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São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2003

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A balada de Daiane

Robert Galbraith - 24.ago.03/Reuters
A ginasta Daiane dos Santos executa exercicio no solo durante as finais do Mundial de ginástica, em Anaheim, nos EUA



Carreira nasceu com "dança do macaco", evoluiu com balé clássico, exigiu fim de noitadas e culminou com salsa no solo e samba no pódio


CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Daiane dos Santos, 20, deixou de dançar para treinar. Mas dançou para seduzir os jurados e levantar o público no ginásio Arrowhead Pond, na Califórnia. E comemorou o primeiro título mundial da ginástica brasileira com uma sambadinha no pódio.
"Adoro dançar. E a dança tem tudo a ver com a ginástica", afirmou a atleta gaúcha depois de conquistar o ouro na final do solo no Mundial de Anaheim (EUA).
Ao som da salsa "Rumba para los Rumberos", Daiane executou sua série, a última do torneio, durante 1min28s e tirou a nota mais alta de sua carreira no solo, 9,737, para subir ao lugar mais alto do pódio pela primeira vez neste ano em competições internacionais.
Se uma dança coreografada, associada a um duplo twist carpado (movimento que a atleta desenvolveu com o técnico Oleg Ostapenko, aguarda registro na FIG e que foi avaliado como Super E, de alto grau de dificuldade, pelos jurados do Mundial), rendeu-lhe o ouro em Anaheim, outra a colocou na ginástica artística.
"Ela estava fazendo a dança do macaco. Vi que ela tinha força de braço e era boa ginga. Fizemos um teste e, dois meses depois, ela já ganharia seu primeiro torneio, uma copa escolar, curiosamente no solo, quando também levantou a torcida", diz a técnica Cleusa de Paula, que descobriu Daiane em 95, numa praça no bairro Menino Deus, em Porto Alegre.
Segundo Cleusa, 52, Daiane teve de sambar para aprimorar sua execução. "Treinamos muito, porque ela parecia ter molas nos pés, mas faltava postura em sua dança. Por isso, ensaiamos um pouco de balé clássico e passamos a escolher músicas agitadas."
Foi Cleusa quem levou Daiane para o Grêmio Náutico União, clube do qual a atleta saltou para a seleção brasileira, deixando Porto Alegre e indo para Curitiba.
E, na equipe nacional, ela aprimorou o gosto pela música, porém Daiane incorporou a dança a suas baladas noturnas, que lhe renderam puxões de orelha.
"A Daiane é triste. Ela dava um baile na gente se não ficássemos em cima", diz Eliane Martins, que preside o Comitê Técnico da Confederação Brasileira de Ginástica.
"Quando eu venci, agradeci a Eliane e a Vicélia [Florenzano, presidente da CBG] porque as broncas foram fundamentais. Eu gosto de sair à noite, com os amigos, para dançar, ir ao shopping. Elas ficavam em cima para controlar o meu peso e os horários de treino", diz Daiane, que cursa o segundo ano de educação física.
"Ela sai de carro. Mas a última vez que ela saiu, antes do Pan, teve que voltar de guincho para casa, pois bateram no carro dela. Mas Dai é assim, superextrovertida, quando tem uma folga, ela some", afirma Márcia Rodrigues, assessora de imprensa da CBG.
O único momento em que Daiane parou de dançar foi em 2002, quando uma contusão no joelho direito a tirou de boa parte da temporada, inclusive do Mundial de Debrecen. A mesma contusão voltou a incomodá-la neste ano, forçando a atleta a se submeter a uma artroscopia, antes do Pan.
"Sabia que o joelho não aguentaria até o Mundial. Por isso, fiz a operação. No Pan, não fui bem, mas agora não sou eu só que estou festejando, já que o médico [Mario Namba] e os fisioterapeutas estão radiantes", diz a atleta.
Apesar da vitória em meio a 263 atletas de 57 países e de bater Elena Gomez, então campeã mundial no solo, Daiane diz que não vai esquecer a tarefa na qual teve que "rebolar" para conseguir: extrair uma fala emocionada, em português, do ucraniano Ostapenko, que treina a seleção.
"Ele fala muito pouco e sempre é "Normal", "Vamos repetir". Ontem, quando o abracei, ele me disse: "Você, menina, é muito bom, bom mesmo [sic]."
Na festa oferecida pela FIG, ela foi uma das últimas a sair. "Tinha que comemorar."


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