São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2004

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O reverso da medalha

Ouro de Ricardo e Emanuel e falha de Bimba expõe extremos do desafio brasileiro nos jogos

LUÍS CURRO
ROBERTO DIAS
ENVIADOS ESPECIAIS A ATENAS

Ricardo sobe e, com uma deixada, põe a bola no chão, no lado esquerdo da quadra de seus adversários espanhóis.
Ele e Emanuel fecham o jogo e dão ao Brasil seu primeiro ouro no vôlei de praia masculino.
"Simply the Best", hit da cantora Tina Turner, ecoa pela arena, e o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, posa para fotografia fazendo sinal de número um.
Pano rápido para a lente de aumento. A dupla brasileira, desde o início da competição favorita ao título, abre espaço para que o país alcance hoje seu recorde histórico de medalhas de ouro -na vela, Torben Grael e Marcelo Ferreira têm grande chance de conquistar o título da classe star por antecipação, e, no futebol feminino, a seleção liderada por Renê Simões disputa a decisão com os EUA.
O que parece bem mais distante é superar o número de medalhas de Sydney-2000 (12). Mais longe ainda está o de Atlanta-1996 (15), recorde até aqui.
Em Atenas, foram computadas cinco por enquanto, e os últimos quatro dias colocarão à prova boa parte do que o país mandou de melhor à Grécia: a experiência de Torben, a estrela de Bernardinho e José Roberto Guimarães, o ranking de Rodrigo Pessoa, as cestas de Janeth, a escalada do futebol feminino e o histórico do revezamento 4 x 100 m do atletismo.
Eis o prisma estacionado diante do panorama olímpico brasileiro na reta final dos Jogos de Atenas.
Por um lado, o país tem motivos de sobra para torcer nos últimos dias. E vislumbra a chance de bater recordes de ouro e de registrar avanço no quadro geral dos Jogos Olímpicos. Por outro, faz as contas e sabe que dificilmente dará um salto de medalhas -o que seria, usando a retórica do COB, um claro escorregão qualitativo, pela segunda Olimpíada seguida.
Vê como improvável, também, o crescimento do número de esportes premiados: se todos os favoritos confirmarem seus pódios e não surgir nenhuma surpresa, serão oito modalidades, igual a Sydney-2000, uma a menos do que Atlanta-1996.
E o COB não poderá agora culpar a CBF, como fez na Austrália.
Com a surpreendente ausência da ginástica artística do pódio, não sobra muito de novidade.
Os ouros até aqui vieram de grandes favoritos que haviam sido derrotados em Sydney (Robert Scheidt e Emanuel e Ricardo). Novos títulos tendem a ter o mesmo perfil, como o que Torben tentará carimbar hoje.
Ricardo e Emanuel, por exemplo, são os atuais campeões mundiais e vencedores do Circuito Mundial do ano passado e deste (por antecipação).
"Acredito que todo esporte tem os dois lados da moeda", analisou Emanuel, que acumulava até ontem um histórico de frustração em Jogos Olímpicos.
Aliás, assim como o parceiro Ricardo, também surpreendido negativamente em Sydney -só que, no seu caso, na final.
Até agora, o que o país conseguiu mostrar de novo não se transformou em medalha.
Foi assim com a ginasta Daiane dos Santos na segunda; foi assim com Ricardo Winicki ontem.
Bimba, como é conhecido, chegou ao último dia da classe mistral da vela como líder do campeonato, mas saiu da água com a quarta colocação.
Em Sydney, quando a festa chegou ao fim, o Brasil desfilava com um copo meio vazio à mão.
Em Atenas, o país carrega um copo meio cheio ao ingressar nos últimos quatro dias de disputa.
A reta final promete torcida, medalhas e também um boa dose de mesa redonda.


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