcedores fariam o mesmo, exceção feita, na Libertadores, aos são-paulinos, que sabem, e talvez por isso sejam tricampeões, que nela não cabem vaias e silêncios, só cabe apoiar o time em quaisquer circunstâncias e até o fim.
Como, na quinta-feira, fizeram os torcedores do Rosario Central, também em casa, mesmo diante da derrota para os paraguaios do Cerro Porteño, por 2 a 0.
No fim do jogo, ainda acharam de abrir uma bandeiraça azul e amarela, com uma enorme inscrição - Los Guerreros.
E tome cantoria. E o mau exemplo. Porque, aí, passaram dos limites e atiraram rojões para dentro do gramado até atingir o goleiro do Cerro Porteño, razão pela qual o estádio Gigante de Arroyito, onde está previsto que o Palmeiras jogue, deva ser interditado.
Se bem que, se for, e o jogo acabar transferido para Quilmes, o sufoco não será menor...
Para ganhar a Libertadores, é preciso saber torcer.

Indigestão
Ao contrário do que todos pensam, a frase "Vocês vão ter que me engolir", de Mario Jorge Lobo Zagallo, não foi proferida pela primeira vez depois da conquista do título da Copa América pela seleção brasileira, em 1997, na Bolívia, quando dedicada a dois jornalistas, um dos quais este colunista. Na véspera da decisão do Campeonato Mundial de 1994 contra a Itália, no dia 17 de julho, nos Estados Unidos, em entrevista a esta Folha, ao repórter Mário Magalhães (que tanta falta faz neste espaço), o velho Lobo destacou: "O senhor passou a última semana desabafando. Por quê?". "Porque sou o primeiro cara no mundo a ficar entre os quatro primeiros colocados em cinco Copas do Mundo. A chegar a quatro finais. Se ninguém faz, eu faço a minha própria propaganda. É um recorde, é inédito. Vão ter que me engolir."


@ - blogdojuca@uol.com.br

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