São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2010

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Peer testa sua condição em Paris

Em entrevista, única israelense na elite fala sobre jogar sob escolta e como lida com apupos

Cyrille Cadet/France Presse
Shahar Peer, 19ª do ranking, estica-se para atacar na estreia vitoriosa em Roland Garros

FERNANDO ITOKAZU
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Única tenista de elite de Israel, Shahar Peer, 23, enfrenta situações mais adversas do que as adversárias. Foi alvo de protestos no Torneio de Auckland, na Nova Zelândia, por causa do conflito entre israelenses e palestinos. Ela também teve o visto negado e não pôde jogar o Torneio de Dubai de 2009.
A permissão para entrar nos Emirados Árabes Unidos veio nesta temporada, mas ela foi obrigada a jogar em condições bem adversas.
Apesar disso, a tenista, que serviu dois anos no Exército de Israel, diz que quer voltar a esses dois torneios. Em abril, a 19ª do mundo voltou a ser notícia ao participar da Marcha pela Vida, na Polônia. O evento homenageia as vítimas do campo de concentração de Auschwitz.
Com a bandeira de Israel, a tenista estava acompanhada da mãe e da avó, uma sobrevivente de Auschwitz.
Ontem, após vencer sua estreia em Roland Garros contra a espanhola Nuria Llagostera Vives, Shahar Peer, 23, falou à Folha.

Folha - Você é a única israelense entre as top 100... SHAHAR PEER - Entre as top 200 também.

Há alguma razão para isso?
Acredito que é por ser um país pequeno e por termos que pensar em outras coisas além do esporte. É duro, pois temos que investir muito em outras coisas. Assim, o tênis nunca produz uma safra grande de jogadores. É um jogador agora e um outro depois de dez anos.

Você foi alvo de protestos em Auckland. Pretende voltar a jogar lá?
Sim. É um grande campeonato. Acredito que foi somente um cara que resolveu protestar sobre um monte de coisas, mas não sobre tênis. Infelizmente foi contra mim. Eu procurei colocar esse gesto de lado e me concentrar no que tinha que fazer.

O quanto isso perturba você?
Nunca é legal quando acontece esse tipo de coisa com você. Mas isso acabou me dando mais energia para jogar melhor.

O que aconteceu exatamente em Dubai neste ano?
Neste ano, eles me deram o visto e fiz um bom torneio [caiu nas semifinais diante de Venus Williams]. Mas não foi fácil, eu tinha um monte de seguranças.

É verdade que eram 16 seguranças só para você?
Acho que eram até mais [risos]. A segurança era um fator muito importante lá. Mas eles cuidaram bem de mim. Eles realmente se preocuparam comigo.

E você teve que ficar isolada mesmo?
Fiquei sozinha no hotel, não falava com as outras jogadoras, tinha vestiário particular. Joguei numa quadra específica, nunca vi a quadra central. Não frequentei o lounge das tenistas e não tive contato com outras atletas.

E como você lidou com toda essa situação?
Quando coisas assim acontecem, você precisa encontrar energia para jogar bem. Bati boas jogadoras e encontrei maneiras de jogar bem. Foi uma boa semana.

O que você acha de quando a política interfere no esporte?
Mesmo quando ocorrem coisas negativas, como ter meu visto negado para jogar em Dubai, elas podem se encaminhar para um lado positivo. Tive a chance de estar lá neste ano. Mas é lógico que política não deve interferir.

Você teve problemas em outros lugares também?
Não, só nesses dois.

E como foi visitar a Polônia no mês passado?
Foi emocionante ver minha avó e voltar lá tanto tempo depois.

E ela contou como conseguiu sobreviver ali?
Ela não gosta de contar. Mas sei de algumas partes.


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