São Paulo, Sábado, 26 de Junho de 1999
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FUTEBOL
Segundo relatório psicológico dos atletas, meia era o mais adequado ao posto de capitão, e Cafu é introvertido
Liderança "afastou" Leonardo da seleção

ALEXANDRE GIMENEZ
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
enviados especiais a Foz do Iguaçu

Se o capitão da seleção brasileira fosse escolhido pelo perfil psicológico de cada atleta, o eleito teria sido Leonardo, e não Cafu.
Afinal, o meia do Milan era, de acordo com estudo elaborado pela comissão técnica do Brasil, entre os 22 atletas inicialmente convocados por Wanderley Luxemburgo para a Copa América, o que mais tinha espírito de liderança.
De acordo com o levantamento elaborado pela comissão técnica entre os 22 atletas inicialmente convocados para a Copa América, o atleta do Milan (Itália) era o que mais tinha características de líder.
A Folha apurou que o relatório psicológico dos convocados define Leonardo como ""líder positivo, que sabe trabalhar para o grupo, embora tenha personalidade forte e contestadora".
Essas características diferem dos demais atletas inicialmente chamados por Luxemburgo.
Enquanto os outros -o atacante Edílson, cortado no domingo, era exceção- formavam um grupo que a própria comissão técnica definia como ""passivo", Leonardo era considerado ""criativo e com idéias próprias".
O lateral-direito Cafu, da Roma (Itália), o novo capitão da equipe, por sua vez, é definido como ""introvertido, disciplinado e obediente". No perfil do jogador, em nenhum momento há menção sobre sua capacidade de liderança.
Mas um dos membros da comissão técnica, que pediu para não ser identificado, explicou que, embora Leonardo tivesse o perfil, de acordo com o trabalho de observação e testes psicológicos feitos com os atletas, mais adequado à função de capitão, ele poderia causar problemas se assumisse o posto.
E cita como exemplo a participação do jogador na decisão da Copa da França, quando o Brasil perdeu o título para os anfitriões.
Na ocasião, o jogador teria feito ""uma boa ação e uma má". A ""má", no entanto, teria tido um peso muito negativo, tornando-se uma das razões da derrota da seleção no Mundial-98.
No vestiário, momentos antes do jogo, ele discutiu com Dunga, então capitão da equipe, dividindo o grupo. Enquanto Leonardo achava que o atacante Ronaldo, apesar de horas antes do jogo ter sofrido uma crise nervosa, deveria jogar, o volante foi contra.
Devido à séria discussão entre os dois -cada um liderando um grupo-, a equipe não teve tempo para entrar em campo antes da final para fazer o aquecimento.
Também devido à briga iniciada no vestiário, a equipe entrou desunida para a decisão e, depois de sofrer o primeiro gol, não teve forças para reagir, já que os jogadores mal se falavam em campo.
A ""boa ação", de acordo com avaliação da atual comissão técnica do Brasil, deu-se após o jogo, quando Leonardo tentou negar a crise nervosa ocorrida com Ronaldo, para preservar seu companheiro de time e os demais integrantes.
Ainda no Mundial da França, Leonardo também teve problemas com Edmundo, quase chegando a trocar agressões físicas com o atacante no vestiário, durante amistoso disputado em Bilbao, na Espanha, dias antes da estréia do Brasil, contra a Escócia.
Na primeira fase da competição, contra o Marrocos, o meia também demonstrou personalidade, ainda de acordo com a atual comissão técnica brasileira, ao tentar evitar que Dunga empurrasse o atacante Bebeto.
Mas seu ato acabou causando problemas dentro do grupo. O volante, irritado, decidiu parar de gritar com os demais, e o Brasil foi derrotado, na partida seguinte, pela Noruega.

Perfil psicológico
O trabalho que traçou o perfil dos principais atletas do Brasil começou antes mesmo de Wanderley Luxemburgo assumir a seleção.
Na Copa-98, o treinador afastou-se temporariamente do Corinthians para acompanhar o Brasil e as demais seleções na França.
A psicóloga Suzy Fleury, que já atuara com Luxemburgo no Palmeiras e no Santos, também esteve na França, para observar o comportamento dos principais atletas -não só os do Brasil, mas os das ""seleções de primeiro escalão".
Terminado o Mundial, ela tabulou os dados e entregou o estudo preliminar a Luxemburgo, que, em agosto, assumiria a seleção.
Desde que o técnico passou a dirigir o time, os jogadores convocados respondem a um questionário elaborado pela psicóloga.
As informações, aliadas às observações da profissional, definem um perfil de cada atleta que contém suas características básicas de personalidade.


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