|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MOTOR
Farofa de borracha
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Sábado passado. Barrichello
acabara de ficar em 14º no
primeiro treino classificatório em
Sepang. Pergunto qual havia sido
a influência dos pneus naquele
resultado. O brasileiro responde.
Anteontem. Abro a "Austosport", uma entrevista com Schumacher. O repórter começa perguntando se os pneus foram os
responsáveis pela prova apagada
na Malásia. O alemão responde.
"Seria errado procurar um culpado agora. Quando ganhamos,
ganhamos juntos. Quando perdemos, perdemos juntos. Não existe
um problema específico", foi a
resposta de Barrichello, acabo de
buscar na gravação. Foi essa,
também, a réplica do heptacampeão, constato na revista que está
nas minhas mãos. Mudam uma
palavra ou outra, fica a essência.
Esta coluna já discorreu sobre a
chatice das entrevistas da F-1 em
tempos de megacorporações. Para evitar melindres, para prevenir
que críticas cheguem a sensíveis
ouvidos de um CEO do outro lado
do mundo, a categoria vem, mais
e mais, adotando discursos insossos, padronizados, pasteurizados.
Mas a sintonia das aspas de
Barrichello e Schumacher, com
mais de 24 horas de diferença, é
de espantar. Fico imaginando a
reunião com Todt após os primeiros treinos livres na Malásia.
"Bien, bien... Vamos dançar
neste fim de semana, não vai ter
jeito, os pneus estão une merde
nesse calor. Mas não saiam falando isso. Vamos dizer o seguinte..."
Depois de decorar a cantilena, a
dupla de pilotos saiu, destemida,
para enfrentar os microfones.
Brincadeiras à parte, não deve
ter fugido muito disso. Que houve
um orientação, é óbvio ululante.
O porquê de todo esse cuidado?
Porque, além do dinheiro pesado
que une as duas marcas, a Ferrari
sabe que vai depender muito da
Bridgestone, mais do que nunca,
para se reabilitar no campeonato.
E porque admitir erros é algo que
também não existe mais na F-1.
A escuderia assumiu um risco
grande quando decidiu ficar com
os japoneses apesar da debandada geral em direção à Michelin.
Agora, pode quebrar acordos de
cavalheiros, pode instalar refletores em Fiorano e Mugello, varar
noites testando que não conseguirá se aproximar da quilometragem que os franceses acumulam
com Williams mais McLaren
mais Renault mais BAR mais Red
Bull mais Toyota mais Sauber.
É um princípio do automobilismo: de nada adianta um motor
fantástico se os pneus não transferirem potência para o asfalto. No
caso de Sepang, os cavalos italianos viraram farofa de borracha,
enquanto os concorrentes galoparam para um dia de glória.
Dizem que, no F2005, esses mesmos compostos fazem maravilhas. Não duvido, a Bridgestone
tem crédito, esperemos o Bahrein.
Mas e se as maravilhas não forem suficientes para descontar os
2s2 que Barrichello levou do
Alonso no domingo de manhã?
Aí é que mora a diferença para
2003, quando a Ferrari também
perdeu os primeiros GPs: agora, o
isolamento com a Bridgestone parece ter chegado ao limite.
Organizada às pressas, a padronização dos discursos indica que
a Ferrari não estava preparada
para cair. Mas a queda começou.
Picadinho
Os bancos aceitaram sentar com Ecclestone, fora da Corte, para negociar. É bem capaz que comprem os 25% restantes da F-1 e que
saiam da reunião sorrindo com a simpatia do novo parceiro.
Mexido
Stewart chegou à Williams como relações-públicas do Royal Bank of
Scotland, mas pouco a pouco vem sendo chamado para dar pitacos
na equipe. Os resultados não vão demorar a aparecer...
Pepino
Anote para cobrar depois: Villeneuve não chega ao meio da temporada. Se entrar no cockpit, Wurz, 1,86 m, será seu substituto. O desempenho do canadense, até agora, é indefensável. E inexplicável.
E-mail fseixas@folhasp.com.br
Texto Anterior: Osasco prioriza fraqueza para tirar força de rival Próximo Texto: Futebol - José Geraldo Couto: Pequenos fenômenos Índice
|