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ANÁLISE
Folhinha na parede
SÍLVIO LANCELLOTTI
da Equipe de Articulistas
Calendário, no futebol do
Brasil, é uma folhinha dependurada na parede. Geralmente do ano anterior e até mesmo com erros de impressão.
Na Europa, calendário é
coisa séria -e bem antiga.
Tudo começou em 1955,
quando um legendário jornalista francês, Gabriel Hanot,
do diário "L'Equipe", convenceu os dirigentes dos principais países do continente a
instituírem a sua primeira
grande Copa dos Campeões.
Na época, algumas nações,
como Espanha, França, Inglaterra e Itália, já tinham torneios regulares e organizadíssimos, em
turno e em
returno,
por muitas
décadas.
Na Inglaterra, desde 1889. Na
Itália e na
Espanha, desde 1929. Na
França, desde 1944. Disputavam-se os jogos basicamente
aos sábados e domingos. Os
meios de semana se reservavam a torneios assessórios, como as copas locais e, eventualmente, aos confrontos oficiais
e amistosos entre seleções.
O sucesso da Copa dos Campeões estimulou os dirigentes
a montarem mais dois torneios interclubes paralelos.
Em 1960 se tornou anual a
velha Copa das Cidades de
Feiras, posteriormente Copa
da Uefa, destinada a manter
em ação os outros melhores
clubes de cada país. Ainda em
60 nasceu a Recopa, com os
ganhadores das copas locais.
Subitamente, além das seleções, cerca de 120 clubes passaram a se mobilizar nos
meios de semana. Foi inevitável a formalização do calendário, no mínimo com uma
temporada de antecedência.
Hoje, a situação é mais complicada. Com a degringolada
do comunismo, de 33 nações
afiliadas, a Uefa passou a ostentar meia centena. Para
abrigar os clubes dos novos
países, se expandiram os torneios interclubes. Criou-se a
Copa Intertoto, classificatória
para a da Uefa. O número de
times em ação nos interclubes
subiu para quase 250. Planeja-se o calendário com dois,
três anos de antecedência.
De fato, ainda estão acontecendo os campeonatos nacionais de 96/97, mas a Europa já
programou as
suas datas para até o final
do século. Já se
sabe quantas
equipes disputarão as copas
do continente
nas temporada de 97/98,
98/99 e
99/2000.
Detalhe: por
lá não existe o
tapetão dos
tribunais.
Verdade que, para as eliminatórias da Copa da França, a
nossa cara Conmebol, a confederação da América do Sul,
meras dez nações afiliadas,
teve a suprema sabedoria de
estabelecer rodadas só às
quartas -e em datas comuns
às eliminatórias da Europa.
O calendário sul-americano,
porém, continua incipiente,
repleto de remendos e improvisações de última hora.
E a coisa, aqui, mais se complica com a realização dos
campeonatos estaduais superpostos a uma descontrolada
Copa do Brasil, recheada de
convidados.
Os dirigentes brasileiros precisam aprender que o bom,
bem realizado, é sempre muito melhor do que o ótimo por
eles suposto e fantasiado.
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