São Paulo, domingo, 26 de junho de 2005

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VÔLEI

Levantador quebra ciclo de reinados, firma-se como líder e ganha missão de fazer o time mostrar surpresas até 2008

Capitão, Ricardinho "reinventa" seleção

DA REPORTAGEM LOCAL

O ritual já era conhecido. Em um momento complicado do jogo, o técnico olhava para o lado, pedia substituição e o chamava.
E lá ia Ricardinho mais uma vez atuar por alguns instantes na esperança de beliscar a vaga.
Foi assim na semifinal do Mundial de 2002, no primeiro set. Sua entrada, porém, mudou o jogo.
E, na etapa seguinte, Bernardinho decidiu mantê-lo. Foi a largada para o título mundial. E para uma nova ordem na seleção.
Após cinco anos na reserva do intocável Maurício, Ricardinho se firmou e chegou ao ouro olímpico. Pela primeira vez fora quebrado um "reinado". Maurício nunca havia tido ameaça de fato. Repetia a saga de William, que teve Bernardinho como reserva.
Hoje, Ricardinho tem no braço a tarja de capitão -herdada de Nalbert- e a missão de ajudar a transformar o time mais vigiado e estudado do mundo em surpresa para seguir no topo até Pequim.
"Vamos desenvolver nosso estilo, que é de muita velocidade. Tenho algumas idéias de jogadas, mudanças, mas que serão testadas ao longo do tempo", conta.
Quando Ricardinho inventa alguma coisa, imediatamente usa os companheiros como cobaias.
"Tem umas bolas de meio com o Gustavo, o André Heller. Também penso umas coisas para o André Nascimento, me preocupo com a posição dele", explica.
Uma vez testada, a jogada passa pelo crivo de Bernardinho. O treinador, aliás, também quer inserir novidades no time. Mas não já.
"A possibilidade de não dar certo existe. E se a gente perde agora vira crise nacional", pondera.
A confiança na criatividade de Ricardinho é só um dos pontos que mostram por que Bernardinho o vê como novo líder. O técnico não cansa de elogiar o trabalho e a dedicação do pupilo. Principalmente nos tempos de banco.
"Sempre fui um cara cabeça feita. Eu não me apego muito, tento não sentir tanta dor, senão fica autodestrutivo. Eu sempre tentei estar feliz fazendo o que gosto. E, se dava uma caída, pensava que tinha de sustentar minha família", relembra o levantador.
Nesse período de "espera", Ricardinho também percebeu que precisaria ganhar a confiança do grupo, conquistar alguma liderança para buscar a titularidade. E hoje se gaba do bom relacionamento com todos, "do mais calado ao mais maluco, do mais bagunceiro ao mais "CDF'".
"Ele é um cara tranqüilo, dedicado. Tem esse ar sério, mas também fala um monte de bobagem", brinca Giba, seu melhor amigo e companheiro de quarto no time.
Ricardinho convive com o ambiente da seleção desde 1997. No vôlei está desde os nove anos. Após retirar um tumor benigno da cabeça no fêmur, recebeu recomendação médica para praticar um esporte. Nunca mais parou.
Mas já teve sua vontade de jogar abalada. A primeira grande decepção foi o corte às vésperas de Sydney-2000. A segunda culminou no que classifica como o melhor momento de sua carreira.
"Tive uma contusão nas costas no Mundial. Pensei em desistir. Estava quebrado, não jogava, não participava, não me sentia ali". Até a semifinal com a Iugoslávia.
"O Bernardo diz que não fez nada, que tudo isso é fruto do meu esforço. Mas ele foi muito macho para encarar o Brasil todo, a imprensa, que não admitia o Maurício fora, e dizer "ele está melhor, ele é meu titular'", conta. (MARIANA LAJOLO)


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