São Paulo, sábado, 26 de abril de 2008

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Abandonado, Bahia revê boa fase dentro de campo

Sem a Fonte Nova, time tem só a décima maior média de público no Estadual

Líder de quadrangular, time, com menos de 3.000 pagantes por jogo, pode acabar com jejum de títulos de quase uma década

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A torcida abandonou o Bahia. E ela não faz falta para a performance da equipe no gramado.
O clube, sinônimo de arquibancadas cheias, pena na bilheteria depois que a Fonte Nova foi fechada pela tragédia no último jogo da equipe em casa na Série C do Brasileiro de 2007, que matou sete pessoas.
No Baiano-2008, que tem 12 clubes, o Bahia, atuando como mandante em Camaçari e Feira de Santana, tem apenas a décima melhor bilheteria, com média de 2.856 pagantes por jogo (praticamente a metade de média geral do torneio).
Número inimaginável para quem levou mais de 40 mil pessoas por jogo à terceira divisão do Brasileiro, ou que nos últimos anos teve médias de 10 mil a 20 mil torcedores por partida no seu campeonato estadual.
"Nossa torcida ainda não se recuperou do que aconteceu na Fonte Nova, da violência daquele desastre", diz Petrônio Barradas, presidente do Bahia.
Mas o time se recuperou rápido do abandono dos fãs.
O Bahia lidera o quadrangular final do Estadual, com sete pontos. Já bateu seu grande rival, o Vitória, no Barradão. Em toda a competição, só perdeu duas vezes em 25 jogos.
E sucesso dentro de campo é algo que tem estado em falta para o Bahia nesta década. Da elite do Nacional, caiu para a Série C -conseguiu o acesso para a segunda divisão somente no ano passado. No Estadual, levantou a taça de campeão pela última vez na já distante temporada de 2001. Em alguns anos, nem entre os dois primeiros conseguiu ficar, sendo superado por times do interior, seus antigos sacos de pancada.
"Imagine o que faríamos se a torcida estivesse presente", diz o presidente Barradas, que foi apontado pela polícia como um dos responsáveis pelo ocorrido na Fonte Nova, fato com o qual a Justiça não concordou.
O cartola diz ainda que o Bahia sempre foi um campeão de bilheteria por causa do estádio hoje fechado. "Quando você fala em Bahia, fala em Fonte Nova", afirma Barradas. "O torcedor do interior ia até Salvador para ver os jogos do time. Eles não estão acostumados a viajar para o interior. E o da capital também não", completa ele.
Mesmo nos momentos decisivos o Bahia foi desprezado pela sua torcida. Contra o Itabuna, já pelo quadrangular final, apenas 3.840 ingressos foram vendidos para jogo disputado em Camaçari, que nem tão longe de Salvador é -fica a cerca de 50 quilômetros da capital.
Pior ainda foi na fase de classificação. Contra o Atlético de Alagoinhas, o Bahia só conseguiu vender 752 ingressos. Arrecadou assim R$ 7.570,00, o que não deu nem para pagar as despesas do jogo -o clube teve um prejuízo de quase R$ 600.
Uma tragédia para um clube que sempre teve a bilheteria como grande fonte de arrecadação. Na última Série C do Brasileiro, o Bahia registrou arrecadação média de R$ 358 mil, ou praticamente dez vezes o contabilizado neste Estadual.
"Eu não sou daqueles dirigentes que diz que bilheteria não é importante para as receitas do clube. Para o Bahia as rendas são sim importantes. Mas, para falar a verdade, o que mais dói é ver o time jogar sem torcida", diz Barradas, que não considera mais a hipótese de o clube jogar no Barradão, o estádio do Vitória, em Salvador.
"Eles fizeram uma enquete em que 99% dos torcedores deles disseram não querer nossa presença lá. Então a gente também não quer", justifica o presidente do clube tricolor.


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