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Corrente migratória
Quadro de medalhas comprova que importar atleta às vezes é vantagem
MARCELO DIEGO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
A australiana Loretta Harrop liderou a prova de triatlo até quase
o final, ontem, mas foi ultrapassada de forma impressionante pela
sua compatriota Kate Allen nos
metros derradeiros. Não só a atleta perdia o ouro, mas também seu
país. Motivo: Allen ficou com o
primeiro lugar defendendo as cores da bandeira austríaca.
A campeã nasceu em Geelong
(Austrália) em 70, casou-se com
um austríaco, adquiriu nova cidadania e passou a competir em 96.
Ontem, cumpriu 1.500 m de natação, 40 km de ciclismo e 10 km de
corrida menos de sete segundos à
frente de Harrop. Foi o primeiro
ouro austríaco em Atenas-2004.
O fenômeno não é inédito, em
uma Olimpíada recheada de casos de atletas nascidos em um país
competindo (e ganhando medalhas) por outro.
Amanhã, o Brasil estará representado no pentatlo moderno por
Samantha Harvey, que nasceu em
Nova York e representou os EUA
no Pan-99. Logo depois, ela se casou com um brasileiro, adquiriu
nova cidadania e faz parte da delegação nacional na Olimpíada.
"Agradeço ao Brasil por me dar
a oportunidade. Ganhar uma medalha em um evento internacional é meu maior sonho, e essa foi
uma chance que meu próprio país
[os EUA] me negou", diz Harvey.
No Centro Olímpico de Schinias, hoje, a canoagem brasileira
estará representada nas semifinais da K2 500 m com Sebastián
Cuattrin (nascido na Argentina) e
Sebastian Szubski (nascido na Polônia). Cuattrin mora no Brasil
desde os cinco anos.
Já Szubski viveu ainda por seis
anos em Portugal antes de desembarcar em solo brasileiro.
Pelas regras do Comitê Olímpico Internacional, para um atleta
trocar de bandeira ele precisa ter a
nova cidadania reconhecida e
passar por um "pedágio" de três
anos sem disputar
eventos no exterior.
Mas há casos como o
de Israel, que mandou uma delegação
de 36 atletas para a
Grécia -45% deles
nascidos em outras
partes do mundo.
Mas todos os esportistas se mudaram para o país ainda
adolescentes e desenvolveram habilidades esportivas lá, diz
o chefe de delegação israelense,
Efraim Zinger. "Em Israel, nós lidamos com algumas questões sobre nosso passado e nossa existência. O esporte é uma ótima
chance de reunir nosso povo."
Em sentido oposto vai Rami
Zur, que nasceu em Israel, mas
também tem cidadania americana. Em Sydney, ele defendeu cores israelenses. Hoje, atuará pelos
EUA na semifinal da canoagem.
"São os países que mais amo."
No caso de Francis Obikwelu,
que defendeu seu país de origem
em Sydney, a causa para trocar de
nacionalidade foi o desamparo.
Ele não aprovou a forma (negligente, diz ele) com que o comitê
nigeriano tratou de uma contusão
sua. Morando e treinando em Lisboa, adotou as cores de Portugal.
Conquistou, pelo novo país, a
prata nos 100 m rasos e hoje disputa a final nos 200 m rasos.
A Suécia ganhou uma prata ontem pelas mãos de um armênio.
Ara Abrahamian foi o primeiro
na luta greco-romana, categoria
84 kg. Ele competiu pela Armênia
até 98, quando trocou de cidadania. Sua motivação foi financeira.
A atração pelo dinheiro também inflou a equipe do Qatar.
País rico pela exploração de petróleo, foi buscar levantadores de
peso búlgaros e corredores quenianos para representá-lo. Angel
Popov, do levantamento de peso,
por exemplo, chegou à Grécia
atendendo pelo nome de Asaad
Said Saif Asaad. A estratégia, porém, ainda não rendeu pódio.
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