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FUTEBOL
Exemplos argentinos
JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA
O torcedor argentino deu
dois exemplos antagônicos
na semana que passou durante
dois jogos da Taça Libertadores
da América.
O primeiro foi dado pela torcida
do Estudiantes.
Jogando em casa, o time perdia
para o Sporting Cristal, do Peru,
por 3 a 0, ainda no primeiro tempo. Uma humilhação.
Pois eis que nem no intervalo a
massa parou de cantar o nome de
seu time.
A volta ao campo, então, foi
apoteótica. Parecia que o Estudiantes goleava.
Tão comovente, tão tocante, tão
emocionante era a demonstração
dos torcedores que o Estudiantes,
para retribuir, virou.
Eram 23 mil vozes enlouquecidas no estádio Centenário de
Quilmes, porque o do Estudiantes, em La Plata, está interditado.
Logo aos 10min do segundo
tempo, o Estudiantes diminui a
vantagem peruana. A hinchada
delirou.
Aos 20min, fez 2 a 3. Os fanáticos já não sabiam o que fazer.
Aos 34min, o empate. Foram à
loucura, ao êxtase.
Já estava de bom tamanho, e a
festa, plenamente justificada.
Mas só estava de bom tamanho
para quem via o jogo pela TV, em
transe, incrédulo.
Porque nas arquibancadas e no
gramado, 23.011 apaixonados
queriam mais.
E conseguiram, no derradeiro
minuto, o quarto, o gol da vitória.
Simplesmente indescritível o
que se viu a seguir.
O Estudiantes era campeão
mundial. E era, creia.
Coisa parecida só tinha visto
quando o Vasco virou na mesma
situação para cima do Palmeiras,
na decisão da Copa Mercosul, em
2000, mas no Parque Antarctica.
Mais épico por um lado, porque
foi na casa do adversário, mas, e
aí é que mora a diferença de comportamento entre as torcidas argentinas e brasileiras, mais fácil
por outro lado, porque, se a decisão tivesse ocorrido em São Januário, os vascaínos, com três gols
de desvantagem, gritariam olé a
cada passe palmeirense.
Rubro-negros, corintianos, cruzeirenses, colorados, quase todos
os nossos torcedores fariam o
mesmo, exceção feita, na Libertadores, aos são-paulinos, que sabem, e talvez por isso sejam tricampeões, que nela não cabem
vaias e silêncios, só cabe apoiar o
time em quaisquer circunstâncias
e até o fim.
Como, na quinta-feira, fizeram
os torcedores do Rosario Central,
também em casa, mesmo diante
da derrota para os paraguaios do
Cerro Porteño, por 2 a 0.
No fim do jogo, ainda acharam
de abrir uma bandeiraça azul e
amarela, com uma enorme inscrição - Los Guerreros.
E tome cantoria. E o mau exemplo. Porque, aí, passaram dos
limites e atiraram rojões para
dentro do gramado até atingir o
goleiro do Cerro Porteño, razão
pela qual o estádio Gigante de
Arroyito, onde está previsto que o
Palmeiras jogue, deva ser interditado.
Se bem que, se for, e o jogo acabar transferido para Quilmes, o
sufoco não será menor...
Para ganhar a Libertadores, é
preciso saber torcer.
Indigestão
Ao contrário do que todos pensam, a frase "Vocês vão ter que me engolir", de Mario Jorge Lobo Zagallo, não foi proferida pela primeira
vez depois da conquista do título da Copa América pela seleção brasileira, em 1997, na Bolívia, quando dedicada a dois jornalistas, um
dos quais este colunista. Na véspera da decisão do Campeonato
Mundial de 1994 contra a Itália, no dia 17 de julho, nos Estados Unidos, em entrevista a esta Folha, ao repórter Mário Magalhães (que
tanta falta faz neste espaço), o velho Lobo destacou: "O senhor passou a última semana desabafando. Por quê?". "Porque sou o primeiro cara no mundo a ficar entre os quatro primeiros colocados em
cinco Copas do Mundo. A chegar a quatro finais. Se ninguém faz, eu
faço a minha própria propaganda. É um recorde, é inédito. Vão ter
que me engolir."
@ - blogdojuca@uol.com.br
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