|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VÔLEI
Levantador quebra ciclo de reinados, firma-se como líder e ganha missão de fazer o time mostrar surpresas até 2008
Capitão, Ricardinho "reinventa" seleção
DA REPORTAGEM LOCAL
O ritual já era conhecido. Em
um momento complicado do jogo, o técnico olhava para o lado,
pedia substituição e o chamava.
E lá ia Ricardinho mais uma vez
atuar por alguns instantes na esperança de beliscar a vaga.
Foi assim na semifinal do Mundial de 2002, no primeiro set. Sua
entrada, porém, mudou o jogo.
E, na etapa seguinte, Bernardinho decidiu mantê-lo. Foi a largada para o título mundial. E para
uma nova ordem na seleção.
Após cinco anos na reserva do
intocável Maurício, Ricardinho se
firmou e chegou ao ouro olímpico. Pela primeira vez fora quebrado um "reinado". Maurício nunca
havia tido ameaça de fato. Repetia
a saga de William, que teve Bernardinho como reserva.
Hoje, Ricardinho tem no braço
a tarja de capitão -herdada de
Nalbert- e a missão de ajudar a
transformar o time mais vigiado e
estudado do mundo em surpresa
para seguir no topo até Pequim.
"Vamos desenvolver nosso estilo, que é de muita velocidade. Tenho algumas idéias de jogadas,
mudanças, mas que serão testadas ao longo do tempo", conta.
Quando Ricardinho inventa alguma coisa, imediatamente usa
os companheiros como cobaias.
"Tem umas bolas de meio com
o Gustavo, o André Heller. Também penso umas coisas para o
André Nascimento, me preocupo
com a posição dele", explica.
Uma vez testada, a jogada passa
pelo crivo de Bernardinho. O treinador, aliás, também quer inserir
novidades no time. Mas não já.
"A possibilidade de não dar certo existe. E se a gente perde agora
vira crise nacional", pondera.
A confiança na criatividade de
Ricardinho é só um dos pontos
que mostram por que Bernardinho o vê como novo líder. O técnico não cansa de elogiar o trabalho e a dedicação do pupilo. Principalmente nos tempos de banco.
"Sempre fui um cara cabeça feita. Eu não me apego muito, tento
não sentir tanta dor, senão fica
autodestrutivo. Eu sempre tentei
estar feliz fazendo o que gosto. E,
se dava uma caída, pensava que tinha de sustentar minha família",
relembra o levantador.
Nesse período de "espera", Ricardinho também percebeu que
precisaria ganhar a confiança do
grupo, conquistar alguma liderança para buscar a titularidade. E
hoje se gaba do bom relacionamento com todos, "do mais calado ao mais maluco, do mais bagunceiro ao mais "CDF'".
"Ele é um cara tranqüilo, dedicado. Tem esse ar sério, mas também fala um monte de bobagem",
brinca Giba, seu melhor amigo e
companheiro de quarto no time.
Ricardinho convive com o ambiente da seleção desde 1997. No
vôlei está desde os nove anos.
Após retirar um tumor benigno
da cabeça no fêmur, recebeu recomendação médica para praticar
um esporte. Nunca mais parou.
Mas já teve sua vontade de jogar
abalada. A primeira grande decepção foi o corte às vésperas de
Sydney-2000. A segunda culminou no que classifica como o melhor momento de sua carreira.
"Tive uma contusão nas costas
no Mundial. Pensei em desistir.
Estava quebrado, não jogava, não
participava, não me sentia ali".
Até a semifinal com a Iugoslávia.
"O Bernardo diz que não fez nada, que tudo isso é fruto do meu
esforço. Mas ele foi muito macho
para encarar o Brasil todo, a imprensa, que não admitia o Maurício fora, e dizer "ele está melhor,
ele é meu titular'", conta.
(MARIANA LAJOLO)
Texto Anterior: Futebol - Rodrigo Bueno: "Vai Rogério" Próximo Texto: Frase Índice
|