São Paulo, quinta-feira, 26 de março de 2009

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JUCA KFOURI

Orlando Lero


O ministro do Esporte, Orlando Lero, isto é, Silva Júnior, parece que chegou agora ao Brasil e ao poder

NO PRÓXIMO dia 1º de abril, Orlando Silva Jr. completará três anos de trabalho à frente do Ministério do Esporte.
O que, somado aos quatro anos anteriores como secretário-executivo, dá a medida do quanto deveria saber sobre, por exemplo, violência nos estádios brasileiros.
Mas suas entrevistas depois de mais um episódio deprimente no Pacaembu e seu artigo publicado nesta Folha no último domingo mais parecem coisas de quem está chegando agora, tão perplexo que ele demonstra estar com tudo o que acontece nos estádios.
O ministro, que faz Timemanias por medida provisória, só apresenta agora, sete anos depois e como projeto de lei, medidas contra a violência, o que revela claramente quais são suas prioridades.
Imagine que ele promete equipar nossos estádios com câmeras de TV, algo já exigido pelo Estatuto do Torcedor para estádios com mais de 20 mil torcedores.
E insiste no cadastramento do torcedor, sem burocracias, diz ele, por mais que já esteja demonstrado que isso só afastará ainda mais o torcedor comum e que, ao contrário do que se disse, é algo que não foi implantado na Inglaterra.
Claro que, num ministério que tem se caracterizado por licitações problemáticas, não são poucos os interessados em câmeras de TV, carteirinhas a granel etc, ainda mais em época pré-eleitoral.
O ministro só propõe o que já existe ou já existiu e não foi corretamente aplicado, exatamente pelo desinteresse das autoridades em fiscalizar e impor, como os juizados especiais criminais, os planos de jogo, os laudos técnicos para cada estádio etc.
Porque o ministro não vive de braços dados com a torcida, mas sim com os cartolas. E estes são fartamente responsáveis pelo clima de beligerância, quando não por fazerem o que fez o presidente do Santos no último domingo, ou o do Corinthians ao chamar o do São Paulo de inimigo, no mínimo, por alimentarem as torcidas uniformizadas e, também, o câmbio negro.
Orlando Lero, quer dizer, Silva Jr., fala em treinar a polícia, providência mais que necessária, mas que farda e talha, tarda e falha. Só resta pedir desculpas à memória do humorista Rogério Cardoso, que criou a impagável figura de Rolando Lero, aquele que falava, falava e não dizia nada, além de, ainda pior, também não fazer nada na Escolinha do Professor Raimundo.
O tema é cansativo, por já devidamente esgotado por quem quer mesmo resolvê-lo, como na Europa. Uma política inteligente, que passe pelas já exaustivamente demonstradas ações educativas de prevenção, acompanhadas pela repressão adequada e a devida punição aos violentos, consubstanciadas em legislação específica, tem sido sonho impossível no Brasil.
Enfim, nada indica que o blablablá interminável sobre a questão encontre solução ainda desta vez. E vamos continuar a ver o torcedor tratado feito gado.
Talvez sirva como discurso para o palanque eleitoral do ministro, e só. Mas, como ensinaram os ingleses, torcedor tratado como animal age como animal.
Só falta votar como tal.

blogdojuca@uol.com.br


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