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XICO SÁ
"Desafio ao Galo" globalizado
De acordo com o manual do secador na Copa, argentinos, ingleses, italianos, alemães e até brasileiros que se cuidem
AMIGO TORCEDOR, amigo secador, acaba de sair o nosso
manual de procedimento e
conduta para a Copa do Mundo.
Uma vez que essa espécie de "Desafio ao Galo" globalizado -com o
devido perdão aos bravos senhores
que organizam o tradicional torneio varzeano de SP- é inevitável,
inevitável mesmo, só nos resta preparar os nossos vodus e afinar o
nosso coro dos contrários.
Como ficaremos mesmo sem os
belos jogos da aldeia, estes embates
que tornam os nossos espíritos
mais livres e universais, que sequemos as grandes potências.
Desde a noite de terça-feira,
quando viu o belo 0 a 0 de Remo x
Náutico, o meu corvo Edgar, mais
novo e estimado pestilento lá de casa, começou a guardar as suas forças para a partida Alemanha x Costa Rica, já na abertura da festa no
Estádio Olímpico.
Secar os donos da casa é o primeiro dos nossos mandamentos na Copa do Mundo. Mas o melhor dos gozos de um secador tarado seria ver o
1 a 0, com gol de mão aos 49 minutos do segundo tempo, de Trinidad
Tobago sobre a Inglaterra. Danem-se seus hooligans!
No mesmo Grupo B, embora não
seja propriamente uma zebra,
torcemos pelo triunfo dos irmãos
paraguaios. Secador que é secador
devota-se à pátria que o embriaga
com os mais animadores dos uísques falsos.
A Costa do Marfim batendo a empáfia Argentina também seria uma
beleza. Sonha macaco, diriam eles
para nosotros.
No Grupo D, o nosso código de
etiqueta recomenda Angola, claro,
afinal de contas chegou a hora de
um africano levantar a taça.
E que Portugal e Felipão voltem
chorando as pitangas por mares
nunca dantes navegados.
Outro jogão que o corvo Edgar
mira ao longe, avistando nuvens de
agouro sobre as tradicionais cantinas de São Paulo, é Itália x Gana.
"Se liga nesta parada, meu amado
dono", grasna o desgraçado, com a
sua prosódia de mano corintiano.
Com o seu bico afiado de rapina,
Edgar aponta na tabelinha colada
na geladeira o dia 13 de junho do
ano da graça de 2006: Brasil x Croácia, 16 horas.
"Chupa, Zagallo", corveja o malcriado.
Mas Edgar não é tão antipatriótico assim, afinal de contas não passa
de um brasileiríssimo urubu da caatinga, que se autodenomina corvo
por gostar de Edgar A. Poe e suas
histórias extraordinárias, coisas
que leio para niná-lo nas piores noites de pânico em São Paulo.
Ele não engole é o Zagallo e as superstições babacas. Tolera o Carlos
Alberto Parreira até os cinco minutos do segundo tempo... mas, quando vê que a teimosia burra se repete, esquece, torce contra mesmo,
até pelos argentinos. Ainda mais
agora, que morre de amores pelo
Carlitos Tevez.
O corvo teme que o Brasil não
passe da primeira fase, vê se pode
uma previsão tão funesta!
Ele narra um pesadelo para os canarinhos: a seleção entrará em
campo carecendo de uma vitória
simples contra os japoneses. Aí caberá ao destino, ah, o destino, fazer
de Zico novamente o "culpado" por
uma tragédia. O time asiático treinado pelo Galinho arrancará um
empate histórico e irá tirar da Copa
os "mercenários", como a minha
ave agourenta trata os possíveis heróis do hexa.
E no Grupo H, Edgar?
O nosso quixotesco recomenda a
Tunísia. E que os espanhóis percam
até o rumo de casa e nunca mais
acertem sequer o caminho de Santiago.
@ - xico.folha@uol.com.br
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